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A organização política criminosa não foi desbaratada

Há uma organização política criminosa no Brasil que não foi desbaratada e que não é a mesma coisa do que as várias organizações criminosas de políticos. Você é capaz de entender isso?

Uma organização política criminosa tem objetivos políticos, tem projeto de poder, tem estratégia para tomar o poder (não importa se pela força ou por meios legais, como as eleições) com o objetivo de nunca mais sair do governo. Essa organização política será criminosa se os meios que utiliza forem criminosos: por exemplo, se usar a corrupção para financiar um esquema paralelo por meio do qual pretenda alcançar seus objetivos políticos. Portanto, se cometer crimes comuns com objetivos políticos ou crimes políticos contra a democracia; por exemplo, se quiser, de uma vez ou em doses homeopáticas, desferir um golpe na democracia (como fizeram Chávez e Maduro, na Venezuela; ou como fez a FSB de Putin, na Rússia), a organização criminosa pode ser caracterizada como uma organização política criminosa.

Vamos tomar outro exemplo. Hezbollah e PCC cometem crimes e, assim, são organizações criminosas. Mas o Hezbollah tem objetivos estratégicos de poder enquanto que o PCC tem os objetivos de qualquer quadrilha de narcotraficantes. Hezbollah, portanto, é uma organização política criminosa que, mesmo que também cometa crimes comuns (inclusive em associação lateral com o próprio PCC, como já se sabe), tem como finalidade principal manter a autocracia religiosa xiita, a serviço da teocracia iraniana no caso.

Pode-se então dizer que o Hezbollah é a mesma coisa que o PCC porque ambos cometem crimes? Do ponto de vista estrito do nosso arcabouço legal, sim, de vez que nossas leis não fazem distinção entre crimes políticos (contra o Estado democrático) e crimes comuns (contra o Estado de direito). Do ponto de vista da democracia, não.

A coisa fica um pouco mais confusa quando se trata de comparar organizações criminosas compostas por políticos. Como são integradas por políticos, as pessoas se atrapalham e costumam dizer que é tudo a mesma coisa. Mas não é. Organizações criminosas compostas por políticos que se associam para delinquir, com os objetivos de se eleger, se reeleger, eleger ou reeleger correligionários ou aliados, enriquecer seus membros para se darem bem na vida, são organizações de políticos criminosos, mas não são necessariamente organizações políticas criminosas.

O caso concreto que enfrentamos no Brasil é o da organização política criminosa que dirige de fato o PT, comandada por Lula, Dirceu, Vaccari e mais três dezenas de outros (que compõem o seu “núcleo duro” dirigente). Esta organização não foi desbaratada. Apenas um membro da sua direção máxima continua preso em regime fechado (João Vaccari) e pode ser solto a qualquer momento. Seu principal articulador estratégico (José Dirceu) ainda não voltou para a cadeia e atua com liberdade para operar o esquema que ele próprio montou. E seu chefe supremo (Lula) faz caravanas pelo país, ou seja, já está em campanha eleitoral antecipada (e ilegal) a despeito de ser réu em oito processos e de já ter sido condenado a mais de 9 anos de prisão em um deles.

Isso para não falar de todos os assessores estratégicos de Lula que não foram sequer incomodados pela polícia ou pela justiça. Ou seja, a organização política criminosa, que foi estruturada para bolivarianizar (ainda que à brasileira, quer dizer, para lulopetizar) o nosso regime político, não foi desbaratada e continua atuando à luz do dia. O faz-tudo de Lula, Paulo Okamotto, continua solto e atuando. O seu compadre, Roberto Teixeira, continua solto e atuando, disfarçado de advogado do ex-presidente.

E isso para não falar de todos os subordinados diretos de Dirceu, que continuam livres, leves e soltos para atuar (em geral, mas não só, na rede suja de sites e blogs financiados com dinheiro do crime por ordem do próprio Dirceu).

Nada disso preocupava Janot. Nada disso preocupa Deltan Dallagnol e Carlos Fernando. Todos estes, a serviço do PT (conscientemente ou não), criaram a farsa – com a ajuda da dupla de empresários bandidos Joesley e Wesley – de que Temer era o chefe da maior e mais perigosa organização criminosa do país. E de que Aécio era o segundo chefe criminoso mais perigoso do Brasil. Os moralistas acreditaram depois de tanto bombardeio midiático orquestrado.

