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Aprenda a distinguir dois tipos de corrupção

Perguntas ao João Corrupto

Como distinguir a corrupção endêmica feita por políticos para se dar bem na vida da corrupção com motivos estratégicos de poder (para autocratizar o regime) feita pelo PT?

É simples. Escolha um corrupto comum qualquer de sua estimação, hehe – pode ser Cunha, Cabral, Renan ou até Temer – e faça as seguintes perguntas (vamos chamar esse corrupto imaginário, tradicional representante de nossa velha “classe política”, de João Corrupto).

Caro João Corrupto:

1 – Você organizou um sistema centralizado de compra de representantes eleitos, falsificando a correlação de forças emanada das urnas?

2 – Você montou estruturas ilegais de poder para nunca mais sair do governo, realizando ações para enfrear o processo de democratização? Por exemplo:

a) Praticou espionagem?

b) Montou equipes de especialistas para fabricar dossiês contra adversários?

c) Patrocinou uma rede suja de veículos de comunicação (ditos alternativos) para difundir e replicar falsas versões?

d) Alugou pessoas para escrever a favor do governo e detratar as oposições?

e) Pagou agentes para ganhar ou recrutar e treinar militantes para os círculos de um “Partido Interno” (a direção de facto do seu partido) e ameaçar ou neutralizar pessoas que se tornam obstáculos à consecução dos seus planos criminosos ou antidemocráticos?

3 – Você aproveitou a corrupção endêmica no sistema político (ambiente favorável à prática de crimes comuns) para implantar uma estratégia de conquista de hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo seu partido? Se sim (ou se você não entendeu bem a pergunta) responda as questões abaixo (que você pode ter planejado ou executado):

a) Pensou em (ou tomou iniciativas para) estabelecer o controle partidário-governamental (disfarçado de social ou civil) dos meios de comunicação e da internet?

b) Planejou instaurar forças de segurança militarizadas (guardas nacionais) sob o controle do governo e não como entes de Estado?

c) Propôs instituir a partidocracia (voto em lista pré-ordenada, fidelidade partidária e financiamento exclusivamente estatal de campanhas)?

d) Criou ou tentou criar novas instâncias participativas, dirigidas pelo partido do governo (via movimentos sociais que atuam como correias de transmissão partidária), para cercar a institucionalidade vigente e subordinar a dinâmica social à lógica do Estado aparelhado?

e) Promoveu alianças internacionais por meio de uma política externa ideológica, de alinhamento com regimes antidemocráticos, ditatoriais e protoditatoriais?

4 – Você apoiou com recursos públicos nacionais (de origem lícita ou ilícita) regimes antidemocráticos (como Angola e Cuba) e financiou candidaturas de autocratas em outros países (como Venezuela e El Salvador) contra as sociedades democráticas desses países?

5 – Você apoiou e se associou a organizações que tinham ou têm como propósito instalar ditaduras em outros países, seja pela via armada, seja pela via eleitoral (como as FARC, a Frente Farabundo Marti, a Frente Sandinista etc)?

Faça ao João Corruto essas cinco perguntas. Se ficar difícil obter respostas, você pode ser ainda mais direto:

Afinal, quanto do dinheiro que você roubou, João Corrupto, você repassou para os irmãos Castro, Chávez ou Maduro, Daniel Ortega, Evo Morales, Rafael Correa, Mauricio Funes, Zé Eduardo (de Angola)?

Quantos dirigentes do seu partido tiveram que ser sequestrados, torturados e mortos (tipo assim Celso Daniel) para ficar de boca fechada?

Putz, João Corrupto? Você não fez ou nunca pensou em fazer a maioria dessas coisas?

Então você é apenas um corrupto tradicional mesmo. Você, provavelmente, é um dos responsáveis pelo apodrecimento do nosso sistema político. Mas ainda tem muito que aprender para se transformar numa ameaça letal à democracia.

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