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Seguir o que manda a Constituição

Só há uma saída democrática: seguir o que manda a Constituição

Está instalado no país o clima do barata-voa. Esse abafa para Temer renunciar – e quer-se que ele renuncie ontem – é típico de pescadores de águas turvas. Ou daqueles que não morrem abraçados com ninguém. Ou dos mal-lavados que querem parecer limpos.

É claro que se Temer não conseguir se explicar, melhor seria renunciar. Mas renúncia é ato unilateral, não medida que possa ser imposta por qualquer instituição. Temer, se quiser, pode tentar enfrentar seus acusadores, justificando qualquer coisa: se conseguir. Ou apenas mentindo descaradamente, como fez a vigarista Dilma Rousseff.

Parece que ele, Temer, já decidiu, porém, que não vai renunciar. Ouve-se um clamor das bases parlamentares. Ele não está seguindo a vontade geral da nação. Pesquisas de opinião logo aparecem dizendo que 11 em cada 10 brasileiros querem que ele renuncie e renuncie já, hoje, não amanhã, melhor seria se tivesse renunciado ontem.

Alguns falam em nome do bem geral da nação, da estabilidade, da governabilidade. Mas os mandatários que falam isso, em sua maioria, por acaso estão assim tão preocupados com o país? Ora, vão contar lorota em outra freguesia. Esses fariseus, em grande parte, estão atolados na lama até a raiz dos cabelos, são réus ou investigados pela Lava Jato e operações congêneres. São ladrões vulgares.

Ocorre que os petistas, além de ladrões vulgares, são também autocratas perigosos, que atacam nosso regime democrático. Eles são mais determinados. Agem de caso pensado. Por isso estão criando o clima do abafa, para ver se escapam da condenação pelos seus muitos crimes limpando-se na sujeira alheia.

Nenhum desses valentes patriotas que pedem eleições diretas quer renovar a política. Basta fazer-lhes uma proposta para comprovar. Tipo assim: ninguém que foi candidato a qualquer cargo nos últimos 20 anos poderá se candidatar. E aí? Ah!… Aí não dá. Nós queremos é voltar ao poder para emplacar o mesmo velho esquema.

Mas se Temer renunciar ou não renunciar e perder o mandato – por impeachment, processo no STF ou cassação da chapa pelo TSE – assumirá o governo provisoriamente esse monumento de coerência e honestidade chamado Rodrigo Maia e convocará eleições indiretas. Enquanto isso, as reformas ficam paralisadas e a situação econômica do país se deteriora. Pergunta-se então: o que ganhamos com isso? Vamos, por acaso, limpar a política dos corruptos? Como isso será possível se o sistema político apodreceu como um todo e está coalhado de corruptos?

Vamos abolir o sistema político e dar um bypass nas instituições, convocando eleições diretas anticonstitucionais? Para eleger quem? Lula, logo ele, o chefe da organização criminosa? Marina, a solerte esquerdista oportunista que quer herdar os votos lulistas? Bolsonaro, o malucão autocrata e eleitoreiro?

Como repete o Marco Antonio Villa, o impeachment não resolveu, senão apenas abriu a crise. Estamos imersos na crise. E, como cansamos também de repetir, impeachment sem transição democrática pós-PT só poderia dar nisso. Não ter operado essa transição foi o erro capital de Temer, não qualquer dinheiro que tenha pedido ou avalizado para calar um chantagista (se é o que teve mesmo tanto protagonismo nessa decisão burra).

Não há saída boa para a crise atual. Temos que ficar com a menos ruim. A menos ruim é aquela que preserva as instituições do Estado de direito. É seguir o que manda a Constituição Federal. Ponto.

Cui bono? Ou seja, a quem beneficia?

Por que os intelectuais se apaixonam por ditadores e totalitários?