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Como as democracias morrem – 7. A desintegração

Estamos publicando, em capítulos, a tradução em português do livro How Democracies Die, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (2018), dois cientistas políticos da Universidade de Harvard, sobre como os líderes eleitos podem subverter gradualmente o processo democrático para aumentar seu poder. O livro estava na lista de bestsellers do The New York Times. A tradução – Como as democracias morrem – é de Renato Aguiar e foi publicada pela Zahar (Rio de Janeiro, 2018).

Já foram publicados:

Introdução

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Segue o Capítulo 7.

7. A desintegração

NA TARDE DE SÁBADO, 13 de fevereiro de 2016, um jornal de San Antonio relatou que o magistrado Antonin Scalia, da Suprema Corte, havia falecido enquanto dormia numa viagem de caça no Texas. As mídias sociais entraram em erupção. Em minutos, um antigo quadro republicano e fundador da publicação jurídica conservadora The Federalist tuitou: “Se Scalia de fato morreu, o Senado tem que se recusar a confirmar quaisquer magistrados em 2016 e deixar a nomeação para o próximo presidente” (1). Pouco depois, o diretor de comunicações do senador republicano Mike Lee tuitou: “O que é menos que zero? As chances de Obama conseguir designar um magistrado da Suprema Corte para substituir Scalia” (2). No começo da noite, o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, divulgou uma mensagem enviando suas condolências à família de Scalia, mas também declarando: “Esta vaga não deve ser preenchida até que tenhamos um novo presidente.”

Em 16 de março de 2016, o presidente Barack Obama indicou o juiz de apelação federal Merrick Garland para ocupar a vaga de Scalia. Ninguém duvidou que Garland fosse um candidato qualificado, e, segundo todos os relatos, era uma pessoa ideologicamente moderada. Porém, pela primeira vez na história, o Senado dos Estados Unidos se recusou até mesmo a considerar a indicação de um presidente eleito para a Suprema Corte (3). Como já vimos, o Senado sempre havia usado de reserva institucional ao exercer sua prerrogativa de aconselhamento e consentimento na seleção de magistrados para a Suprema Corte: desde 1866, todas as vezes que um presidente tomou a iniciativa de preencher uma vaga antes da eleição de seu sucessor, teve permissão para fazê-lo (4).

Porém, o mundo tinha mudado em 2016. Então, num abandono radical do precedente histórico, os republicanos negaram a autoridade do presidente para nomear um novo juiz. Tratava-se de um exemplo extraordinário de violação da norma. Um ano depois, um republicano estava na Casa Branca, e os republicanos conseguiram o que queriam: a indicação de um magistrado conservador, Neil Gorsuch, que eles rapidamente aprovaram. O Partido Republicano, GOP, pisoteara uma norma democrática básica – na verdade, roubara uma cadeira da Suprema Corte – e saíra ileso.

As tradições que sustentam as instituições democráticas americanas estão se desintegrando, abrindo um vazio desconcertante entre como nosso sistema político funciona e as expectativas há muito arraigadas de como ele deve funcionar. À medida que nossas grades flexíveis de proteção foram se enfraquecendo, nós nos tornamos cada vez mais vulneráveis a líderes antidemocráticos.

Donald Trump, um violador em série de normas, é amplamente (e corretamente) criticado por investir contra as regras democráticas do país. Contudo, o problema não começou com Trump. O processo de erosão das normas começou décadas atrás – muito antes de Trump ter descido a escada rolante para anunciar sua candidatura presidencial.

NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS de 1978 no noroeste da Geórgia, um jovem Newt Gingrich tentou pela terceira vez um mandato distrital fora de Atlanta. Depois de duas derrotas como um autoidentificado liberal republicano, ele finalmente ganhou – dessa vez como conservador, capturando um distrito que não estivera nas mãos dos republicanos nos últimos 130 anos. O ar acadêmico de Gingrich, com seu par de óculos (ele tinha sido professor de história na universidade local), discurso jovial, cabeleira espessa e costeletas cerradas, ocultava uma brutalidade que ajudaria a transformar a política norte-americana.

Em sua campanha de junho de 1978, Gingrich conhecera um grupo de universitários republicanos num Holiday Inn do aeroporto de Atlanta, cortejando-os com uma visão mais dura e impiedosa da política do que eles estavam acostumados. Ele descobriu uma plateia sedenta. Gingrich advertiu os jovens republicanos, dizendo para pararem de usar “linguagem de escoteiro, que é muito boa em volta de uma fogueira de acampamento, mas uma porcaria em política” (5). E continuou:

Vocês estão lutando uma guerra. É uma guerra pelo poder… Este partido não precisa de mais uma geração de quase líderes precavidos, prudentes, cuidadosos, moles e irrelevantes… O que realmente precisamos é de gente disposta a mostrar o seu valor no meio de uma pancadaria… Qual o principal objetivo de um líder político?… Construir maioria.

Quando Gingrich chegou a Washington, em 1979, sua visão da política como guerra estava em desacordo com a da liderança republicana. O líder da minoria na Câmara, Bob Michel, uma figura afável que fazia carona solidária para casa em Illinois nos recessos parlamentares com seu colega democrata Dan Rostenkowski, era comprometido com o respeito às normas estabelecidas de civilidade e cooperação bipartidária (6). Gingrich rejeitava essa abordagem como demasiadamente “mole”. Para ele, fazer uma maioria republicana exigiria promover uma forma mais dura de política (7).

Apoiado por um pequeno mas crescente grupo de lealistas, Gingrich lançou uma insurreição cujo objetivo era instilar uma abordagem mais combativa no partido (8). Tirando vantagem de uma nova tecnologia de mídia, a C-Span, Gingrich “usava adjetivos como se fossem pedras” (9) empregando deliberadamente uma retórica de exageros. Ele descrevia o Congresso como “corrupto” e “doente”. Questionava o patriotismo de seus rivais democratas (10) Chegava a compará-los com Mussolini e os acusava de tentar “destruir o nosso país” (11). Segundo um ex-líder do Partido Democrata na Geórgia, Steve Anthony, “as coisas que saíam da boca de Gingrich… nós nunca [tínhamos ouvido] aquilo antes de nenhum dos lados. Gingrich ia tão longe em seus exageros que o fator choque paralisou a oposição por alguns anos” (12).

Através de um novo comitê de ação política, o Gopac, Gingrich e seus aliados trabalharam na difusão dessas táticas em todo o partido. O Gopac produziu mais de 2 mil fitas de educação e treinamento, distribuídas a cada mês para colocar os recrutas da “Revolução Republicana” de Gingrich na mesma página retórica. O ex-secretário de imprensa de Gingrich, Tony Blankley, comparou a tática àquela usada pelo aiatolá Khomeini em sua marcha para o poder no Irã (13). No começo dos anos 1990, Gingrich e sua equipe distribuíram memorandos para os candidatos republicanos, instruindo-os a usar certas palavras negativas para descrever os democratas, incluindo patético, doente, grotesco, deslealdade, contra a bandeira, contra a família e traidores (14). Este foi o começo de uma mudança sísmica na política norte-americana.

Mesmo quando ascendeu na estrutura de liderança republicana – tornando-se coordenador em 1989 e presidente da Câmara em 1995 –, ele se recusou a abandonar sua retórica linha-dura. E, em vez de repelir o partido, atraiu-o para si. Quando se tornou presidente da Câmara, Gingrich era um modelo para uma nova geração de legisladores republicanos, muitos dos quais eleitos em 1994, na votação esmagadora que deu ao GOP a primeira maioria na Câmara em quarenta anos. O Senado foi igualmente transformado pela chegada dos “senadores Gingrich” (15) cuja ideologia, aversão ao compromisso e disposição para obstruir o trabalho legislativo ajudaram a acelerar o fim dos “costumes do povo” tradicionais do órgão.

Embora poucos tenham percebido na época, Gingrich e seus aliados estavam na crista de uma nova onda de polarização enraizada no descontentamento público crescente, sobretudo entre as bases republicanas. Gingrich não criou essa polarização, mas foi um dos primeiros republicanos a explorar a mudança do sentimento popular. E sua liderança ajudou a estabelecer a “política como guerra” como estratégia dominante do GOP. Segundo o congressista democrata Barney Frank, Gingrich

transformou a política americana de uma em que as pessoas presumem a boa vontade de seus oponentes, mesmo quando discordam, em uma na qual tratam aqueles de quem discordam como maus e imorais. Ele foi uma espécie de macarthista bem-sucedido (16).

A nova abordagem jogo duro dos republicanos foi manifesta durante a presidência de Bill Clinton. Em abril de 1993, aos quatro meses do primeiro mandato de Clinton, o líder da minoria no Senado, Robert Dole, afirmou que a modesta vitória popular de Clinton significava que o tradicional período de lua de mel em que o novo presidente é tratado com deferência não estava garantido (17) passando a orquestrar, em seguida, a obstrução da iniciativa de 16 bilhões de dólares do presidente para geração de empregos. O uso da obstrução, que já havia aumentado marcadamente nos anos 1980 e começo dos anos 1990 (18) alcançou o que um ex-senador descreveu como níveis “epidêmicos” nos primeiros dois anos do governo Clinton (19). Antes dos anos 1970, o número anual de moções de conclusão apresentadas para interromper debates no Senado – um bom indicador de tentativas de obstrução – nunca foi superior a sete; em 1993-94, tinha chegado a oitenta (20). Os republicanos no Senado também pressionaram agressivamente por investigações sobre uma série de escândalos questionáveis, em especial uma transação imobiliária de Clinton no Arkansas nos anos 1980 (a assim chamada investigação Whitewater). Esses esforços culminaram, em 1994, com a nomeação de Kenneth Starr como conselheiro independente. Uma sombra pairaria sobre toda a presidência de Clinton.

