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Qual o critério para escolher um candidato em 2018?

Queiramos ou não, a solução para a crise política brasileira passa (ainda que não se resolva definitiva e completamente) pelas eleições presidenciais de 2018.

Com todo seu ardor purificador, os que fazem política com a operação Lava Jato não têm como – por mais que queiram – reformar a política no Brasil, acabando de vez com a corrupção (bandeira sempre colocada – pelos populistas moralistas – acima da democratização) e saneando nossos costumes políticos.

Como nosso arcabouço legal não tipifica crimes políticos, contra a democracia, as instituições que aplicam as leis (judiciário, ministério público e polícia), conduzidas pelos cruzados da limpeza ética, só podem enquadrar os que cometem crimes comuns (igualando quem pratica corrupção com objetivos estratégicos de poder a quem o faz para se eleger, se reeleger, eleger um parente ou correligionário, enriquecer e se dar bem na vida). Isso é o mesmo que dizer que Mussolini é igual a Berlusconi. E isso é sempre um desastre para a democracia. Mas isso, contraditoriamente, também apara as asas dos que fazem a antipolítica da pureza: eles têm que se conformar com os limites legais de sua atuação – o que, obviamente, reduz suas possibilidades de influir na política.

Ainda bem. Não há saída fora da democracia e não se pode consertar a política sem política.

Então vamos todos (ou quase todos) para as urnas de 2018. Com efeito, além de Lula (cujo destino ainda é incerto), não há um só líder político de envergadura nacional que esteja impedido de disputar as próximas eleições por força da Lava Jato.

Novamente estaremos diante da loteria do calculismo eleitoreiro, jogo que conta com muitos viciados, sendo que os principais são os tucanos. Os petistas, não! Eles sabem o que estão fazendo: eles escolheram a via eleitoral para usar a democracia contra a democracia, como reza o projeto neopopulista lulopetista (agora copiado pelas FARC).

Diante deste quadro, resta saber o que os democratas (ou seja, os liberais no sentido político do termo, cada vez mais raros no cenário político brasileiro) vão fazer.

QUAL O CRITÉRIO PARA ESCOLHER UM CANDIDATO?

Para os democratas, o critério para escolher candidatos é a democracia. Mas democracia é um processo de desconstituição de autocracia. Então…

1) Se um candidato admira ditaduras, não serve. Caso do Bolsonaro (que elogia a ditadura militar no Brasil e no Chile de Pinochet). E também de Lula e dos petistas (que defendem a ditadura cubana e a ditadura venezuelana de Maduro).

2) Se um candidato quer usar a democracia contra a democracia (ou seja, usá-la taticamente, para alcançar o poder e, depois, bolivarianizar o nosso regime), não serve. Casos do Lula, do Boulos, do Haddad ou de qualquer outro petista.

3) Se um candidato dá declarações a favor da democracia, mas seus representantes no Congresso apoiam o projeto autocrático do PT, com mais vigor ainda do que os próprios petistas, não serve. Caso da Marina.

4) Se um candidato é populista e nacionalista (quer dizer, estatista: e todo estatismo é autocrático), não serve. Caso do Ciro. E, de novo, do Bolsonaro. E também de Lula (ou de outro petista qualquer).

Ou seja, para os democratas, o critério para escolher um candidato não é a imagem de honestidade (como se a honestidade política fosse uma virtude apenas pessoal), a simpatia, as declarações marqueteiras para catar votos (tipo o súbito liberalismo-econômico de Bolsonaro).

Não! E nada desse besteirol de esquerda e direita.

É apenas a aceitação da democracia como um valor e o respeito pelo Estado democrático de direito. Qualquer candidato que se enquadre nesses critérios (goste-se ou não dele) e que tenha condições reais de impedir a vitória de algum dos candidatos do campo autocrático (mencionados acima), merece o voto dos democratas.

O PROBLEMA É A INCOMPREENSÃO DA DEMOCRACIA

Quando se diz que não se pode votar em ninguém do campo autocrático, as pessoas não entendem simplesmente porque não fazem a menor ideia do que seja democracia. No entanto, o mais curioso é que essas pessoas acham que sabem muito bem o que é democracia. Por exemplo, elas pensam: “ora, se alguém quer concorrer em eleições, então é democrata”.

