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Quem respira aliviado?

A análise política deve começar sempre perguntando: cui bono? Quer dizer, quem se beneficia? Nem sempre tal pergunta tem uma resposta inequívoca, como já foi comentado em outro artigo. Mas ela deve ser feita em qualquer balanço objetivo de uma situação.

Vejamos o caso da crise aberta no Brasil atual pela armação Janot-Fachin, que ensejou um ataque especulativo (em termos políticos) ao governo Temer (na verdade o maior já visto em toda nossa história).

Independentemente da culpa no cartório que possam ter (e eles provavelmente têm alguma ou muita) seus principais alvos: Temer e Aécio (sim, só um idiota não percebe que esses eram os alvos políticos principais, ainda que do ponto de vista jurídico existam outros envolvidos), é preciso analisar objetivamente a situação.

O primeiro resultado objetivo da armadilha (sim, uma armadilha) foi tirar o foco dos principais responsáveis pela situação calamitosa em que o Brasil foi jogado pelos governos do PT. Lula e Dilma como que desapareceram do noticiário político e policial. No máximo são tratados agora na quinta página dos jornais. Não ocorreu a Janot articular, nem a Fachin autorizar, nenhuma “ação controlada” contra eles. Nenhuma gravação explosiva. Nenhuma busca e apreensão de documentos. Nenhum pedido de prisão, sequer uma denúncia nova. Nada.

O objetivo da armação era claramente político. Gravações inconsistentes vieram à luz, antecipadas por um “furo” concedido a um jornalista de O Globo, dando conta de que Aécio estaria negociando propina e de que Temer estaria acobertando o criminoso Joesley Batista, da Friboi. Ora, ora…

Vamos pensar um pouco, que não dói. Usando o BNDES e outros bancos públicos Lula fabricou artificialmente empresários campeões amigos do governo (neste particular, imitou Putin e Chávez). Assim nasceram, por exemplo, a JBS dos Friboys e as fictícias empresas X do Fake Batista. No entanto, a acreditar no que diz a imprensa, falou Friboi está falando de Temer e seus negócios escusos com os primeiros Batistas. Ninguém nem lembra do Grande Arquiteto de Garanhuns. Não é interessante constatar como é fácil manipular a opinião pública?

Dias depois a Maria Silvia pede demissão do BNDES. O problema da Maria Silvia não tem nada a ver com uma suposta Orcrim (organização criminosa) governista. Qualquer pessoa razoável sabe que isso não existe: é pura invencionice de delinquentes políticos. Só existe uma organização política criminosa: o núcleo duro do PT dirigido por Lula, Dirceu e seus asseclas. As outras são organizações criminosas de políticos para cometer crimes comuns e não organizações criminosas estruturadas para cometer crimes políticos (contra a democracia). E existe apenas um real operador dessa única organização política criminosa que está preso: João Vaccari Neto.

O problema de Maria Silvia é que ela entrou lá e não fez uma devassa nos processos do banco: até hoje não sabemos para quem o BNDES emprestou e com que critérios, por que foi tanto dinheiro para ditaduras amigas, como Angola e Cuba e para regimes bolivarianos e por que o banco foi usado para fabricar artificialmente (imitando Chávez e Putin) empresários campeões, como os Friboys e o Fake Batista.

Maria Silvia ficou acuada ou foi capturada pela corporação? Talvez a culpa por esse comportamento tenha sido de Temer, que se recusou a fazer a transição democrática pós-impeachment – expondo à nação a herança maldita do PT – e por isso está hoje na situação em que está. Achou que podia levar a galera na conversa. Como o que não mata engorda, os seus inimigos se fortaleceram, tramaram e estão prestes a conseguir a sua cabeça numa bandeja. A da Maria Silvia já foi.

Em comentário a um post no meu mural do Facebook, Avelar Lívio Santos assim resumiu o episódio:

Acho que a Maria Silvia não deu publicidade ao assalto do BNDES e caiu por 4 motivos:

1) Temer assumiu com aquele papo de pacificação, talvez pensando que agindo assim teria refresco da facção cabeça de chapa;

2) Ela deve ter encontrado muita resistência naquele ninho de corruptos do BNDES;

3) Ela queria estancar a sangria do banco e apresentar um resultado positivo moralizando o processo de investimentos;

4) O suíno-empresariado estava com muita fome de dinheiro barato e ao primeiro sinal de fraqueza do Temer pediu a cabeça da presidente austera.

Perfeito. Aí vem a pergunta. O que o suíno-empresariado – com muita fome de dinheiro barato – prefere: um BNDES nas mãos de Lula ou de Temer (ou qualquer outro)?

Bem… a reposta é óbvia. Lula é bem melhor para essa turma de predadores. É melhor, aliás, para qualquer predador. Um suposto representante dos pobres, orgulhando-se de ter feito o maior programa de transferência de renda do mundo (o Bolsa-Família) e, na prática, transferindo ainda mais recursos para os ricos (por meio do Bolsa-BNDES).