Enquanto faziam isso – enquanto confundiam o Hezbollah com o PCC, igualavam Dirceu a Cunha e Geddel a Vaccari, quer dizer, enquanto não viam a distinção entre a organização política criminosa chefiada por Lula e a organização criminosa de políticos comandada por Cabral – Lula disparava nas pesquisas, tendo como principal adversário, até agora, Jair Bolsonaro. Ou seja, criaram as condições perfeitas, não apenas para garantir a liberdade do chefe supremo da organização política criminosa (diluindo suas culpas por ações cometidas contra a democracia no mar de lama da corrupção endêmica da política), mas para deixar que a disputa política fosse capturada pelo campo autocrático.

Os sabidinhos Deltan e Carlos Fernando, devem agora refletir sobre os resultados das pesquisas eleitorais. Depois de suas cruzadas diárias contra a corrupção, como se fosse o maior mal da galáxia, o campeão da corrupção (e da mais perigosa de todas para a democracia, posto que feita para financiar um esquema criminoso de poder) – Lula – aparece disparado na frente, quase chegando aos 40% dos votos. E em segundo lugar vem Bolsonaro, um inimigo declarado da democracia.

E se Lula for impedido pela justiça de concorrer, mesmo assim a disputa ficará aprisionada no campo autocrático, entre o direitista Bolsonaro (o capitão boçal e autoritário, defensor de ditaduras) e a esquerdista Marina (aquela cujo partido tem como operadores principais Molon e Randolfe, mais defensores do PT do que os próprios petistas).

Está aí no que deu tanto jacobinismo, tanta vontade de limpar o mundo de toda sujeira e de reformar a política sem política (e ainda por cima demonizando o sistema político) a partir de uma corporação incrustada no Estado!

Os cenários de 2018 ainda não estão definidos, mas as tendências são extremamente preocupantes para a democracia. Essa milícia (sim, a força tarefa atua como uma milícia, ainda que legal para tratar de assuntos legais, conquanto ilegítima para tratar da condução política do país) formada por procuradores, sem qualquer mandato popular para intervir na política, composta por jovens “tenentes” irresponsáveis chegados a uma toga e analfabetos democráticos, está nos empurrando para o cenário do horror: a captura da disputa política pelo campo autocrático, alijando os democratas.

Pois, depois de tanto ardor purificador, depois de tanta antipolítica da pureza, amplificados pelo jornalismo cafajeste, inclusive do maior complexo de comunicação do país, era óbvio que boa parte da população pensaria assim:

1) “Ora, se todos são corruptos, então é melhor Lula de novo, pois pelo menos se preocupa com os pobres”.

E que outra parte ponderável dos eleitores concluisse:

2) “Já que todos são corruptos, então é melhor votar num candidato corajoso e honesto: Bolsonaro”.

Ou ainda:

3) “Então vamos de Marina, coitada, que pelo menos não se mete em corrupção e merece uma nova chance por ter sido tão maltratada pelo PT”.

E se um desses vencer as eleições de 2018, o que a milícia lavajatista espera poder fazer? Vão armar um novo flagrante contra o presidente eleito? Fala sério!

Vejam o mal que pode fazer o analfabetismo democrático e a estupidez de confundir uma organização política criminosa com organizações criminosas de políticos (que existem endemicamente em qualquer regime democrático, dependendo apenas do nível de capital social das sociedades que parasitam e não da maior ou menor intensidade da sanha persecutória do Estado). A Noruega tem menos corrupção do que a Somália, mas não porque lá existam muitos Deltans e Carlos Fernandos perseguindo implacavelmente os políticos que cometem crimes comuns e sim em razão dos níveis de capital social da sociedade norueguesa, muito maiores do que os da sociedade somalense. É a sociedade da Noruega que não aceita esse tipo de comportamento de um Cunha, de um Cabral, de um Geddel, assim como – com mais intensidade ainda – jamais aceitaria um Lula ou um Bolsonaro.

Ademais, a atuação desses procuradores revela-se praticamente inútil, a depender do arcabouço legal existente, para enfrentar as mais perigosas organizações criminosas que existem no planeta: as organizações políticas criminosas. Centenas de Deltans e Carlos Fernandos não poderiam fazer nada na Rússia deste século 21, diante da atuação da organização política criminosa chamada FSB, cujo projeto é autocratizar o regime russo, colocando na chefia do Estado um novo czar chamado Vladimir Putin. Assim como não poderiam fazer nada na Turquia de Erdogan. Assim como não poderiam fazer nada na Venezuela chavista de Maduro, a não ser fugir para a Colômbia (como teve de fazer a procuradora Luisa Ortega). Assim como não puderam fazer quase nada para desbaratar a organização política criminosa que existe no Brasil.

É tão difícil assim entender isso?

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