Ou então pensam: “se alguém trabalha para reduzir a desigualdade social e para defender os interesses do povo ou da maioria da população, então é democrata” (pois democracia, para elas, é estar a favor da maiorias, ou dos pobres).

Ou, ainda, imaginam que democracia é um regime sem corrupção (sim, elas sinceramente acham que um corrupto não pode estar no campo democrático e que, portanto, se um candidato é honesto e luta contra a corrupção – como é o caso de Bolsonaro – ele não pode estar no campo autocrático, a despeito de ter declarado numerosas vezes a sua preferência por ditaduras).

Claro que, entre os lulistas e os bolsonaristas, existem muitos que já assumiram que a democracia não serve muito (a não ser taticamente, como via para chegar ao poder) ou que a democracia não é um valor (reproduzindo, aliás, a opinião privada da maioria da nossa população, que concorda com a frase “não me importa um governo não democrático desde que resolva os problemas”).

Então, não adianta repetir mil vezes: não entra na cabeça desse pessoal que tanto Lula quanto Bolsonaro e tanto Ciro como Marina (para não falar de Boulos ou Haddad), estão no campo autocrático. E que todos os outros candidatos, que apareceram até agora ou foram cogitados seriamente, não (por mais ruins, antipáticos e, inclusive, envolvidos em corrupção, que sejam ou estejam).

O CASO MARINA

O caso de Marina vem a calhar. Muitos perguntam por que ela estaria no campo autocrático. A explicação é quase óbvia, mas as pessoas têm dificuldade de entender. Não são propriamente os indivíduos que são autocráticos em razão de suas características intrínsecas. São as pessoas enquanto atores políticos, quer dizer, como entes influenciados pela configuração do campo social (e das interações recorrentes que ocorrem neste campo) onde estão – e são, como tais (quer dizer, como atores políticos).

Marina está no campo autocrático porque no seu emaranhado estão Molon, Randolfe, Pedro Ivo e uma cambada de socialistas (na verdade, a maioria dos dirigentes da Rede), quer dizer, de estadocentristas que creem que a luta de classes é o motor da história, que a igualdade socioeconômica é pré-condição para a liberdade política, que democracia é a vontade (ou o governo) da maioria e outros pressupostos semelhantes que, uma vez adotados, levam qualquer projeto político neles baseados a se afastarem da democracia, como vimos ocorrer em numerosas experiências históricas.

O CASO BOLSONARO

O caso Bolsonaro também é instrutivo. Quando se diz que Bolsonaro é um autocrata, muitas mentes simples duvidam. Acham que se trata apenas de campanha de difamação com objetivos eleitorais. Mas foi o próprio Bolsonaro que, ao longo de sua vida pública passada e recente (boa parte da qual sob as asas dos governos petistas), deixou isso claro por suas declarações, intervenções em controvérsias e atitudes. Isso é claramente visível, até em Stanford.

Em recente entrevista, concedida por Francis Fukuyama a Guilherme Amado de O Globo (04/11/2017), o cientista político declarou:

“O mais problemático é o apoio a Bolsonaro. Ele parece ser um populista genuinamente perigoso. Seu histórico mostra que ele não defende a democracia e que está usando esta oportunidade para tomar o poder. Seria um grande desastre se ele fosse eleito. Mas acho que isso reflete um crescente cinismo em todo o espectro eleitoral de que todos os políticos são ruins e de que você precisa de uma figura forte que vai consertar todos esses problemas. Isso nunca funciona. Se você opta por políticas de mão de ferro, você acaba numa ditadura e em violações de direitos humanos. O Brasil não precisa desse recuo. O país já teve uma experiência dessas quando os militares comandavam o país, e não acho que ajude voltar a esse tipo de governo”.

É o óbvio, que não escapa nem a pensadores conservadores, como Fukuyama, que prezam a democracia. Claro que é inútil tentar explicar isso para quem, conservador ou não, não toma a democracia como referência.

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