Porém, a política do jogo duro chegou ao seu nível máximo após a vitória esmagadora dos republicanos na eleição de 1994. Com Gingrich então presidente da Câmara, o GOP adotou uma abordagem “sem concessões” – um sinal de pureza ideológica para a base do partido – que rejeitava deslavadamente a reserva institucional em nome da busca pela vitória por “quaisquer meios necessários”. Republicanos da Câmara se recusaram a fazer concessões, por exemplo, em negociações sobre orçamento, levando a uma paralisação do governo de cinco dias em 1995 e a uma de 21 dias em 1996 (21). Foi uma mudança de rumo perigosa. Sem reserva institucional, os freios e contrapesos dão lugar a impasse e disfunção.

O apogeu do jogo duro constitucional dos anos 1990 foi a votação na Câmara do impeachment do presidente Bill Clinton em dezembro de 1998. Apenas o segundo impeachment da história presidencial dos Estados Unidos, a iniciativa batia de frente com normas há muito estabelecidas. A investigação, que começara com o beco sem saída do inquérito Whitewater e por fim passara a ter como ponto central o testemunho de Clinton sobre um caso fora do casamento, nunca revelou nada que se aproximasse dos padrões convencionais do que constitui crime ou delito de alta gravidade. Nas palavras do constitucionalista Keith Whittington, os republicanos acusaram o presidente com base “em uma tecnicalidade” (22). Os membros republicanos da Câmara também conseguiram passar o impeachment sem apoio bipartidário, o que significava que Clinton quase certamente não seria condenado pelo Senado (onde ele foi inocentado em fevereiro de 1999). Num ato sem precedentes na história dos Estados Unidos (23) os republicanos da Câmara dos Representantes tinham politizado o processo de impeachment, rebaixando-o, nas palavras dos especialistas em Congresso Thomas Mann e Norman Ornstein, “à condição de apenas mais uma arma nas guerras partidárias” (24).

Embora Gingrich possa ter liderado o assalto inicial contra a tolerância e a reserva mútuas, a decadência para a política como guerra só se acelerou depois que ele saiu do Congresso em 1999. Apesar de ter sido sucedido na presidência da casa por Dennis Hastert, o poder real ficou nas mãos do líder da maioria, Tom DeLay. Apelidado “o Martelo”, DeLay compartilhava a implacabilidade sectária de Gingrich. Ele o demonstrou, em parte, no Projeto K Street, que juntava firmas de lobby com agentes republicanos e instituía um sistema chamado pay-to-play de favorecimento, que recompensava lobistas com legislações baseadas em seu apoio aos mandatários do GOP (25). O congressista republicano Chris Shays descreve a filosofia de DeLay em termos francos: “Se não for ilegal, faça” (26). O resultado foi um desgaste ainda maior das normas. “Reiteradamente”, observou um repórter, DeLay “rompeu a cerca invisível que contém outros sectários” (27). DeLay trouxe a violação costumeira da norma para o século XXI.

NA TARDE DE 14 de dezembro de 2000, depois que Al Gore reconheceu a vitória de George W. Bush na sequência de uma penosa disputa pós-eleitoral, Bush falou ao país da Câmara dos Representantes do Texas. Tendo sido apresentado pelo presidente democrata da Câmara, Bush declarou que havia escolhido falar na Câmara do Texas

porque ela foi um lar para a cooperação bipartidária. Aqui, num lugar onde os democratas têm a maioria, republicanos e democratas trabalharam juntos para fazer o que é certo para as pessoas que nós representamos. O espírito de cooperação que eu vi neste salão é o que nós precisamos em Washington (28).

Este espírito absolutamente não se manifestou. Bush prometera ser um “unificador, não um divisor”, mas a guerra partidária só se intensificou durante seus oito anos de mandato. Pouco antes da posse, DeLay deu ao presidente eleito uma lição de realidade, dizendo-lhe, segundo relatos: “Nós não trabalhamos com democratas. Não vai haver nada desse negócio de unificador-divisor” (29).

O presidente Bush governou marcadamente à direita, abandonando toda e qualquer pretensão de cooperação bipartidária orientado por seu conselheiro político Karl Rove, que havia chegado à conclusão de que o eleitorado estava tão polarizado que os republicanos podiam vencer mobilizando a sua própria base, em vez de buscar eleitores independentes (30). Além disso, exceto pelos acontecimentos na esteira dos ataques do 11 de Setembro e as ações militares subsequentes no Afeganistão e no Iraque, os democratas no Congresso evitaram a cooperação bipartidária em favor de obstruções. Harry Reid e outros líderes do Senado usaram as regras da casa para retardar ou bloquear a legislação republicana, rompendo com precedentes e obstruindo de forma rotineira as propostas de Bush às quais se opunham (31).

Os democratas do Senado também começaram a se afastar da norma da reserva institucional na área de aconselhamento e consentimento, obstruindo um número sem precedentes de indicações judiciárias do presidente Bush, rejeitando-os de cara ou desencorajando-os mediante a não realização de sabatinas (32). A norma de deferência para com as indicações do presidente estava se dissolvendo. Com efeito, segundo o New York Times, um estrategista democrata teria dito que o Senado precisava “mudar as regras básicas… não há obrigação de confirmar alguém só porque a pessoa é especialista ou erudita” (33). Depois que os republicanos recuperaram a maioria no Senado em 2002, os democratas optaram pela obstrução para bloquear a confirmação de várias indicações para tribunais de apelação (34). Os republicanos reagiram com indignação. O colunista conservador Charles Krauthammer escreveu que “uma das grandes tradições, costumes e regras não escritas do Senado é que não se obstrui indicações judiciárias” (35). Durante a 110a Sessão do Congresso, a última do governo de Bush, o número de obstruções chegou a 139,36 o mais alto de todos os tempos – quase o dobro do ocorrido mesmo nos anos Clinton.

Se os democratas abandonaram a reserva institucional para obstruir o presidente, os republicanos o fizeram a fim de protegê-lo. Na Câmara, a prática informal de “ordem regular” (37) que assegura ao partido minoritário oportunidade de falar e de emendar legislações, foi em grande parte abandonada. A parcela de projetos introduzidos sob “regras fechadas” (38) que proíbem emendas aumentou de maneira fragorosa. Como formularam os analistas congressuais Thomas Mann e Norman Ornstein, “normas de conduta duradouras na Câmara… foram rasgadas em nome do objetivo maior de implementar o programa do presidente” (39). O GOP abandonou efetivamente a supervisão do presidente republicano, enfraquecendo a capacidade do Congresso de fiscalizar o Executivo. Embora a Câmara tenha conduzido 140 horas de testemunho sob juramento para investigar se o presidente Clinton havia abusado da lista de cartões de Natal da Casa Branca num esforço para captar novos doadores, ela nunca citou a Casa Branca durante os seis primeiros anos da presidência de George Bush (40). O Congresso resistiu à supervisão da Guerra do Iraque, desencadeando apenas investigações superficiais sobre uma série de casos de abuso, inclusive a tortura na prisão de Abu Ghraib. O cão de guarda do Congresso virou um cachorrinho de estimação, abdicando de suas responsabilidades institucionais (41).

A violação de normas também ficou evidente no âmbito dos estados. Entre os casos mais notórios está o plano de redefinição de distritos eleitorais no Texas em 2003. Segundo a Constituição, os legislativos estaduais podem modificar os distritos congressuais para manter distritos com população igual. Entretanto, existem normas duradouras e amplamente compartilhadas de que a modificação dos distritos deve ocorrer uma vez a cada década, logo após a publicação do censo (42). Há uma boa razão para isso: como as pessoas estão sempre se mudando, o redesenho dos distritos eleitorais que ocorrer posteriormente em determinada década estará baseado em números menos precisos. Embora não haja nenhum impedimento legal para redivisões em meados de década, isso sempre foi raro.

Em 2003, os republicanos do Texas, sob o comando do líder da maioria na Câmara, Tom DeLay, levaram a cabo um plano radical de redesenho distrital fora de ciclo, que, como eles próprios admitiam, objetivava apenas vantagens partidárias (43). Embora o eleitorado texano fosse crescentemente republicano, dezessete dos 32 representantes do estado eram democratas, e muitos deles mandatários reeleitos há muito consolidados. Essa era uma questão importante para os líderes nacionais do GOP porque os republicanos tinham uma maioria estreita na Câmara dos Representantes (229-204). Os democratas só precisariam conquistar treze cadeiras dos republicanos em 2004 para recapturar a Câmara, assim a mudança de posição mesmo que de um punhado de cadeiras seria decisiva.

Sob a direção de DeLay, os republicanos do Texas prepararam um plano de redesenho distrital manipulado para redistribuir eleitores afro-americanos e latinos num pequeno grupo de distritos democratas e, ao mesmo tempo, acrescentar eleitores republicanos em distritos de mandatários democratas, garantindo assim sua derrota (44). O novo mapa deixava seis congressistas democratas especialmente vulneráveis (45). O plano era jogo duro no sentido próprio do termo. Como formulou um analista, “era tão partidário quanto os republicanos julgaram que a lei permitiria” (46).

Seria preciso outra manobra audaciosa para aprovar o projeto de lei texano. A Câmara dos Representantes do Texas exigia um quórum – a presença de dois terços de seus membros – para votar um projeto de lei. E os democratas tinham os votos necessários para não formar quórum. Assim, quando a redefinição dos distritos foi a plenário em maio de 2003, os democratas contra-atacaram com uma manobra incomum: 47 legisladores foram de ônibus para Ardmore, Oklahoma. Eles ficaram lá quatro dias, até a Câmara retirar o projeto (47).

