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Crônica de um truque anunciado

Quantas vezes se avisou aqui em Dagobah que a mega-delação da Odebrecht era uma mega-operação de despistamento?

A única delação válida de Emílio seria entregar o mapa das contas secretas no Brasil e no exterior, em nome de laranjas e de offshores (abertas inclusive pelo seu filho), para esconder dinheiro do crime e entregar Lula como o “Amigo” das planilhas do Departamento de Operações Estruturadas.

Ou alguém é tão tolo de achar que a única conta secreta em nome de laranja era a de Barusco? Ou alguém é tão parvo para não ver que Lula era o “Amigo” do peito de Emílio?

Pois bem. Emílio depôs hoje (13 de março de 2017). Ele fez isso, ou seja, revelou o que dele se esperava? Segundo O Antagonista, não: o depoimento foi frustrante. É claro que seria.

Poder-se-ia argumentar que os advogados de Palocci não lhe fariam perguntas desse tipo. Mas, mesmo assim, o que ele disse? Segundo a Folha de São Paulo ele “disse que jamais tratou de pagamentos ilícitos com Palocci”. Então?

A questão é que parece não haver, nos depoimentos orquestrados da Odebrecht, nada do que interessa (nem o mapa das contas secretas, nem a delação do “Amigo”). Ademais, Emílio tentou nos enganar dizendo que tudo não passava de caixa 2, que sempre existiu e que a Odebrecht contribuiu igualmente para todos os partidos.

Que uma pessoa desinformada caia no truque da delação da Odebrecht se entende. Mas que analistas políticos experimentados caiam na lorota, aí já é demais. E que os procuradores da força-tarefa da Lava Jato – e o próprio juiz Moro – não sejam capazes de ver isso, aí não tem explicação.

Qual foi o truque? Uma orquestração, comandada por Emílio em conjunto com Lula, para dizer que tudo não passou de caixa 2, que todo mundo faz e que a Odebrecht sempre contribuiu para todos os partidos da mesma forma. É o mesmíssimo golpe Bastos-Malheiros, que Lula tentou nos aplicar em 2005, na célebre entrevista em Paris, ao dizer que o PT errou porque caiu na tentação de fazer o que os outros partidos sempre fizeram.

O depoimento pífio de Emílio (que deveria estar preso e não orquestrando artifícios para escapar da justiça e salvar sua organização criminosa) segue o script do truque. Truque para confundir o crime político cometido pelo PT (contra a democracia) com os crimes comuns praticados pelos políticos de todos os partidos.

Eis a lição que podemos tirar. Não acreditar tanto nos analistas que acham que o PT e Lula já morreram porque serão pegos pela justiça. A política que fica esperando que a justiça resolva o seu problema não é política.

Dia 26 sairemos às ruas. Hora de cobrar não babaquices como Fora Temer e Fora Todos os Políticos e sim a prisão de Lula, o fim do registro partidário do PT e a extinção total de quadrilhas disfarçadas de empresas como a Odebrecht, a OAS e várias outras.

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