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Apostando na rede

Só a multiplicidade dos laços fracos pode regenerar o tecido social que foi esgarçado – ou reconstituir o capital social que foi dilapidado – pela política adversarial do PT. Laços fortes não farão isto. Iniciativas voluntárias de estabelecer conversações, lançar pontes, construir atalhos entre clusters, não farão isso. Até porque é impossível, quando as correntes interativas estão bagunçadas como agora, conseguir que tais estímulos se retroalimentem e se amplifiquem por dinâmicas próprias de rede. E é óbvio que uma pregação centralizada nesse sentido – tipo um novo Gandhi ressurgido fazendo uma grande marcha do sal – será menos eficaz ainda. Tem que deixar a fermentação fermentar. E qualquer iniciativa pia de oferecer a própria face, estender a mão, tentar conversar amistosamente, sempre válida na dimensão interpessoal será tão inútil em termos sociais quanto tentar ganhar no papo e na boa-vontade os fiéis do Estado Islâmico. É preciso entender que só há uma máfia no governo com tanta resiliência (já dura 13 anos) porque há uma base social cativa, ou seja, porque existem agentes cujas consciências foram colonizadas. Não há argumento racional, nem disposição emocional, capazes de converter fieis jihadistas ofensivos infectados com o malware de lado (um lado contra o outro lado), que adotaram o duplipensar. É claro que, mais cedo ou mais tarde, o tecido social esgarçado vai começar a se regenerar e dizer isso é confiar na rede social (quer dizer no sistema constituído por nossas múltiplas interações, sobretudo fortuitas). Mas confiar na rede é apostar na rede e a rede não é um instrumento para fazer a mudança: ela já é a mudança. Então não adianta forçar ou programar um tipo de ação dirigida a um objetivo compassivo, como salvar as almas da geena. É a interação entre os que interagem – e não a ação sobre os que não interagem a não ser dentro dos clusters dos que professam a mesma fé – que resolverá o problema.

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