Em resposta, o governador Rick Perry convocou uma sessão especial da Câmara em junho, e, como os democratas estavam exaustos demais para organizar outro esvaziamento do plenário, o projeto de redesenho distrital foi aprovado. O projeto foi, então, para o Senado estadual, onde os democratas, seguindo o precedente de seus colegas da Câmara, tentaram obstá-lo por ausência e pegaram um avião para Albuquerque, no Novo México. Eles ficaram lá mais de um mês, até que o senador John Whitmire (que logo seria conhecido por “Quitmire”, num trocadilho sugestivo de que teria abandonado o barco) desistiu e retornou para Austin. Quando o projeto foi finalmente aprovado, DeLay saiu de Washington para supervisionar o processo de reconciliação, que produziu um plano de redesenho ainda mais radical (48). Um assessor do congressista republicano Joe Barton admitiu num e-mail que se tratava “do mapa mais agressivo que ele jamais tinha visto. Isto… deve garantir que os republicanos mantenham a Câmara seja qual for o ânimo nacional” (49). Com efeito, o plano de redesenho distrital funcionou quase à perfeição. Seis cadeiras congressuais do Texas mudaram de mãos de democratas para republicanos em 2004, ajudando a preservar o controle destes na Câmara dos Representantes (*).

Além do declínio da reserva institucional, a presidência de Bush também assistiu a alguns dos primeiros desafios à norma da tolerância mútua. Para grande crédito seu, Bush não questionou o patriotismo de seus rivais democratas, mesmo quando a histeria antimuçulmana na esteira do 11 de Setembro criou uma oportunidade para isso. Contudo, comentaristas da Fox News e apresentadores de importantes programas de rádio usaram o momento para insinuar que os democratas não eram patriotas. Ocasionalmente, comentaristas começaram a vincular democratas com a Al-Qaeda – como fez Rush Limbaugh em 2006, ao acusar o senador Patrick Leahy de “pegar em armas pela Al-Qaeda” (50) depois que Leahy inquiriu o indicado para a Suprema Corte Samuel Alito sobre uso de tortura pela administração Bush.

Entre as agentes mais descaradas da intolerância sectária no começo dos anos 2000 está Ann Coulter. Coulter escreveu uma série de best-sellers atacando liberais e democratas em linguagem macarthista. Os títulos dos livros falam por si: Slander [Calúnia] (2002); Treason [Traição] (2003); Godless [Ateus] (2006); Guilty [Culpado] (2009); Demonic [Demoníacos] (2011); Adios, America! [Adeus, América!] (2015). Treason, publicado mais ou menos na época da invasão do Iraque, defende Joseph McCarthy e encampa as suas táticas (51). O livro afirma que o antiamericanismo é “intrínseco à visão de mundo” (52) dos liberais e os acusa de terem cometido “cinquenta anos de traição” durante a Guerra Fria. Ao divulgar Treason, Coulter declarou: “Há milhões de suspeitos aqui… estou acusando todo o Partido Democrata” (53). O livro passou treze semanas na lista de best-sellers do New York Times.

A eleição presidencial de 2008 foi um divisor de águas na questão da intolerância partidária. Através do ecossistema de mídia de direita – inclusive a Fox News, o canal de TV a cabo mais assistido dos Estados Unidos –, o candidato democrata Barack Obama foi pintado como marxista, antiamericano e secretamente muçulmano (54). A campanha chegou a promover um esforço contínuo para ligar Obama a “terroristas” como Bill Ayers, um professor de Chicago que fora ativo na organização Weather Underground no começo dos anos 1970 (Ayers promoveu um encontro para Obama em 1995, quando ele preparava sua candidatura para o Senado do Illinois). O programa Hannity & Colmes, da Fox News, tratou da história de Ayers em pelo menos 61 episódios diferentes durante a corrida de 2008 (55).

O mais perturbador nessa campanha, porém, foi que a retórica de intolerância da mídia de direita foi assumida por políticos republicanos de grande expressão. Tom DeLay, por exemplo, declarou que “a não ser que Obama prove que eu estou errado, ele é um marxista” (56) enquanto Steve King, um congressista republicano de Iowa, chamou Obama de “antiamericano” e advertiu que ele levaria o país a uma “ditadura totalitária” (57). Embora o candidato republicano John McCain não tenha empregado esse discurso, ele todavia escolheu uma colega de chapa, Sarah Palin, que o usava. Palin encampou a história de Bill Ayers, declarando que Obama “tinha andado com terroristas” (58). No decorrer da campanha, Palin disse a seus apoiadores que Obama “tinha lançado a sua carreira política na sala de estar de um terrorista doméstico!” (59) continuando: “Este não é um homem que vê a América da maneira como você e eu a vemos… Eu tenho medo de que ele seja alguém que ache a América imperfeita o bastante para trabalhar com um ex-terrorista doméstico que escolheu atacar o seu próprio país.” Seus discursos racialmente codificados induziam gritos de “Traidor!”, “Terrorista!” e até de “Acabem com ele!” nas multidões (60).

A VITÓRIA DE Barack Obama em 2008 fez renascer esperanças de um retorno a um tipo mais civilizado de política. Na noite da eleição, ao reunir sua família no palco em Chicago, o presidente falou generosamente, congratulando McCain por sua carreira heroica de contribuições à nação. Mais cedo, em Phoenix, Arizona, McCain tinha feito um discurso cortês de reconhecimento da vitória de Obama, que ele descreveu como um bom homem que amava seu país, e lhe desejou “uma boa jornada”. Foi um exemplo clássico de reconciliação pós- eleição. Mas havia algo errado em Phoenix. Quando McCain mencionou Obama, a multidão vaiou aos berros, forçando o senador do Arizona a acalmá-la. Muitos olharam para Sarah Palin, que não se envolveu, permanecendo de lado em silêncio total. Embora o palco pertencesse a McCain naquela noite, o tradicional apelo feito aos republicanos para “superar nossas diferenças” com o novo presidente pareceu causar desconforto entre aqueles que tinham se reunido para ouvi-lo.

Em vez de introduzir uma nova era de tolerância e cooperação, a gestão de Obama foi marcada por extremismo crescente e guerra sectária. Questionamentos da legitimidade do presidente, que começaram com jornalistas conservadores secundários, personalidades do rádio e comentaristas de televisão, logo foram incorporados num movimento político de massa: o Tea Party, que começou a se organizar apenas algumas semanas após a posse de Obama. Embora o movimento estruturasse a sua missão em termos de ideias conservadoras tão tradicionais como governo limitado, impostos baixos e resistência à reforma da assistência de saúde, sua oposição a Obama foi muito mais perniciosa (61). A diferença? O Tea Party questionava o próprio direito do presidente de ser presidente.

Duas linhas que rompiam com as normas estabelecidas se desdobraram de maneira consistente no discurso do Tea Party. Uma era que Barack Obama representava uma ameaça para a nossa democracia. Poucos dias após a eleição, o congressista Paul Broun, da Geórgia, advertiu sobre a perspectiva de implantação de uma ditadura comparável à Alemanha nazista ou à União Soviética (62). Posteriormente, ele tuitou: “Sr. Presidente, o senhor não acredita na Constituição. O senhor acredita no socialismo” (63). Um membro do movimento em Iowa, Joni Ernst, que logo em seguida seria eleito para o Senado, afirmou que o “presidente Obama tinha se tornado um ditador” (64).

A segunda vertente era que Barak Obama não era um “americano de verdade”. Durante a campanha de 2008, Sarah Palin tinha usado a expressão “americanos de verdade” para descrever seus apoiadores (uma esmagadora maioria de brancos cristãos). Isso teve importância fundamental para a campanha do Tea Party contra Obama, na medida em que seus seguidores salientavam reiteradamente que ele não amava o país e não compartilhava os valores americanos (65). Segundo a ativista do Tea Party e radialista Laurie Roth:

Não se trata de uma guinada à esquerda como Jimmy Carter ou Bill Clinton. Trata-se de um choque de visões de mundo. Nós estamos assistindo a um choque de visões de mundo na nossa Casa Branca. Um homem que é um muçulmano reservado de tipo secular, mas que nem por isso deixa de ser muçulmano. Ele nada tem de cristão. Nós estamos vendo um comunista socialista na Casa Branca fingindo que é americano (66).

E-mails em massa lançaram rumores e insinuações através dos círculos do Tea Party. Em um deles, uma fotografia mostrava o presidente segurando um livro, The Post-American World, de Fareed Zakaria, apresentador da CNN. O e-mail anunciava: “ISTO VAI GELAR SEU SANGUE!!! O nome do livro que Obama está lendo é O mundo pós-americano e foi escrito por um confrade muçulmano” (67).

A retórica não se limitava aos ativistas do Tea Party. Políticos republicanos também questionaram a “americanidade” de Obama. O ex-congressista Tom Tancredo, do Colorado, declarou: “Eu não acredito que Barack Obama ame a mesma América que eu amo, aquela criada pelos fundadores” (68). Newt Gingrich, que tentou um retorno político e buscou a indicação presidencial do GOP em 2012, chamou Obama de “o primeiro presidente antiamericano” (69). E num jantar privado de arrecadação de fundos para o governador Scott Walker, do Wisconsin, em fevereiro de 2015, o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani questionou abertamente o patriotismo do presidente em exercício, declarando: “Eu não acredito, e eu sei que esta é uma coisa terrível de se dizer, mas eu não acredito que o presidente ame a América” (70).

Se o Tea Party repetiu à exaustão que Barack Obama não amava a nação, o “movimento birther” foi ainda mais longe, pondo em dúvida se ele havia nascido nos Estados Unidos – e, consequentemente, questionando o seu direito constitucional de ocupar a Presidência. A ideia de que Obama não fosse nascido no país circulou pela primeira vez na blogosfera durante a sua campanha ao Senado em 2004 e voltou à fossa em 2008. Os políticos republicanos descobriram que questionar a cidadania de Obama era uma maneira fácil de provocar o entusiasmo da multidão em aparições públicas. Assim, foi o que começaram a fazer. Mike Coffman, representante do Colorado, disse a seus apoiadores: “Eu não sei se Barack Obama nasceu nos Estados Unidos da América… Mas uma coisa eu sei: que em seu coração ele não é americano. Ele simplesmente não é americano” (71). Pelo menos dezoito senadores e membros republicanos da Câmara foram chamados de “possibilitadores birthers” (72) por sua recusa a rejeitar o mito. Os senadores Roy Blunt, James Inhofe, Richard Shelby e David Vitter, a ex-candidata presidencial Sarah Palin e o candidato presidencial de 2012 Mike Huckabee deram todos declarações endossando ou encorajando a campanha birther (73).

