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Onde mora o perigo

Agora que temos a impressão de que todo o mundo político se corrompeu (e não é falsa essa impressão, ainda que existam exceções, mas que confirmam a regra) é bom não esquecer as diferenças entre diversos tipos de corrupção do ponto de vista dos seus resultados para a democracia. O moralismo é uma péssima influência em política porque confunde um José Sócrates com um Salazar e um Berlusconi com um Mussolini. Todos foram corruptos, é claro. Mas alguns querem apenas se dar bem na vida e permanecer indefinidamente nos seus cargos, enquanto que outros querem fazer alterações nos clientes (para lembrar um chiste do Millor): nós!

Você quer entender a diferença entre a corrupção de um Sergio Cabral e a de um Lula? Pergunte aos ditadores Raul Castro (Cuba) ou José Eduardo (Angola).

Você quer entender a diferença entre a corrupção de um Cunha e a de um Dirceu? É simples também! Pergunte a Maduro (Venezuela) e a Ortega (Nicarágua).

Você já viu fartas evidências dos roubos de Sérgio Cabral e de Cunha, certo? Quanto você acha que eles repassaram para financiar ditaduras e protoditaduras?

Será preciso desenhar? Então vou desenhar (veja abaixo):

Mapa da Corrupção Dagobah

Sobre o mapa acima, um amigo me perguntou no Facebook:

“Mas as corrupções mais tradicionais (esquerda do gráfico) não estariam ligadas à manutenção do status quo de poucos / fortalecer o poder dos sistemas tradicionais de legitimação do controle do sistema por grandes grupos? Os sistemas ditatoriais (“comunismo” experimentado até então) acabam modernizando este sistema, e não descentralizando o poder, mas não consigo ainda perceber que grandes vantagens ao sistema democrático preferir uma ou outra corrupção auxilia neste sentido. Somente a rotação no poder ajuda.”

Minha resposta foi a seguinte:

“É simples, meu amigo. Berlusconi foi corrupto, governou, roubou a vontade e depois… a Itália continuou sendo uma democracia. Péricles – o principal expoente da democracia ateniense – foi acusado com fartas evidências de ter praticado corrupção. Mas depois da sua passagem Atenas continuou sendo uma democracia (só caiu muito depois, com a invasão da Ática por Alexandre). A corrupção tradicional está entranhada no tecido político. Mas ela é diferente da corrupção estratégica com o propósito de alterar a natureza do regime. Chávez e Maduro foram corruptos e depois da sua passagem a Venezuela não continuou mais sendo uma democracia (para todos os efeitos é hoje – com Maduro – uma ditadura). Ortega (na sua segunda subida ao cargo de chefe de Estado na Nicarágua), roubou demais e a Nicarágua está se transformando rapidamente em uma ditadura. Entendeu? Como eu sei que o natureza do regime está sendo alterada? Basta ver se as liberdades estão sendo mais restringidas (inclusive a de imprensa), se a rotatividade ou alternância está sendo abolida (casos de Chávez-Maduro, Evo, Correa, Ortega e… Putin). Se a publicidade ou transparência está diminuindo. Se a legalidade está sendo violada a partir do poder central. Se a institucionalidade está sendo derruída.”

Mesmo assim, tem muita gente que não consegue entender as diferenças. E que continua perguntando:

“Quer dizer que você tem corruptos preferidos?”

Não, não tenho. Mas sei que os que fazem corrupção para – além de se dar bem na vida – alterar a natureza do regime, são mais perigosos para a democracia do que os corruptos tradicionais. Por que? Ora, para responder isso é preciso entender qual era (e continua sendo) a estratégia de conquista de hegemonia do PT. O quadro abaixo fornece um resumo. Ele foi feito em 2014, quando o PT ainda estava no governo, mas não importa: se o PT voltar ao governo retomará a mesma estratégia.

A estratpegia Face

Não entender a diferença entre a corrupção tradicional e a corrupção praticada pelo PT pode ter graves consequências num momento como este em que estamos vivendo, em que os velhos atores políticos conspiram contra a Lava Jato para escapar da justiça (e manter o sistema como está) e alguns grupos que convocavam manifestações resolveram marchar por dentro das instituições, lançar candidatos e esquecer um pouco as ruas. Claro que um movimento que convocou manifestações de rua pode lançar candidatos. O que não deveria é abandonar as ruas, moderar suas críticas ao poder e, pior, não ver que a transição democrática pós-PT não se concluiu, ou seja, não ver onde está o perigo real.

ONDE ESTÁ O PERIGO REAL

Precisamos ir de novo às ruas. Mas não para gritar Fora Temer fazendo o jogo do PT (que quer voltar em 2018) e sim para completar a transição democrática pós-PT, defender a Lava Jato, pedir a prisão do chefe (Lula) e a extinção definitiva de um partido que se transformou numa organização criminosa (o PT), que não foi estruturada para praticar crimes comuns e sim crimes políticos contra a democracia. Sim, o PT – e não os corruptos fisiológicos que o apoiaram na última década, meros componentes de um sistema político que apodreceu – continua sendo a maior ameaça contemporânea à democracia no Brasil. Os velhos políticos roubam para se dar bem na vida e continuar mamando nas tetas do Estado. O PT, além de roubar, quer bolivarianizar o regime, degenerar as instituições, estabelecer sua hegemonia sobre a sociedade e, no final, fazer alterações em nós.

Sim, o perigo real está bem retratado na foto abaixo, feita em Havana por ocasião do enterro do ditador Fidel Castro. Examinem os rostos. É um retrato perfeito da revolução pela corrupção.

Perigo

Mas eles não estão apenas nos eventos fúnebres ou festivos. Mesmo fora do governo, eles permanecem profundamente enraizados na sociedade (e até no Estado). Vejam o diagrama abaixo (a rede suja não é mais financiada por estatais, mas nasceu assim e agora é – pelo menos em parte – financiada com o dinheiro do crime):

A turma da evolução pela corrupção

Se não fizermos as distinções entre essa turma e os políticos tradicionais (que, em sua maioria, sustentaram essa mesma turma na última década, compondo a sua base de apoio), corremos o sério risco de criar condições para a volta do PT ao governo em 2018. A alegação de que todo mundo é corrupto, de certo modo, exime o PT de responsabilidade. Fornece um passe livre para que Lula possa subir de novo nos palanques, prometendo um novo tempo de bonança, sem crises, com alto crescimento econômico, sem barbárie nas prisões, sem terror nas ruas. Será tudo mentira, é claro. Mas se o PT fez apenas o que todos fazem, quem se dará conta do perigo que ele representa para a democracia?

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