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Algumas diferenças entre petistas e bolsonaristas

A descrição abaixo não se aplica aos eventuais eleitores do PT ou de Bolsonaro, mas aos militantes-full, petistas e bolsonaristas.

Os petistas são cínicos. Os bolsonaristas são apenas rudes.

O neopopulismo lulopetista é mais sofisticado do que o populismo-autoritário de Bolsonaro. Ambos representam forças políticas agressivas e muito perigosas para a democracia.

Há subterrâneos no petismo, como as milícias políticas, travestidas de movimentos sociais, chamadas MST e MTST. E há também um “partido interno”, composto por elites dirigentes que ainda são fiéis ao marxismo-leninismo. Mas o bolsonarismo, muito mais ameaçador do que o oportunismo eleitoreiro de Messias Bolsonaro, é matéria em estado putrefato que está decantada, há milênios, no poço da cultura patriarcal. Nessa lama imunda estão as matrizes dos preconceitos, dos anti-valores humanos e do ódio à democracia.

Bolsonaristas são mais honestos e menos descarados do que os petistas, mas não por isso menos nocivos às liberdades civis e aos direitos políticos.

Os petistas têm organização política centralizada, enraizamento social, estratégia formulada, narrativa ideológica estruturada e recursos de toda ordem que foram estrategicamente estocados (seguindo a orientação de fazer a “revolução pela corrupção”). Os bolsonaristas não têm nada disso: são hordas de pequenos predadores (jihadistas que tomam a política como uma espécie de religião) que, em circunstâncias favoráveis, como as criadas – por enantiodromia – pela própria avidez pelo poder a qualquer preço dos petistas, podem desfechar um ataque distribuído de clones ao coração do regime democrático (como um enxame de nanopartículas).

Os petistas adotaram a via eleitoral, para usar a democracia contra a própria democracia, sem pretenderem, entretanto, abolir a eletividade (eles querem se eternizar no poder vencendo seguidamente eleições para ir alterando, progressivamente, o DNA da democracia, numa linha bolivarianizante à brasileira: seu propósito é conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido). Já os bolsonaristas esperam usar o gancho da vitória eleitoral de Bolsonaro para desfechar um golpe contra a democracia no curto prazo: imaginam que, sem base política suficiente, dobrarão o parlamento e o judiciário com o apoio de militares e policiais intervencionistas e de militantes armados.

Lula controla os petistas. Bolsonaro usa e é usado pelos bolsonaristas, mas está longe de poder controlá-los: se ele for eleito e não fizer o que prometeu, tentarão matar o seu mito, trocando-o por outro aventureiro autoritário, de preferência de farda.

O petismo, provavelmente, perdurará por muito tempo por força da reprodução de uma cultura política específica nos clusters onde se enraizou: nos partidos e organizações de esquerda que atuam como linhas auxiliares do PT, nas universidades, nos sindicatos, centrais e associações profissionais, nos chamados movimentos sociais, nos movimentos de direitos humanos e nos movimentos setoriais ou das chamadas “minorias” sociais (gênero, cor, LGBT etc.), em grande parte das ONGs (que atuaram nos governos Lula e Dilma como organizações neo-governamentais), nos órgãos de imprensa (nas áreas de reportagem e jornalismo), em algumas bancas de advocacia e em parte do Ministério Público, nos meios artísticos e culturais, no staff de organismos internacionais do sistema das Nações Unidas com representação no Brasil, nas organizações latino-americanas alinhadas ao bolivarianismo e no funcionalismo público de instâncias governamentais (sobretudo já ocupadas pelo PT). O bolsonarismo, que não tem quase nada disso – posto que floresceu, em grande parte, nas mídias sociais, com mais intensidade depois das grandes movimentações pelo impeachment e só virou alternativa política a partir da candidatura de Jair Bolsonaro – pode ou não virar uma força política duradoura dependendo do que acontecerá durante e depois das eleições de 2018.

O petismo – vença ou não as eleições de 2018 – continuará apostando na via neopopulista, esperando algum dia voltar ao poder pelo voto (vai se refazer, no Brasil, se preciso começando do zero, como as FARC estão fazendo na Colômbia). Já o bolsonarismo, se Bolsonaro não vencer a eleição no primeiro turno (pois no segundo isso é bastante improvável), não apostará mais no populismo-autoritário do seu candidato (que não passa de um oportunista-eleitoreiro). Tende a se transformar em outra coisa, pior, isolando-se numa extrema-direita francamente antidemocrática e intervencionista (questionando, inclusive, a validade da via eleitoral, como já fazem alguns intervencionistas que sabem que Bolsonaro, mesmo vencendo no primeiro turno, não poderá governar por falta de base congressual, sem fazer amplas alianças que desfigurarão sua plataforma). De todo modo, o bolsonarismo não se extinguirá no curto prazo e a democracia precisará aprender a conviver com os pós-bolsonaristas e a metabolizá-los.

P. S.: Um comentário (veja abaixo), de um provável bolsonarista chamado Marcelo Cunha, de certo modo, confirma o artigo:

“Kkkk espera só comunista do inferno…”

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