O mais notório dos birthers foi Donald Trump. Na primavera de 2011, ao considerar disputar a Presidência em 2012, Trump disse no programa Today que tinha “dúvidas” sobre o fato de Obama ser cidadão norte-americano nascido nos Estados Unidos. “Na verdade, eu tenho gente que andou estudando isso”, afirmou Trump, “e eles não conseguem acreditar no que estão descobrindo” (74). Trump se tornou o birther mais importante do país, aparecendo repetidas vezes em programas de televisão, convocando o presidente a divulgar sua certidão de nascimento. E quando a certidão de nascimento de Obama foi publicada em 2011, Trump sugeriu que era falsificada. Embora Trump tenha optado por não concorrer contra Obama em 2012, seu questionamento ostensivo da nacionalidade do presidente lhe valeu a atenção da mídia e fez com que fosse admirado pela base do Tea Party (75). A intolerância se mostrava politicamente útil.

Esses ataques têm um extenso e desonroso pedigree na história americana. Henry Ford, o padre Coughlin e a Sociedade John Birch adotaram todos linguagens semelhantes. Contudo, os questionamentos da legitimidade de Obama foram diferentes em dois aspectos importantes. Primeiro, eles não estavam confinados a uma minoria, sendo amplamente aceitos pelos eleitores republicanos. Segundo uma pesquisa de 2011 da Fox News, 37% dos republicanos acreditavam que Barack Obama não tinha nascido nos Estados Unidos e 63% disseram ter dúvidas sobre suas origens (76); 43% dos republicanos relataram acreditar que ele fosse muçulmano numa pesquisa da CNN/ORC (77) e uma pesquisa da Newsweek verificou que a maioria dos republicanos achava que Obama favorecia os interesses dos muçulmanos em detrimento daqueles de outras religiões (78).

Segundo, à diferença dos episódios passados de extremismo, essa onda alcançou os escalões superiores do Partido Republicano. Com exceção do período McCarthy, os dois grandes partidos americanos mantiveram por mais de um século esse tipo de intolerância em relação ao outro nas margens da vida partidária. Nem o padre Coughlin nem a Sociedade John Birch receberam a atenção dos mais altos líderes dos partidos. Agora, ataques abertos contra a legitimidade de Barack Obama (e, posteriormente, de Hillary Clinton) foram levados a cabo por políticos de projeção nacional. Em 2010, Sarah Palin aconselhou os republicanos a “absorverem tudo o que for possível do Tea Party” (79). Eles absorveram. Senadores, governadores e até candidatos presidenciais republicanos espelharam a linguagem das margens do partido e receberam a adesão de doadores republicanos que encaravam o Tea Party como uma oportunidade de impelir o GOP para uma linha mais dura contra a administração Obama. Organizações bem-financiadas, como a Freedom Works e a Americans for Prosperity, e comitês de ação política, como o Tea Party Express e o Tea Party Patriots, patrocinaram dezenas de candidatos republicanos (80). Em 2010, mais de cem candidatos apoiados pelo movimento concorreram ao Congresso, e mais de quarenta foram eleitos (81). Em 2011, a convenção da Câmara dos Representantes do Tea Party tinha sessenta membros, e, em 2012, candidatos simpatizantes do movimento despontaram na disputa pela indicação presidencial republicana (82). Em 2016, a indicação presidencial republicana coube a um birther, numa convenção partidária nacional em que os líderes republicanos chamavam sua rival democrata de criminosa e puxavam o coro de “Cadeia nela!”.

Pela primeira vez em muitas décadas, figuras republicanas do mais alto escalão – inclusive uma que logo seria presidente – tinham abandonado abertamente as normas de tolerância mútua, aguilhoados por uma minoria partidária que já não era mais uma minoria. No final do governo Obama, muitos republicanos tinham abraçado a opinião de que seus rivais democratas eram antiamericanos e representavam uma ameaça para o modo de vida americano. Este é um território perigoso. Um extremismo desse nível estimula os políticos a abandonarem a reserva institucional. Se Barack Obama é uma “ameaça ao estado de direito” (83) como afirmou o senador Ted Cruz, então faz sentido bloquear suas indicações judiciárias por quaisquer meios necessários.

O aumento da intolerância partidária levou, assim, a uma erosão da reserva institucional durante os anos Obama. Imediatamente após a eleição, um grupo de jovens membros da Câmara dos Representantes, liderado por Kevin McCarthy, Eric Cantor e Paul Ryan, organizou uma série de encontros para desenvolver estratégias para confrontar a nova administração (84). Os autodenominados “Young Guns”, ou jovens pistoleiros, decidiu fazer do GOP o “Partido do Não” (85). Os Estados Unidos estavam atolados na mais profunda crise econômica desde a Grande Depressão, mas ainda assim os legisladores republicanos planejaram não cooperar com a nova administração. O líder da minoria no Senado, Mitch McConnel, ecoou este sentimento ao declarar que a “única coisa realmente importante que queremos fazer [no Senado] é [garantir] que o presidente Obama seja um presidente de um só mandato” (86). Assim, McConnel também abraçou o obstrucionismo. O primeiríssimo projeto de lei a enfrentar o Senado em janeiro de 2009 foi a incontroversa Lei de Manejo de Terras Públicas – uma medida bipartidária de conservação para proteger 1 milhão de hectares de terras selvagens em nove estados. Como se fosse para mandar um recado, os republicanos obstruíram a discussão do projeto (87).

Esse comportamento se tornou prática padrão. O obstrucionismo do Senado deu um salto depois de 2008 (88). Os “holds” senatoriais (**) usados tradicionalmente para protelar debates no plenário em até uma semana e dar aos senadores tempo extra para preparar a matéria, se transformaram em “vetos indefinidos ou permanentes” (89). Atordoantes 385 obstruções foram iniciadas entre 2007 e 2012 – o mesmo número total de obstruções nas sete décadas entre a Primeira Guerra Mundial e o término da administração Reagan (90). E os republicanos no Senado continuaram a usar o processo de confirmação de indicação judiciária como uma ferramenta partidária: a taxa de confirmação de indicações presidenciais para tribunais de circuito, que foi de mais de 90% nos anos 1980, caiu para apenas 50% sob Obama (91).

Os democratas responderam com as suas próprias violações das normas. Em novembro de 2013, os democratas do Senado votaram eliminar a obstrução para a maioria das indicações presidenciais, inclusive indicações judiciárias federais (mas não para a Suprema Corte), uma iniciativa tão extrema que ficou amplamente conhecida como a “opção nuclear” (92). Senadores republicanos criticaram os democratas por “exercício brutal do poder político” (93) mas Obama os defendeu, afirmando que a obstrução tinha sido transformada num “instrumento negligente e implacável” e acrescentando que “o padrão atual de obstrução… simplesmente não é normal; não é o que nossos fundadores previram”.

Barack Obama também respondeu com violação de normas – na forma de ordens executivas unilaterais. Em outubro de 2011, ele apresentou o que se tornaria o seu mantra para alcançar objetivos políticos: “Nós não podemos esperar que um Congresso cada vez mais disfuncional faça o seu trabalho”, disse ao público em Nevada (94).

“Sempre que eles não agirem, eu agirei.” Obama começou a usar sua autoridade executiva de uma maneira talvez inesperada antes de tomar posse (95). Em 2010, como o Congresso não conseguia aprovar um novo projeto de lei sobre energia, ele emitiu um “memorando executivo” (96) instruindo agências do governo a aumentar os padrões de eficiência dos combustíveis para todos os automóveis. Em 2012, em resposta à incapacidade do Congresso de aprovar uma reforma sobre imigração, ele anunciou uma ação executiva para cessar a deportação de imigrantes ilegais que tivessem chegado aos Estados Unidos antes dos dezesseis anos de idade e que estivessem na escola, ou tivessem completado o ensino médio, ou fossem veteranos militares (97). Em 2015, Obama respondeu à recusa do Congresso de aprovar uma legislação de combate à mudança climática emitindo uma ordem executiva para todas as agências federais reduzirem as emissões de gases de efeito estufa e usarem mais energia renovável (98). Incapaz de obter o consentimento do Senado para um acordo nuclear com o Irã, a administração Obama negociou um “acordo executivo”, que, por não ser um tratado formal, não exigia a aprovação do Senado. As ações do presidente não estavam fora dos limites constitucionais, mas, ao atuar unilateralmente para alcançar objetivos individuais que haviam sido bloqueados pelo Congresso, o presidente violou uma norma de reserva institucional.

Os esforços de Obama para contornar o Congresso desencadearam uma nova escalada das hostilidades. Em março de 2015, a liderança republicana do Senado encorajou publicamente os estados da república a desafiarem a autoridade do presidente. Num artigo de opinião no Lexington Herald Leader, Mitch McConnel instou os estados a ignorarem a portaria de Obama limitando as emissões dos gases de efeito estufa (99). Tratava-se de uma sabotagem espantosa da autoridade federal. No ano seguinte, os legisladores do estado do Arizona debateram e quase aprovaram um projeto de lei proibindo o governo estadual de usar quaisquer de seus funcionários ou recursos para impor ordens executivas que não tivessem sido votadas pelo Congresso. Como publicou o New York Times num editorial: “Isso soa como a arenga secessionista de John Calhoun em 1828, a Exposição e Protesto da Carolina do Sul” (100).

