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As pessoas não querem mais ser tapeadas

Este artigo foi publicado horas antes das revelações das “ações controladas” da polícia federal. Não é necessário alterar uma vírgula do que se disse aqui.

Quase um pré-manifesto

Atenção, pessoal. Não é mais como era antes, quando saídas prussianas ou transições pelo alto eram possíveis. A sociedade mudou. A sociedade do século 21 não cabe mais dentro do Estado do século 17 e não pode ser contida por ele na marra ou pela manipulação que se aproveitava tradicionalmente da falta de transparência e da impossibilidade de accountability. Agora não dá mais para fazer isso: as sociedades estão cada vez mais interativas, as pessoas estão permanentemente conectadas em tempo real e tudo se sabe mais cedo do que mais tarde.

Qualquer pessoa que não seja desprovida totalmente de inteligência e não seja bandida, sabe que chega! Já deu.

É claro que nenhum cidadão responsável está pensando em explodir tudo de uma vez, aderir a uma perspectiva aventureira elegendo um maluco para salvar a pátria ou adotar uma solução de força ou intervencionista. Ainda existem democratas no Brasil e os democratas sabemos que não há saída fora da democracia. Portanto, uma transição é necessária. Sim, uma transição é necessária, mas ela exige um novo pacto para reger as relações Estado-sociedade, não a subordinação bovina da sociedade a um Estado literalmente comandado por bandidos de colarinho branco.

Se ficar claro que somos governados, legislados e julgados por bandidos, não haverá mais condições de garantir a chamada coesão social a partir do funcionamento das instituições e do trololó político-jurídico dos privilegiados com mandato.

E as pessoas estão ficando cansadas de ser enganadas. O povo não é burro e sabe que está sendo enrolado:

a) quando as 10 Medidas Contra a Corrupção são estraçalhadas e ninguém fala mais nisso;

b) quando o Senado faz uma votação total e ridiculamente fake para por fim ao foro privilegiado e o assunto é esquecido;

c) quando se aprova um projeto de lei intempestivo para, supostamente, coibir o abuso de autoridade, mas na verdade para coibir a força-tarefa da Lava Jato e o juiz Moro e para impedir, na prática, a colaboração com a justiça (delação premiada), com o fito de inviabilizar a descoberta dos verdadeiros chefes;

d) quando se faz de tudo e mais um pouco para que as investigações não cheguem aos tribunais superiores e, sobretudo, aos bancos (já que ninguém é tolo a ponto de acreditar que centenas de milhões de dinheiro sujo tenham circulado para baixo e para cima, dentro e fora do país, apenas em cuecas e mochilas);

e) quando se tenta ilegalizar as prisões preventivas ou encurtar seus prazos para impedir ou diminuir a velocidade das investigações sobre os poderosos;

f) quando se retira recursos, humanos, materiais e financeiros, da Polícia Federal para retardar as investigações;

g) quando se tenta aprovar o financiamento exclusivamente estatal de campanha e, sobretudo, o voto em lista fechada e pré-determinada, para garantir a impunidade dos atuais investigados (que, desmoralizados, não seriam eleitos pelas pessoas e sim pelo voto de legenda).

As pessoas sabem que, usando a ideologia do legalismo e a pretexto de um garantismo jurídico retrógrado, membros do STF, justificados por analistas sórdidos, estão em guerra aberta contra a Lava Jato, mas igualmente sabem que esse não é seu verdadeiro objetivo e sim preservar a qualquer preço um sistema político que apodreceu.

As pessoas sabem, também, que a organização criminosa (montada pela verdadeira direção do PT, sob o comando de Lula e a chefia operacional de Dirceu) não foi desbaratada e continua atuando tranquilamente, defendida por grandes bancas de advogados, com forte retaguarda dentro das instituições (do Estado e da sociedade, inclusive nos meios de comunicação) e recursos de monta guardados em contas secretas em nome de laranjas e offshores no Brasil e no exterior.

As pessoas sabem, ainda, que estão sendo tapeadas pelas mega-delações midiáticas (na verdade, mega-operações de despistamento), como a da Odebrecht, a da Andrade Gutierrez e de outras empreiteiras que não apenas roubaram ou pagaram propina a políticos e partidos brasileiros, mas atuaram abertamente para fraudar a vontade democrática de povos de vários países, alinhando-se a forças ditatoriais, ao castrismo e ao bolivarianismo.

As pessoas sabem, inclusive, que os acordos de leniência assinados com empreiteiras bandidas como a Odebrecht – celebrados a pretexto de garantir empregos e salvaguardar a expertise de empresas nacionais – são, na verdade, acordos de conivência. Nem essas empresas revelaram tudo que deviam confessar, como ainda tentaram nos enganar repetindo a falsa versão de que tudo não passou de caixa 2, que todos praticam no Brasil há mais de 30 anos. Além disso, as famiglias que as dirigem e as transformaram em verdadeiras organizações criminosas, esperam continuar controlando-as, com o objetivo de reproduzir, no médio prazo, o mesmo tipo de ação delitiva.

Por último, as pessoas sabem que qualquer manobra para garantir a elegibilidade de Lula – o chefe da organização criminosa – oferecendo-lhe a tábua de salvação do palanque de 2018 para escapar da justiça, será o ponto de ruptura com a atual ordem democrática. Se Lula conseguir fugir para frente, escorregando pelos desvãos da carcaça podre do velho sistema político, será sinal de que não vivemos mais na plenitude de um Estado democrático de direito.

Se continuar a orquestração do velho sistema (inclusive com a participação destacada de membros dos tribunais superiores) para barrar a Lava Jato a todo custo, caminharemos para um cenário de instabilidade política no curto prazo, possível crise social no médio prazo e, nas franjas, a partir algum momento, a progressão surda de manifestações moleculares crescentes e disruptivas de desobediência civil, infelizmente, nem sempre pacíficas.

Ora, por que não? Se o roubo é livre, vamos todos roubar, pensarão muitos. Por que só os sem-poder deveremos obedecer as leis, perguntarão outros. Se as autoridades não as respeitam… ninguém deverá respeitá-las.

Podemos apostar que, se tudo isso que se desenha tenebrosamente no horizonte de eventos mais próximo, vier a acontecer, muitos de nós, da oposição popular que se formou na resistência democrática ao projeto autocrático do PT, seremos os primeiros – sem qualquer articulação ou organização centralizada – a chamar à desobediência civil pacífica a um sistema que se tornou ilegítimo.

Não duvidem que multidões incalculáveis de pessoas possam se constelar novamente nas ruas de todo pais. E num grau de contundência jamais visto, nem em junho de 2013, nem nas memoráveis manifestações de 15 de março, 12 de abril, 16 de agosto de 2015 e 13 de março de 2016 que levaram ao impeachment da vigarista Dilma Rousseff.

Poderá ocorrer uma rebelião distribuída no Brasil, com consequências realmente imprevisíveis.

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