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Por que é necessário resistir ao avanço do bolsonarismo e do lulopetismo na sociedade

Eis os resultados oficiais da eleição presidencial no segundo turno com 100% das urnas apuradas segundo dados do TSE:

Número de eleitores aptos a votar = 147.306.275 (100%)

Jair Bolsonaro = 57.797.847 votos (55,13%)

Fernando Haddad = 47.040.906 votos (44,87%)

Ausentes = 31.371.704 (21,30%)

Brancos = 2.486.593 (2,14%)

Nulos = 8.608.105 (7,43%)

Ou seja, cerca de 58 milhões escolheram Bolsonaro, enquanto que cerca de 90 milhões não o escolheram.

Ele está legal e legitimamento eleito, segundo as regras do pleito. Isso não se discute. Mas não recebeu um cheque em branco das urnas. Foi beneficiado pela polarização: como a alternativa (Haddad ou o PT) era muito ruim, os eleitores que não se enquadram no não-voto, em sua maioria, caíram no colo de Bolsonaro eventualmente (ou seja, em outras circunstâncias, não cairiam necessariamente). Para dar um chute: talvez só 50% dos votos de Bolsonaro lhe pertençam propriamente.

Vamos agora fazer alguns comentários (em grande parte, inevitavelmente, especulativos).

Segundo todas as pesquisas a maior parte dos eleitores – dos 57.797.847 que escolheram Bolsonaro – o fez por desejo de renovação. Outra parte, não desprezível (mas menor), o fez para evitar a volta do PT ao governo. Os demais motivos (como colocar na presidência alguém com coragem para resolver o problema da segurança ou alguém honesto que é contra a corrupção ou, ainda, por orientação religiosa) são também relevantes, mas minoritários.

Usando números redondos, pode-se afirmar que, destes 58 milhões que sufragaram Bolsonaro, somente uma pequena parte é composta por bolsonaristas – militantes full time e/ou jihadistas nas mídias sociais, fiéis seguidores, gente mesmerizada pelo discurso autoritário do capitão e pessoas que fizeram de Bolsonaro uma espécie de Cavalo de Troia para difundir suas mensagens autocráticas, como (entre outros) os antiglobalistas-conspiracionistas (olavistas), os religiosos-fundamentalistas, os monarquistas-tradicionalistas e os militaristas-intervencionistas. Todo esse contingente, somado, não deve ultrapassar 10 milhões de pessoas, se tanto. Mesmo assim é muita gente. Jamais existiu uma corrente de opinião tão expressiva, francamente autoritária, intervindo politicamente na cena pública brasileira.

Dos 58 milhões, pelo menos uns 15% a 20% optaram por Bolsonaro não porque o aprovassem incondicionalmente e sim porque não queriam a volta do PT ao governo. Isso pode dar mais ou menos 11 milhões de pessoas. É claro que o número total de antipetistas pode subir para 21 milhões, se somarmos o primeiro contingente mencionado acima (que é antipetista e bolsonarista).

O restante, ou seja, 37 milhões de pessoas tiveram como principal motivo para a escolha de Bolsonaro: porque queriam renovação (a maior parte, talvez bem mais de 20 milhões), porque queriam solução para o problema da segurança (uma parte não desprezível), porque estavam revoltados com a corrupção e com a velha política, ou por outros motivos (dentre os quais o mais relevante parece ter sido o alinhamento religioso, seguindo orientação de seus bispos e pastores que, se tivessem mandado votar em Haddad, teriam obedecido igualmente, com maior ou menor relutância). Não se pode saber exatamente a quantidade de cada um desses contingentes de eleitores que tiveram, como principais razões do seu voto, as categorias mencionadas acima. De qualquer modo, a maioria desses eleitores tenderá a apoiar o governo Bolsonaro, sobretudo diante da continuidade da polarização, revoltada com a guerra que o PT e seus aliados moverão contra o novo presidente. Quem votou, com convicção ou não, mesmo não sendo bolsonarista, acha razoável dar uma trégua para “deixar o homem trabalhar”.

O fato de os bolsonaristas serem minoritários (na sociedade e, inclusive, no conjunto dos eleitores de Bolsonaro) não significa que não sejam perigosos para a democracia. O maior perigo atual é os bolsonaristas capturarem os eleitores não-bolsonaristas de Bolsonaro infectando-os com o vírus do bolsonarismo.

Ao que tudo indica os bolsonaristas continuarão mobilizados, como se estivessem em campanha eleitoral (num terceiro turno que, na cabeça deles, só terminará quando os comunistas, os globalistas, os petistas e esquerdistas forem varridos da face da Terra), usando o WhatsApp e as mídias sociais da mesma maneira, tentando arregimentar forças para a defesa do governo e exigindo tratamento duro, revanchista e intolerante, com os derrotados. Como tuitou ontem uma bolsonarista, “O Brasil precisa de união! Quem não concorda, vá para Venezuela ou Cuba” – o que é uma reedição do lema autoritário da fase mais tenebrosa da ditadura militar: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Por isso os democratas devem fazer oposição (partidária e parlamentar) ao governo Bolsonaro (como é próprio das democracias), mas têm de resistir ao avanço do bolsonarismo na sociedade.

Não devem confundir o bolsonarismo como corrente autocrática de opinião com o governo constitucional de Bolsonaro.

Não devem endossar a oposição destrutiva do PT, que tentará refutar todas as medidas tomadas pelo governo Bolsonaro sem mesmo examiná-las para saber se são boas para o país.

Não devem deixar de criticar o lulopetismo que pretende hegemonizar as oposições para voltar ao governo em 2022, alijando os democratas da cena pública.

E não podem tratar todos os eleitores de Bolsonaro da mesma maneira. Devem conversar com eles, educadamente, tentando mostrar os exageros e os perigos, que representam para a democracia, a guerra travada pelo bolsonarismo contra o lulopetismo (e vice-versa).

O nome disso é resistência democrática, ainda que o lulopetismo esteja tentando se apropriar da expressão para deturpá-la.

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