Três acontecimentos dramáticos durante a gestão de Obama revelaram o quanto as normas de reserva tinham sido desgastadas. O primeiro foi a crise de 2011 sobre o limite da dívida federal. Como um fracasso em aumentar o teto de endividamento podia causar uma moratória do governo norte-americano, destruindo a classificação de crédito dos Estados Unidos e possivelmente provocando o caos na economia, o Congresso poderia, em tese, usar o limite de endividamento como “refém”, recusando-se a aumentá-lo a menos que o presidente satisfizesse certas demandas. Essa atitude de extraordinária temeridade nunca havia sido seriamente considerada – antes de 2011. Aumentar o limite de endividamento era prática bipartidária de longa duração; entre 1960 e 2011, isso foi feito 78 vezes, 49 sob presidentes republicanos e 29 sob democratas (101). Embora o processo sempre fosse contencioso, os líderes de ambos os partidos sabiam que se tratava apenas de marcar posição política (102).

Isso mudou depois que os republicanos, impelidos por uma nova classe de deputados apoiados pelo Tea Party, assumiram o controle do Congresso em 2011. Não só eles estavam dispostos a usar o aumento do limite de endividamento como refém (103) como muitos estavam prontos para vetá-lo – para “provocar o colapso do sistema como um todo” (104) – se suas reivindicações de cortes dramáticos de despesas não fossem atendidas. Da mesma forma, os senadores Pat Toomey, da Pensilvânia, e Mike Lee, de Utah, ambos apoiados pelo Tea Party, solicitaram declaração de moratória se Obama não cedesse às suas demandas (105). Conforme afirmou o congressista Jason Chaffetz posteriormente: “Não estavamos brincando … Íamos fazer a casa cair” (106). Embora um acordo de último minuto tenha evitado a moratória, prejuízos consideráveis já haviam sido causados. Os mercados não responderam bem e, pela primeira vez na história, a Standard & Poor’s rebaixou a classificação de crédito dos Estados Unidos.

Março de 2015 trouxe outra ocorrência sem precedentes, quando o senador Tom Cotton e outros 46 senadores republicanos escreveram uma carta aberta aos líderes iranianos, insistindo que Obama não tinha autoridade para negociar um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Opostos ao acordo com o Irã e enfurecidos com a decisão de Obama de usar um “acordo executivo” em vez de um tratado, os republicanos do Senado intervieram em negociações diplomáticas, há muito tempo domínio exclusivo do poder Executivo (107). O senador da Flórida Bill Nelson, um democrata moderado, descreveu a carta como “de cair o queixo… Eu não pude deixar de me perguntar se teria assinado uma carta assim sob o presidente George W. Bush. Não, eu jamais teria sequer contemplado a hipótese” (108). Cotton e seus aliados tinham descaradamente tentado minar a autoridade do presidente em exercício (109).

O terceiro momento de violação de normas foi a recusa do Senado, em 2016, de aceitar a indicação presidencial de Merrick Garland para a Suprema Corte. É importante repetir que nenhuma vez desde a Reconstrução um presidente teve a oportunidade de preencher uma vaga na Suprema Corte recusada ao nomear alguém antes da eleição de seu sucessor (110). Porém, a ameaça de obstrução não parou aí. No período preparatório anterior à eleição de 2016, quando se acreditava amplamente que Hillary Clinton ia vencer, vários senadores republicanos, inclusive Ted Cruz, John McCain e Richard Burr, prometeram bloquear todas as indicações de Clinton para a Suprema Corte nos quatro anos seguintes, reduzindo efetivamente o tamanho da Suprema Corte a oito membros (111). Burr, um senador da Carolina do Norte, disse numa reunião fechada de voluntários republicanos: “Se Hillary for presidente, eu vou fazer tudo o que puder para garantir que, daqui a quatro anos a partir de agora, nós ainda tenhamos uma vaga na Suprema Corte” (112). Embora a Constituição não especifique seu tamanho, a corte de nove membros se tornara há muito uma tradição estabelecida. Republicanos e democratas tinham ambos defendido a autonomia da corte contra o abuso de Roosevelt em 1937. Apesar de Ted Cruz ter afirmado que havia um extenso “precedente histórico” (113) para a mudança do tamanho da Suprema Corte, este precedente desaparecera pouco depois da Guerra Civil. A iniciativa de Cruz teria rompido com uma norma de 147 anos.

Com táticas como essas, os republicanos tinham começado a se comportar como um partido político antissistema. No final do mandato de Obama, as grades flexíveis de proteção da democracia estavam se enfraquecendo perigosamente.

SE, 25 ANOS ATRÁS, alguém lhe descrevesse um país no qual candidatos ameaçam botar seus rivais na cadeia, oponentes políticos acusam o governo de fraudar resultados eleitorais ou de estabelecer uma ditadura e partidos usam suas maiorias legislativas para o impeachment de presidentes e usurpação de cadeiras da Suprema Corte, você pensaria no Equador ou na Romênia. Provavelmente, não teria pensado nos Estados Unidos.

Por trás da desintegração das normas básicas de tolerância e reserva mútuas jaz uma síndrome de intensa polarização partidária. Embora ela tenha começado com a radicalização do Partido Republicano, suas consequências estão sendo sentidas em todo o sistema político norte-americano. Paralisação de governos, sequestros legislativos, redesenho distrital em meio de década e recusa de até mesmo considerar uma indicação à Suprema Corte não são momentos aberrantes. Ao longo dos últimos 25 anos, democratas e republicanos se tornaram muito mais do que apenas dois partidos competidores, separados em campos liberal e conservador. Seus eleitores encontram-se hoje profundamente divididos por raça, religião, geografia (114) e mesmo “modo de vida” (115).

Considere essa descoberta extraordinária: nos anos 1960, os cientistas políticos perguntavam aos norte-americanos como eles se sentiriam se seu filho ou filha se casasse com alguém que se identificasse com outro partido político; 4% dos democratas e 5% dos republicanos disseram que ficariam “descontentes” (116). Em 2010, em contraste, 33% dos democratas e 49% dos republicanos responderam que ficariam “um pouco ou muito infelizes” diante da perspectiva de um casamento interpartidário. Ser democrata ou republicano se tornou não apenas uma questão de filiação partidária, mas uma identidade (117). Uma pesquisa de 2016 conduzida pela Pew Foundation revelou que 49% dos republicanos e 55% dos democratas dizem que o outro partido lhes “dá medo”. Entre os norte-americanos politicamente engajados, os números são ainda maiores – 70% dos democratas e 62% dos republicanos dizem que vivem com medo do outro partido (118).

Essas pesquisas apontam para o avanço de um fenômeno perigoso na política norte-americana: a intensa animosidade partidária. As raízes desse fenômeno repousam num realinhamento partidário de longo prazo, que começou a tomar forma nos anos 1960. Durante a maior parte do século XX, os partidos norte-americanos foram “grandes tendas” ideológicas, cada um abrangendo bases eleitorais diversas e uma ampla gama de opiniões políticas. Os democratas representavam a coalizão do New Deal – com liberais, sindicatos organizados, afro-americanos e a segunda e terceira gerações de imigrantes católicos – (119) mas também representavam os brancos conservadores do Sul. Por sua vez, o GOP agrupava desde liberais do Nordeste até conservadores do Meio-Oeste e do Oeste. Os cristãos evangélicos pertenciam a ambos os partidos (120) com uma ligeira maioria apoiando os democratas – de modo que nenhum partido podia ser acusado de “ateu”.

Visto que ambos os partidos tinham uma composição interna bastante heterogênea, a polarização entre eles era muito mais baixa do que é hoje. Congressistas republicanos e democratas se dividiam em torno de questões como impostos e despesas, regulação governamental e sindicatos, mas os partidos se sobrepunham na potencialmente explosiva questão de raça (121). Embora ambos os partidos tivessem facções que apoiavam os direitos civis, a oposição dos democratas do Sul e o controle estratégico do sistema de comitês do Congresso mantiveram a questão fora da agenda (122). Essa heterogeneidade interna neutralizava os conflitos. Em vez de ver um ao outro como inimigos, republicanos e democratas muitas vezes encontravam bases comuns. Enquanto republicanos e democratas liberais frequentemente votavam juntos no Congresso para pressionar em prol dos direitos civis, democratas do Sul e republicanos de direita do Norte sustentavam uma “coalizão conservadora” (123) no Congresso para se opor.

O movimento pelos direitos civis, que culminou com a Lei dos Direitos Civis em 1964 e a Lei do Direito de Voto em 1965, deu fim a esse arranjo partidário. Não só ele finalmente democratizou o Sul (124) emancipando os negros e acabando com o domínio de um único partido, mas acelerou um realinhamento em longo prazo do sistema partidário cujas consequências estão se desdobrando ainda hoje. Seria a Lei dos Direitos Civis – que o presidente democrata Lyndon Johnson abraçou e o candidato republicano de 1964, Barry Goldwater, combateu – que definiria os democratas como o partido dos direitos civis e os republicanos como o partido do status quo racial. Nas décadas que se seguiram, a migração sulista branca para o Partido Republicano se acelerou. Os apelos raciais da “Estratégia Sulista” (125) de Nixon e, subsequentemente, as mensagens codificadas sobre raça de Ronald Reagan comunicaram aos eleitores que o GOP era a casa dos conservadores raciais brancos. No final do século, aquela que por muito tempo fora uma região solidamente democrata tinha se tornado firmemente republicana (126). Ao mesmo tempo, os negros sulistas – aptos a votar pela primeira vez em quase um século – afluíram em bando para os democratas, assim como vários republicanos liberais que apoiavam os direitos civis (127). Quando o Sul se tornou republicano, o Nordeste se tornou autenticamente azul, a cor dos democratas.

O realinhamento pós-1965 também deu início a um processo de separação ideológica dos eleitores (128). Pela primeira vez em quase um século, filiação partidária e ideologia convergiam, com o GOP se tornando sobretudo conservador e os democratas se tornando predominantemente liberais (129). Nos anos 2000, os partidos Republicano e Democrata já não eram mais “grandes tendas” ideológicas. Com o desaparecimento dos democratas conservadores e dos republicanos liberais, as áreas de sobreposição entre os dois partidos aos poucos desapareceram. E, como a maioria dos senadores e deputados acabou passando a ter mais em comum com seus aliados partidários do que com membros do partido de oposição, eles começaram a cooperar com menos frequência e a votar consistentemente com seu próprio partido. À medida que tanto eleitores como seus representantes eleitos iam se agrupando em “campos” cada vez mais homogêneos, as diferenças ideológicas entre os partidos iam se tornando cada vez mais marcadas (130).

