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Os 6 Fora Temer

Temos vários Fora Temer, sendo os seis principais os que vão descritos abaixo.

Antes, porém, um alerta: não concordar com o governo Temer ou mesmo achar que Temer deva ser investigado, processado e, havendo provas, punido de acordo com as leis, não significa aderir a nenhum dos Fora Temer elencados a seguir (como ficará claro no último parágrafo deste artigo); nem, muito menos, aderir a um Fica Temer.

1 – A velha esquerda

O Fora Temer original é o da esquerda: do PT e aliados. Seus objetivos são conhecidos. Investir no caos, melar o processo constitucional, reforçar a falsa narrativa de que o impeachment foi golpe e tentar dar fuga à Lula, oferecendo-lhe a tábua de salvação de um palanque.

2 – A “nova” direita

O segundo Fora Temer é o da direita hidrófoba e autocrática: do oportunista eleitoreiro Bolsonaro e sua turbamulta vil de seguidores, dos olavistas, dos nacionalistas militaristas e assemelhados. Manipulando um discurso moralista, os líderes direitistas querem ressaltar que somente alguém com capacidade de comando e ideias claras, que nunca esteve no governo e não se sujou com as manobras dos velhos partidos, pode salvar o Brasil.

3 – Os jornalistas e analistas

O terceiro Fora Temer é o do recente “partido dos jornalistas e analistas”. Ele foi turbinado após a armadilha Janot-Fachin: aquela que, além de absolver liminarmente, tornou inimputáveis os Freeboys – Joesley, Wesley e Saud, o lobista de Fachin -, que desviou a atenção dos chefes da verdadeira organização criminosa (Lula, Dirceu e seus sequazes) promovendo Temer e Aécio à condição de maiores bandidos da galáxia.

Deste fora Temer participam os grandes meios de comunicação (como a Globo) e sites jacobinos, que passaram a fazer guerrilha virtual e estão se comportando da mesma maneira que os veículos da rede suja do PT: o principal exemplo é O Antagonista, que não dá mais notícias, nem faz análises, mas somente reproduz matérias de outros veículos, com exceção dos “furos” ou vazamentos recebidos por baixo do pano da Polícia Federal e dos procuradores, e incita campanhas contra os que pensam diferente, chamando-os de escória, promovendo verdadeiras cruzadas macartistas de incineração de seus desafetos políticos.

O objetivo da orquestração feita por jornalistas e analistas políticos não era bem levar Temer às barras dos tribunais ou ao impeachment e sim forçar a sua renúncia em 24 horas, depois em 72 horas, depois, ainda, em uma semana, agora em um mês (prazo que já está acabando), após a “revelação” da estranhíssima gravação feita por iniciativa de um dos maiores representantes do empresariado-bandido (não se sabe até que ponto ele foi “orientado” pela Polícia Federal ou pelos procuradores da República) e aceita como prova válida por Fachin, antes mesmo de mandar periciar o arquivo.

4 – Os moralistas

O quarto Fora Temer é o dos moralistas, em geral gente bem-intencionada que quer limpar a política (e o mundo) de toda a sujeira, separando os bons dos maus (e punindo estes últimos). São pessoas sem experiência política, analfabetas democráticas, que repetem os lemas criados pelo PT para uso dos trouxas: que todos são farinha do mesmo saco, que não podemos ter corruptos de estimação, que a Lava Jato não tem lado, nem partido (contribuindo com isso para confundir a corrupção com motivos estratégicos de poder, praticada para bolivarianizar o nosso regime político, com a corrupção tradicional, que é endêmica na política brasileira).

É a turma que acha que Lula é tão (ou menos) culpado do que Sérgio Cabral; ou que pensa que Dirceu é a mesma coisa que Cunha. Os moralistas são instrumentalizados pela turma do terceiro Fora Temer (sobretudo pelos jacobinos, que acham que temos que derrubar todo o sistema político, apostando no apocalipse e esperando que da terra arrasada renasça alguma Fênix). E os moralistas são também usados e abusados pelos ideólogos e pilantras do segundo Fora Temer, que apostam num salvador da pátria, numa liderança forte capaz de colocar ordem na casa.

5 – Os oportunistas

O quinto Fora Temer é o dos oportunistas, que não querem se sujar pela proximidade com alguém que foi denunciado pela PGR e parte do STF, com medo de perder credibilidade, popularidade ou… votos em 2018. Destacam-se entre estes os tucanos que querem ser eleitos ou reeleitos para qualquer coisa (pois vivem disso). Mas nesse bolo heterogêneo de oportunistas encontram-se também, infelizmente, alguns movimentos que convocaram protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff. E todo tipo de gente que não tem cargo no atual governo e espera ganhar alguma coisa com a troca de presidente, de um ministério a um DAS qualquer numa futura administração Rodrigo Maia ou similar.

6 – O “suíno-empresariado” com muita fome de dinheiro barato

Haveria ainda – embora em contingente menos expressivo – um sexto Fora Temer, composto pelos que estão descontentes com algumas políticas levadas a efeito pelo atual governo, na Petrobrás e, em especial, no BNDES. Se enquadram nesta vertente o suíno-empresariado e outros empresários que vivem de fazer negócios com o governo (ou seja, com o nosso dinheiro), empreiteiros que foram beneficiados com acordos de conivência escandalosos (sobretudo promovidos por Janot) e outros bandidos legalizados dispostos a fazer o que for preciso na sua busca desenfreada por dinheiro sem dono (como eles dizem, ou seja, pelo nosso dinheiro) ou por crédito de mãe para filho (praticamente a fundo perdido, como ocorreu com a JBS).

Conclusão

Claro que, se Temer cometeu crime de responsabilidade, deve sofrer impeachment. Se cometeu crime comum deve ser processado pelo STF. Isso é o que reza a Constituição. E foi uma dessas soluções legais a que foi adotada contra Dilma (só por isso Temer é presidente, aliás). Mas as diferentes turmas do Fora Temer não querem aplicar a Constituição e sim evitá-la (acham que as saídas legais demoram muito e eles têm pressa). Assim, o objetivo de qualquer um dos Fora Temer não é adotar os remédios legais e sim desestabilizar o governo para tornar a renúncia de Temer inevitável.

Como foi dito no segundo parágrafo deste artigo, não aderir a algum dos Fora Temer descritos acima não significa promover um Fica Temer. Estamos falando de movimentações de agentes e não de posições políticas. Podia-se discordar do governo Itamar sem aderir a um Fora Itamar (que houve, aliás, mas foi puxado pelo PT). Podia-se discordar do primeiro governo FHC sem aderir a um Fora FHC (idem).

Se Temer não conseguir resistir à orquestração objetiva dessa meia dúzia de Fora Temer, ele cairá. Mas se cair isso não significa que todos ou alguns ou algum dos grupos que se movimentaram para retirá-lo da presidência, meio assim no abafa, estavam certos do ponto de vista da democracia.

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