Continuemos fazendo a pergunta-chave: cui bono?

A armadilha articulada pela dupla Janot-Fachin contra o governo e seus aliados chega num momento crucial, em que se discutia uma suposta delação de Palocci. Palocci, para quem não sabe, era um operador externo da organização criminosa, não exatamente do seu núcleo duro, como Lula e seus assessores estratégicos homiziados no Instituto Lula, Dirceu e sua gangue, Vaccari, Delúbio e outros dirigentes.

Mas Palocci insinuou que podia fazer uma delação explosiva, entregando outros mega-empresários, inclusive banqueiros.

Nenhum dirigente do PT fez qualquer delação até agora. Se Palocci fizesse, seria o primeiro. Sim, ele ainda pode delatar, apesar de tudo. A questão é o que ele vai delatar.

É preciso conhecer Palocci. Então vamos repetir. Ele foi, sim, em alguma época, quase do núcleo duro, do inner circle em torno de Lula, porém mais pelos serviços fundamentais que prestava e pela desenvoltura com que atuava, do que por convicção ideológica. Nunca foi um apparatchik clássico ao estilo Dirceu, com quem competia. Ele não mantém grandes afinidades com o marxismo-leninismo, o castrismo e os bolivarianismos – e nem mesmo era um bandido sindical rude, no estilo mafioso de Delúbio (que também não tinha tais convicções revolucionárias e, aliás, nunca delatou nada nem ninguém). Palocci não é Dirceu, não é Vaccari, não é Gilbertinho, não é Bargas, não é Berzoini, nem é Okamotto, Paulinho, Dulci ou outro qualquer daqueles assessores estratégicos do Instituto Lula, mencionados acima. Ele sempre foi um capitalista se dando bem no esquema criminoso de poder montado por um partido dito socialista.

Sim, Palocci podia delatar relações com grandes empresas (como JBS – mas o furo vazou antes, como vimos: o objetivo do furo não era revelar o que fizeram os Friboi Brothers e sim apenas uma parte do que eles fizeram, a parte que incrimina o atual governo e seus aliados) e com grandes bancos (adivinhem quais). Não se sabe se chegaria (ou chegará) a revelar maquinações com ministros de tribunais superiores, parece muito improvável. Mas podemos apostar que não revelará nada (inclusive porque não sabe bem) sobre o projeto de poder de mais longo prazo do PT, sobretudo não revelará o mapa das contas secretas do PT em nome de laranjas e de offshores, no Brasil e no exterior, nem entregará coisa alguma dos crimes realmente políticos cometidos contra a democracia por Lula e sua entourage. Por exemplo, ele nunca entregaria o que João Santana e Mônica entregaram, sobre as relações com Chávez e Maduro.

Ao que tudo indica ele. se ainda vier a delatar, ficará restrito aos crimes comuns cometidos por petistas e seus aliados – tudo relacionado a dinheiro, dinheiro, dinheiro – mas não à neutralização de inimigos, espionagem, informação e contra informação, montagem de aparelhos clandestinos, fabricação de falsos dossiês, financiamento ilegal da rede suja de sites e blogs, relações com organizações políticas disfarçadas de movimentos sociais (como o MST), relações ocultas com a Igreja, assassinatos, golpes, armações… Sim, tudo que ele falar (se falar) já ajuda, mas não resolve tanto do ponto de vista do desbaratamento da organização criminosa, chefiada por Lula e Dirceu, que dirige de fato o PT.

É um pouco difícil, para quem não tem experiência nessas coisas, entender tudo isso. As pessoas – inclusive as que se metem a fazer análise política – não têm a menor noção do que é o PT, não sabem o que é uma organização da esquerda revolucionária, não entendem porra nenhuma de quase nada que diga respeito ao que vem sendo feito desde a queda do Muro de Berlim, quando a esquerda enveredou pelo crime. São capazes de dizer – ou, pelo menos, de pensar – que estamos fazendo teoria da conspiração. Mesmo assim, é necessário constatar que, com a armação Janot-Fachin e a cobertura midiática orquestrada (sobretudo pela Rede Globo), Palocci não está falando mais em delatar.

Qualquer pessoa com dois neurônios funcionando sabe que centenas de milhões de dinheiro sujo não poderiam circular, durante tanto tempo, para cima e para baixo, no Brasil e no exterior, somente em cuecas e mochilas. Esse dinheiro ou parte dele transitou pelo sistema financeiro. Grandes empresas apareceram envolvidas no esquema criminoso, mas não os bancos. Mas quando parecia que, afinal, os bancos iam aparecer, eis que…

O mesmo vale para os tribunais superiores de justiça, que ainda estão posando de virgens no lupanar.

Não é difícil perceber quem respira aliviado com tudo isso.

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