Contudo, a separação do eleitorado norte-americano em democratas liberais e republicanos conservadores não é capaz de explicar sozinha a profundidade da hostilidade partidária que surgiu no país. Tampouco ela explica por que essa polarização foi tão assimétrica, empurrando o Partido Republicano mais agudamente para a direita do que empurrou os democratas para a esquerda (131). Partidos separados em questões de ideologia não engendram necessariamente “o medo e a aversão” que corroem as normas de tolerância mútua, levando políticos a começar a questionar a legitimidade de seus rivais. Eleitores são ideologicamente divididos na Grã-Bretanha, na Alemanha e na Suécia, mas em nenhum desses países observamos o tipo de ódio sectário que hoje vemos nos Estados Unidos.

O realinhamento foi muito além da oposição liberal versus conservadores. As bases sociais, étnicas e culturais da filiação partidária também mudaram dramaticamente, dando origem a partidos que representam não apenas abordagens políticas distintas, mas comunidades, culturas e valores diferentes. Nós já mencionamos uma força motora maior desse processo: o movimento pelos direitos civis. Mesmo assim, a diversificação étnica não era limitada à emancipação negra. A partir dos anos 1960, os Estados Unidos experimentaram uma onda maciça de imigração, em primeiro lugar da América Latina e, posteriormente, da Ásia, a qual alterou de forma dramática o mapa demográfico do país. Em 1950, os não brancos mal chegavam a constituir 10% da população norte-americana. Em 2014, eles constituíam 38% (132) e o Departamento de Censo projeta que a maioria da população será não branca em 2044 (133).

Juntamente com a emancipação negra, a imigração transformou os partidos políticos norte-americanos. Esses novos eleitores apoiaram desproporcionalmente o Partido Democrata. A fração dos votos democratas não brancos subiu de 7% nos anos 1950 para 44% em 2012 (134). Os eleitores republicanos, em contraste, ainda eram quase 90% brancos anos 2000 adentro (135). Assim, enquanto os democratas se tornaram cada vez mais um partido de minorias étnicas, o Partido Republicano permaneceu quase inteiramente um partido de brancos.

O Partido Republicano também se tornou o partido dos cristãos evangélicos. Os evangélicos entraram em massa na política no final dos anos 1970, motivados, em grande parte, pela decisão Roe contra Wade da Suprema Corte, que legalizava o aborto. A partir de Ronald Reagan em 1980, o GOP abraçou a direita cristã e adotou posições crescentemente pró-evangélicas, incluindo oposição ao aborto, apoio ao direito de oração nas escolas públicas e, mais tarde, oposição ao casamento gay (136). Evangélicos brancos – que se inclinaram para os democratas nos anos 1960 – começaram a votar no Partido Republicano. Em 2016, 76% dos evangélicos brancos se identificavam como republicanos (137). Eleitores democratas, por sua vez, se tornaram cada vez mais seculares. A porcentagem de democratas brancos que frequenta igrejas regularmente caiu de 50% nos anos 1960 para abaixo de 30% nos anos 2000 (138).

Trata-se de uma mudança extraordinária. Como destaca o cientista político Alan Abramowitz, nos anos 1950 os cristãos brancos casados eram a maioria esmagadora – quase 80% – do eleitorado norte- americano, divididos mais ou menos igualmente entre os dois partidos (139). Nos anos 2000, cristãos brancos casados mal chegavam a 40% do eleitorado, estando então concentrados no Partido Republicano (140). Em outras palavras, os dois partidos encontram-se agora divididos sobre raça e religião (141) – duas questões profundamente polarizadoras, que tendem a gerar maior intolerância e hostilidade do que questões políticas tradicionais como impostos e despesas governamentais.

NOS ANOS 2000, portanto, os eleitores democratas e republicanos, e os políticos que os representavam, estavam mais divididos do que em qualquer ponto da história do século anterior. Porém, por que a maioria das violações de normas estava sendo praticada pelo Partido Republicano? (142)

Em primeiro lugar, o cenário em transformação da mídia teve um impacto mais forte sobre o Partido Republicano. Os eleitores republicanos confiam mais pesadamente em canais de mídia partidários do que os democratas (143). Em 2010, 69% dos eleitores republicanos eram espectadores da Fox News (144). E apresentadores de programas de rádio populares como Rush Limbaugh, Sean Hannity, Michael Savage, Mark Levin e Laura Ingraham, que ajudaram todos a legitimar o uso de discursos incivis, têm poucas contrapartidas entre os liberais (145).

A ascensão da mídia de direita também afetou os mandatários republicanos (146). Durante a administração Obama, os comentaristas da Fox News e personalidades radiofônicas de direita adotaram quase todos uma posição “sem concessões” (147) atacando maliciosamente qualquer político republicano que rompesse com a linha do partido. Quando o representante republicano Darrell Issa, da Califórnia, declarou que o GOP poderia realizar mais objetivos de sua agenda se tivesse disposição de trabalhar, na ocasião, com o presidente Obama, Rush Limbaugh o forçou a repudiar publicamente a afirmação e a declarar lealdade à agenda obstrucionista (148). Como disse o ex-líder da maioria republicana do Senado: “Se você se afasta minimamente da extrema direita, você é atacado pela mídia conservadora” (149).

Posições linha-dura foram reforçadas por grupos de interesse conservadores bem-financiados (150). No final dos anos 1990, organizações como a Americans for Tax Reform, de Grover Norquist, e o Club for Growth se tornaram vozes dominantes no GOP, arrastando os políticos republicanos para posições mais inflexíveis em questões de ideologia (151). Norquist exigiu que os congressistas do GOP assinassem compromissos de “nenhum imposto” pela reforma fiscal, forçando-os basicamente a uma postura obstrucionista. Graças, em parte, ao afrouxamento das leis de financiamento de campanha em 2010, grupos de fora como o Americans for Prosperity e a American Energy Alliance – muitos deles parte da rede bilionária da família Koch – adquiriram uma influência extraordinária no Partido Republicano durante os anos Obama (152). Só em 2012, a família Koch foi responsável por mais de 400 milhões de dólares em despesas eleitorais (153). Junto com o Tea Party, a rede Koch e outras organizações similares ajudaram a eleger uma nova geração de republicanos para a qual fazer concessões era um palavrão. Um partido cujo núcleo foi ativamente esvaziado por doadores e grupos de pressão também ficou mais vulnerável a forças extremistas.

Contudo, não foram somente a mídia e interesses de fora que empurraram o Partido Republicano para o extremismo. Mudanças sociais e culturais também tiveram um papel importante. Ao contrário do Partido Democrata, que se diversificou cada vez mais nas últimas décadas, o GOP permaneceu culturalmente homogêneo (154). Isso é significativo, porque o núcleo de eleitores brancos protestantes do partido não constitui apenas uma base eleitoral qualquer – durante quase dois séculos, eles abrangeram a maioria do eleitorado dos Estados Unidos e foram política, econômica e culturalmente dominantes na sociedade norte-americana. Agora, mais uma vez, brancos protestantes são uma minoria do eleitorado – e uma minoria declinante (155). E eles se instalaram confortavelmente no Partido Republicano.

Em seu ensaio de 1964 “The Paranoid Style in American Politics”, o historiador Richard Hofstadter descreveu o fenômeno da “ansiedade de status”, o qual, acreditava ele, tem mais propensão a emergir quando o status, a identidade e o sentido de pertencimento de grupos sociais são percebidos como estando sob ameaça. Isso conduz a um estilo de política que é “excitável demais, desconfiado demais, agressivo, pretensioso e apocalíptico demais” (156). Meio século após sua publicação, o ensaio de Hofstadter talvez seja hoje mais relevante do que nunca. Em grande parte, a luta contra o status declinante de maioria é o que abastece a animosidade intensa que passou a definir a direita americana. Números de pesquisas sugerem que muitos republicanos do movimento Tea Party compartilham a percepção de que o país no qual eles cresceram está “escapando entre os dedos, ameaçado pela rápida transformação do que eles acreditam ser a ‘verdadeira’ América” (157). Para citar o título do recente livro do sociólogo Arlie Hochschild, eles se percebem como “estrangeiros em sua própria terra” (158).

Essa percepção pode explicar a ascensão de um discurso que estabelece uma distinção entre os “americanos verdadeiros” e aqueles que são associados a liberais e ao Partido Democrata. Se a definição de “verdadeiros americanos” for restrita a nativos, falantes de inglês, brancos e cristãos, então fica fácil entender por que os “verdadeiros americanos” (159) podem ver a si mesmos como em declínio. Como formula macabramente Ann Coulter: “O eleitorado norte-americano não está se deslocando para a esquerda – está encolhendo” (160). A percepção entre muitos republicanos simpatizantes do Tea Party de que o país está desaparecendo nos ajuda a compreender o apelo de slogans como “Take Our Country Back” (Retomar nosso país) e “Make America Great Again” (Tornar a América grande de novo) (161). O perigo de tais apelos é que caracterizar os democratas como americanos não verdadeiros constitui um verdadeiro ataque frontal contra a tolerância mútua.

Políticos republicanos de Newt Gingrich a Donald Trump aprenderam que, numa sociedade polarizada, tratar rivais como inimigos pode ser útil – e que promover a política como guerra pode apelar àqueles que receiam ter muito a perder. Contudo, guerras sempre têm seu preço. O ataque crescente contra normas de tolerância e reserva mútuas – sobretudo por republicanos, mas não só por eles – erodiu as grades flexíveis de proteção que há muito nos protegiam do tipo mortal de luta sectária que destruiu democracias em outras partes do mundo. Quando Donald Trump assumiu o cargo em janeiro de 2017, as grades de proteção ainda restavam de pé, mas estavam mais fracas do que jamais foram ao longo de um século – e as coisas estavam prestes a piorar.

Notes

* A Câmara dos Representantes e sobretudo o Senado ocasionalmente tornam a atuação legislativa mais expedita, deixando de lado as regras normais de procedimento e tomando atalhos. O pedido de “ordem regular” de um membro no plenário é uma solicitação à presidência da sessão para restaurar a ordem de procedimento no processo. (N.T.)

** O “senatorial hold” é um dispositivo através do qual um senador sinaliza informalmente sua objeção a um projeto de lei ou indicação. Ele pode anunciar sua intenção de maneira pública ou, como é mais frequente, informar seu líder partidário e interpor um “hold” secreto. (N.T.)

1. Essa reconstrução que se seguiu à resposta da mídia social à morte de Scalia é baseada em duas fontes: Jonathan Chait, “Will the Supreme Court Just Disappear?”, New York Magazine, 21 fev 2016, e “Supreme Court Justice Antonin Scalia Dies: Legal and Political Worlds React”, The Guardian, 14 fev 2016.

2. Idem.

3. Kar e Mazzone, “The Garland Affair”, p.53-111. Segundo Kar e Mazzone, há seis ocasiões na história norte-americana – todas anteriores ao século XX – em que o Senado se recusou a aprovar a indicação de um presidente à Suprema Corte. Em todas as seis, a legitimidade do indicado esteve aberta a questionamento porque sua indicação fora feita depois que o sucessor do presidente já havia sido eleito ou porque o próprio presidente não havia sido eleito, mas chegara ao cargo via vice-presidência (durante o século XIX, havia debate constitucional sobre os vices sucessores serem verdadeiros presidentes ou apenas presidentes em exercício).

4. Baseado em Kar e Mazzone, “The Garland Affair”, p.107-14.

5. Texto do discurso reeditado em “To College Republicans: Text of Gingrich Speech”, West Georgia News. Disponível em:
<https://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/newt/newt78speech.html>.

6. Ike Brannon, “Bob Michel, House GOP Statesman Across Five Decades, Dies at Age 93”, Weekly Standard, 17 fev 2017.

7. Ronald Brownstein, The Second Civil War: How Extreme Partisanship Has Paralyzed Washington and Polarized America (Nova York: Penguin, 2007), p.137, 144; Thomas E. Mann e Norman J. Ornstein, The Broken Branch: How Congress Is Failing America and How to Get It Back on Track (Oxford: Oxford University Press, 2008), p.65.

8. Matt Grossman e David A. Hopkins, Asymmetric Politics: Ideological Republicans and Interest Group Democrats (Nova York: Oxford University Press, 2016), p.285.

9. Brownstein, The Second Civil War, p.142.

10. Thomas E. Mann e Norman J. Ornstein, It’s Even Worse Than It How the American Constitutional System Collided with the New Politics of Extremism (Nova York: Basic Books, 2016), p.35.

11. Citado em James Salzer, “Gingrich’s Language Set New Course”, Atlanta Journal-Constitution, 29 jan 2012.

12. Citado em ibid.

13. Gail Sheehy, “The Inner Quest of Newt Gingrich”, Vanity Fair, 12 jan 2012.

14. Mann e Ornstein, It’s Even Worse Than It Looks, p.39; James Salzer, “Gingrich’s Language Set New Course”.

15. Sean Theriault, The Gingrich Senators: The Roots of Partisan Warfare in Congress (Oxford: Oxford University Press, 2013).

16. Citado em Salzer, “Gingrich’s Language Set New Course”.

17. Michael Wines, “G.O.P. Filibuster Stalls Passage of Clinton $16 Billion Jobs Bill”, New York Times, 2 abr 1993.

18. Binder e Smith, Politics or Principle?, p.10-11; Mann e Ornstein, The Broken Branch, p.107-8.

19. Ex-senador Charles Mathias, citado em Binder e Smith, Politics or Principle?, p.6.

20. Dados do Senado dos Estados Unidos. Disponíveis em:
<https://www.senate.gov/pagelayout/reference/cloture_motions/clotureCounts.html>

21. Mann e Ornstein, The Broken Branch, p.109-10; Grossman e Hopkins,
Asymmetric Politics, p.293.

22. Whittington, “Bill Clinton Was No Andrew Johnson”, p.459.

23. O impeachment de Andrew Johnson em 1868 foi uma questão muito mais séria, envolvendo disputas importantes sobre a autoridade constitucional do presidente. Ver Whittington, “Bill Clinton Was No Andrew Johnson”.

24. Mann and Ornstein, The Broken Branch, p.122.

25. Jacob Hacker e Paul Pierson, Winner Take All Politics (Nova York: Simon & Schuster, 2010), p.207.

26. Citado em John Ydstie, “The K Street Project and Tom DeLay”, NPR, 14 jan 2006.

27. Sam Tanenhaus, “Tom DeLay’s Hard Drive”, Vanity Fair, jul 2004.

28. Brownstein, The Second Civil War, p.227.

29. Tanenhaus, “Tom DeLay’s Hard Drive”.

30. Brownstein, The Second Civil War, p.263-323.

31. Ibid., p.339-40.

32. Todd F. Gaziano, “A Diminished Judiciary: Causes and Effects of the Sustained High Vacancy Rates in the Federal Courts”, The Heritage Foundation, 10 out 2002; Mann e Ornstein, The Broken Branch, p.164-65.

33. Neil Lewis, “Washington Talk: Democrats Readying for a Judicial Fight”, New York Times, 1o mai 2001.

34. Tushnet, “Constitutional Hardball”, p.524-25; Epstein e Segal, Advice and Consent, p.99.

35. Citado em Mann e Ornstein, The Broken Branch, p.167.

36. Dados do Senado dos Estados Unidos. Disponíveis em:
<https://www.senate.gov/pagelayout/reference/cloture_motions/clotureCounts.html>

37. Mann e Ornstein, It’s Even Worse Than It Looks, p.7, 50.

38. Mann e Ornstein, The Broken Branch, p.172.

39. Ibid., p.xi.

40. Brownstein, The Second Civil War, p.274-75.

41. Ibid., p.274-75.

42. Tushnet, “Constitutional Hardball”, p.526.

43. Steve Bickerstaff, Lines in the Sand: Congressional Redistricting in Texas and the Downfall of Tom DeLay (Austin: University of Texas Press, 2007), p.132, 171.

44. Ibid., p.84-108.

45. Ibid., p.102-4.

46. Citado em ibid., p.108.

47. Ibid., p.220, 228.

48. Ibid., p.251-53.

49. Citado em ibid., p.251-53.

50. “First Democrat Issue: Terrorist Rights”, The Rush Limbaugh Show, 10 jan 2006. Disponível em:
<https://www.rushlimbaugh.com/daily/2006/01/10/first_democrat_issue_terror>

51. Ann Coulter, Treason: Liberal Treachery from the Cold War to the War on Terrorism (Nova York: Three Rivers Press, 2003).

52. Coulter, Treason, p.292, 16.

53. “Coulter Right on Rape, Wrong on Treason”, CoulterWatch, 11 dez 2014. Disponível em: <https://coulterwatch.wordpress.com/2014/12/11/coulter-right- on-rape-wrong-on-treason/#_edn3>.

54. Para um resumo desses ataques, ver Martin A. Parlett, Demonizing a President: The “Foreignization” of Barack Obama (Santa Barbara, CA: Praeger, 2014).

55. Grossman e Hopkins, Asymmetric Politics, p.129-30.

56. Parlett, Demonizing a President, p.164.

57. “Rep. Steve King: Obama Will Make America a ‘Totalitarian Dictatorship’”, ThinkProgress, 28 out 2008.

58. Grossman e Hopkins, Asymmetric Politics, p.130.

59. Dana Milibank, “Unleashed, Palin Makes a Pit Bull Look Tame”, Washington Post, 7 out 2008.

60. Frank Rich, “The Terrorist Barack Hussein Obama”, New York Times, 11 out 2008.

61. Ver Christopher S. Parker e Matt A. Barreto, Change They Can’t Believe In: The Tea Party and Reactionary Politics in America (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2013); ver também Theda Skocpol e Vanessa Williamson, The Tea Party and the Remaking of American Conservatism (Nova York: Oxford University Press, 2013).

62. “Georgia Congressman Calls Obama Marxist, Warns of Dictatorship”, Politico, 11 nov 2008.

63. “Broun Is Asked, Who’ll ‘Shoot Obama’”, Politico, 25 fev 2011.

64. Mann e Ornstein, It’s Even Worse Than It Looks, p.214.

65. Ver Parker e Barreto, Change They Can’t Believe In.

66. Citado em Parker e Barreto, Change They Can’t Believe In, p.2.

67. Citado em Jonathan Alter, The Center Holds: Obama and His Enemies (Nova York: Simon & Schuster, 2013), p.36.

68. Citado em Parker e Barreto, Change They Can’t Believe In, p.200.

69. “Newt Gingrich: Obama ‘First Anti-American President’”, Newsmax, 23 mar 2016; e “Gingrich: Obama’s Worldview Shaped by Kenya”, Newsmax, 12 set 2010.

70. Darren Samuelson, “Giuliani: Obama Doesn’t Love America”, Politico, 18 fev 2015.

71. “Mike Coffman Says Obama ‘Not an American’ at Heart, Then Apologizes”,
Denver Post, 16 mai 2012.

72. Gabriel Winant, “The Birthers in Congress”, Salon, 28 jul 2009.

73. Ibid.

74. “What Donald Trump Has Said Through the Years About Where President Obama Was Born”, Los Angeles Times, 16 dez 2016.

75. Parker e Barreto, Change They Can’t Believe In, p.210.

76. “Fox News Poll: 24 Percent Believe Obama Not Born in the U.S”, FoxNews.com, 7 abr 2011.

77. “Poll: 43 Percent of Republicans Believe Obama is a Muslim”, The Hill, 13 set 2015.

78. Daniel Stone, “Newsweek Poll: Democrats May Not Be Headed for a Bloodbath”, Newsweek, 27 ago 2010.

79. Citado em Abramowitz, The Polarized Public?, p.101.

80. Skocpol e Williamson, The Tea Party and the Remaking of American Conservatism, p.83-120.

81. “How the Tea Party Fared”, New York Times, 4 nov 2010. Também Michael Tesler, Post-Racial or Most-Racial? Race and Politics in the Obama Era (Chicago: University of Chicago Press, 2016), p.122-23.

82. “Who Is in the Tea Party Caucus in the House?”, CNN.com (Political Ticker), 29 jul 2011.

83. “Ted Cruz Calls Obama ‘The Most Lawless President in the History of This Country’”, Tu94.9FM. Disponível em:
<http://tu949fm.iheart.com/articles/national-news-104668/listen-ted-cruz-calls- barack-obama-14518575>.

84. Ver relato de Michael Grunwald, The New New Deal: The Hidden Story of Change in the Obama Era (Nova York: Simon & Schuster, 2013), p.140-42.

85. Idem.

86. Citado em Abramowitz, The Polarized Public?, p.122.

87. O projeto de lei foi finalmente aprovado. Ver Joshua Green, “Strict Obstructionist”, The Atlantic, jan/fev 2011.

88. Mann e Ornstein, It’s Even Worse Than It Looks, p.87-9.

89. Ibid., p.85.

90. Milkis e Nelson, The American Presidency, p.490.

91. Mann e Ornstein, It’s Even Worse Than It Looks, p.92-4.

92. “Reid, Democrats Trigger ‘Nuclear’ Option; Eliminate Most Filibusters on Nominees”, Washington Post, 21 nov 2013.

93. Citado em ibid.

94. Citado em Jonathan Turley, “How Obama’s Power Plays Set the Stage for Trump”, Washington Post, 10 dez 2015.

95. Ver Nelson, “Are We on the Verge of the Death Spiral That Produced the English Revolution of 1642-1649?”.

96. “Obama Mandates Rules to Raise Fuel Standards”, New York Times, 21 mai 2010.

97. “Obama to Permit Young Migrants to Remain in U.S.”, New York Times, 15 jun 2012.

98. “Obama Orders Cuts in Federal Greenhouse Gas Emissions”, New York Times, 19 mar 2015.

99. “McConnell Urges U.S. States to Defy U.S. Plan to Cut Greenhouse Gases”, New York Times, 4 mar 2015.

100. “A New Phase in Anti-Obama Attacks”, New York Times, 11 abr 2015.

101. Mann e Ornstein, It’s Even Worse Than It Looks, p.5.

102. Ibid., p.6-7.

103. Grossman e Hopkins, Asymmetric Politics, p.295-96; Mann e Ornstein, It’s Even Worse Than It Looks, p.7-10.

104. Ibid., p.25-6.

105. Ibid., p.7-8, 26-7.

106. Ibid., p.26.

107. Como afirma Michael Gerson, ex-redator de discursos de George W. Bush: “O Senado simplesmente nada tem a ver com a condução da política externa com um governo estrangeiro, ainda mais um governo adversário… A carta de Cotton dá a impressão de que os republicanos do Senado estão trabalhando para as negociações fracassarem.” Michael Gerson, “The True Scandal of the GOP Senators’ Letter to Iran”, Washington Post, 12 mar 2015.

108. Citado em Susan Milligan, “Disrespecting the Oval Office”, U.S. News & World Report, 16 mar 2015.

109. O New York Daily News estampou em letras garrafais a palavra “Traidores” em sua capa no dia seguinte.

110. Kar e Mazzone, “The Garland Affair”.

111. “Republican Senators Vow to Block Any Clinton Supreme Court Nominee Forever”, The Guardian, 2 nov 2006.

112. Idem.

113. Citado em ibid.

114. Marc J. Hetherington e Jonathan D. Weiler, Authoritarianism and Polarization in American Politics (Nova York: Cambridge University Press, 2009); Abramowitz, The Polarized Public?.

115. Bill Bishop e Robert G. Cushing, The Big Sort: Why the Clustering of Like-Minded America Is Tearing Us Apart (Boston: Houghton Mifflin, 2008), p.23.

116. Shanto Iyengar, Gaurav Sood e Yphtach Lelkes, “Affect, Not Ideology: A Social Identity Perspective on Polarization”, Public Opinion Quarterly 76, n.3 (2012), p.417-18.

117. Idem.

118. Pew Research Center, “Partisanship and Political Animosity in 2016”, 22 jun 2016. Disponível em: <http://www.people-press.org/2016/06/22/partisanship- and-political-animosity-in-2016>.

119. Ver James L. Sundquist, Dynamics of the Party System: Alignment and Re- Alignment of Political Parties in the United States (Washington, DC: The Brookings Institution, 1983), p.214-27; Alan I. Abramowitz, The Disappearing Center: Engaged Citizens, Polarization, and American Democracy (New Haven, CT: Yale University Press, 2010), p.54-6.

120. Geoffrey Layman, The Great Divide: Religious and Cultural Conflict in American Party Politics (Nova York: Columbia University Press, 2001), p.171.

121. Schickler, Racial Realignment, p.179; Edward G. Carmines e James A. Stimson, Issue Evolution: Race and the Transformation of American Politics (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1989), cap.3.

122. Ibid., p.119.

123. Binder e Smith, Politics or Principle?, p.88.

124. Ver Mickey, Paths out of Dixie.

125. Abramowitz, The Disappearing Center, p.66-73; Tesler, Post-Racial or Most-Racial?, p.11-3.

126. Earl Black e Merle Black, The Rise of Southern Republicans (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2002); Abramowitz, The Disappearing Center, p.66-73.

127. Carmines e Stimson, Issue Evolution.

128. Matthew Levendusky, The Partisan Sort: How Liberals Became Democrats and Conservatives Became Republicans (Chicago: University of Chicago Press, 2009).

129. Idem; Abramowitz, The Disappearing Center, p.63-73.

130. Ver Pew Research Center, Political Polarization in the American Public (Washington, DC: Pew Foundation), 12 jun 2014.

131. Esta seção se baseia em Hetherington e Weiler, Authoritarianism and Polarization in American Politics; Abramowitz, The Disappearing Center; Abramowitz, The Polarized Public?; e Alan I. Abramowitz e Steven Webster, “The Rise of Negative Partisanship and the Nationalization of U.S. Elections in the 21st Century”, Electoral Studies 41 (2016), p.12-22.

132. “It’s Official: The U.S. Is Becoming a Majority-Minority Nation”, U.S. News & World Report, 6 jul 2015.

133. Sandra L. Colby e Jennifer M. Ortman, “Projections of the Size and Composition of the U.S. Population: 2014-2060”, United States Census Bureau Current Population Reports, mar 2015. Disponível em:
<https://www.census.gov/content/dam/Census/library/publications/2015/demo/ 1143.pdf>.

134. Tesler, Post-Racial or Most-Racial?, p.166; Abramowitz, The Polarized Public?, p.29.

135. Tesler, Post-Racial or Most-Racial?, p.166-68.

136. Geoffrey C. Layman, The Great Divide: Religious and Cultural Conflict in American Party Politics (Nova York: Columbia University Press, 2001); Abramowitz, The Polarized Public?, p.69-77.

137. “The Parties on the Eve of the 2016 Election: Two Coalitions, Moving Further Apart”, Pew Research Center, 13 set 2016. Disponível em: <http://www.people- press.org/2016/09/13/2-party-affiliation-among-voters-1992-2016>.

138. Abramowitz, The Polarized Public?, p.67.

139. Abramowitz, The Disappearing Center, p.129.

140. Idem.

141. Hetherington e Weiler, Authoritarianism and Polarization in American Politics,p.27-8, 63-83.

142. Grossman e Hopkins, Asymmetric Politics; Mann e Ornstein, It’s Even Worse Than It Looks.

143. Levendusky, How Partisan Media Polarize America, p.14-6; Grossman e Hopkins, Asymmetric Politics, p.149-64.

144. Levendusky, How Partisan Media Polarize America, p.14.

145. Grossman e Hopkins, Asymmetric Politics, p.170-74.

146. Theda Skocpol e Alexander Hertel-Fernandez, “The Koch Network and Republican Party Extremism”, Perspectives on Politics 16, n.3 (2016), p.681-99.

147. Levendusky, How Partisan Media Polarize America, p.152.

148. Idem.

149. Citado em Grossman e Hopkins, Asymmetric Politics, p.177.

150. Skocpol e Hertel-Fernandez, “The Koch Network”, p.681-99.

151. Elizabeth Drew, Whatever It Takes: The Real Struggle for Power in America (Nova York: Viking Press, 1997), p.65.

152. Skocpol e Hertel-Fernandez, “The Koch Network”, p.683.

153. Ibid., p.684.

154. Grossman e Hopkins, Asymmetric Politics, p.43-6, 118-23.

155. Abramowitz, The Disappearing Center, p.129.

156. Richard Hoftstadter, The Paranoid Style in American Politics and Other Essays (Nova York: Vintage, 1967), p.4.

157. Parker e Barreto, Change They Can’t Believe In, p.3, 157.

158. Arlie Russell Hochschild, Strangers in Their Own Land: Anger and Mourning on the American Right (Nova York: The New Press, 2016).

159. Baseada na análise dos resultados de uma pesquisa nacional, Elizabeth Theiss Morse descobriu que aqueles que mais fortemente se identificam como americanos tendem a ver “verdadeiros americanos” como 1) nativos, 2) falantes de inglês, 3) brancos e 4) cristãos. Ver Elizabeth Theiss Morse, Who Counts as an American: The Boundaries of National Identity (Nova York: Cambridge University Press, 2009), p.63-94.

160. Ann Coulter, Adios America! The Left’s Plan to Turn Our Country into a Third World Hellhole (Washington, DC: Regnery Publishing, 2015), p.19.

161. Parker e Barreto, Change They Can’t Believe In.

Continua…

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