in ,

Uma aventura para pensar de modo inovador

Depois do surgimento da nova ciência das redes e do desenvolvimento de uma visão social da democracia, algumas obras do pensamento mereceriam ser relidas. Claro que esta será tarefa para mais de uma geração. No entanto, nada nos impede de começar (ou de, pelo menos, tentar dar alguma contribuição).

A nova ciência das redes não se reduz à velha análise de redes sociais (SNA), iniciada por Leonhard Euler (1763), ao apresentar sua solução para o problema das sete pontes de Königsberg (que originou a teoria dos grafos). Juntamente com essa sua vertente “pré-histórica” (matemática), a nova ciência das redes incorporou outras vertentes investigativos que encararam as redes ora como estruturas que se desenvolvem, ora como sistemas dinâmicos complexos. A questão é que os avanços dessa nova ciência ensejou também o surgimento de novas visões. Novas visões, a rigor, de tudo.

Tenho me dedicado a isso nos últimos 20 anos. Em 2008, quando estava nascendo a Escola-de-Redes, publiquei um livro justamente com o título: “Novas visões sobre a sociedade, o desenvolvimento, a internet, a política e o mundo glocalizado”. Um resumo mais atual sobre isso pode ser lido no artigo O que você precisa saber sobre redes.

Novas visões, do ponto de vista das redes, implicaram também uma nova visão da democracia, ou seja, uma visão social da democracia, até certo ponto inédita no âmbito da chamada “ciência política”. A partir de 2006 comecei a trabalhar no assunto (um briefing pode ser lido no artigo: O que é democracia). A partir de 2013 esse trabalho avançou para o que chamei (tomando emprestada uma expressão de John Dewey), de ‘democracia como modo-de-vida’ (e não apenas como modo político de administração do Estado-nação, como parece ter sido reduzida a democracia pela reinvenção dos modernos).

Democracia como modo-de-vida é mais ou menos o seguinte. A transição de um olhar platônico para um olhar protagoriano (quando as academias virarão democracias). A democracia como processo intermitente de desconstituição de autocracia. A democracia como um erro no script da Matrix ou como uma janela para o simbionte social poder respirar. O processo de democratização na base da sociedade e no cotidiano do cidadão: em que medida é possível democratizar a família, a escola e a universidade, as igrejas, as organizações da sociedade civil e as empresas? A transição da sociedade hierárquica para uma sociedade em rede: por que não é possível substituir as instituições sociais atuais por outras entidades mais democráticas (a transição que não será substituição). Como usar a democracia para desprogramar seis milênios de cultura autocrática.

Penso que estas duas abordagens – a das redes e a da democracia – modificam completamente nossas visões da humanidade, da história humana, da civilização, da cultura, da sociedade, da comunidade, da política, da sabedoria, da inteligência humana, da criatividade e da inovação, da educação, da filosofia e da ciência.

Foi a partir daí que resolvemos – eu e alguns amigos -, no início de 2018, propor uma aventura coletiva de pensamento que, basicamente, consiste em reconceituar os principais termos que utilizamos para designar algumas categorias de pensamento, gerando um novo glossário contextual e, ao mesmo tempo, revisitar o trabalho de pensadores que, de algum modo, prepararam o ambiente cultural para o surgimento de visões mais compatíveis com as redes e a democracia. Essa aventura foi chamada de Novos Pensadores: http://novospensadores.com

O programa Novos Pensadores apresenta-se na forma de um curso online sobre as novas visões emergentes no século 21, do ponto de vista das redes e da democracia. Mas é muito mais do que isso. É uma viagem para pensar com a própria cabeça – sempre em interação com outras pessoas – de modo inovador.

Tal viagem está em curso, ainda que a jornada esteja bem no início. Por enquanto estamos analisando cerca de 50 conceitos para construir o chamado glossário contextual que permitirá a comunicação menos equívoca entre os que compartilham a aventura.

Exemplos desses conceitos são: rede. rede social (que não é a mesma coisa que mídia social), interação (que não é o mesmo que participação), comunicação (que é diferente de transmissão de informação), padrão (que não é modelo), distribuição (que não é igual à descentralização), hierarquia (que não significa chefia), líder (que não é chefe), transição (que não é substituição), social (que não significa conjunto de indivíduos), pessoa (que não é mesmo que indivíduo), liberdade (que não depende de igualdade), democracia (que não se reduz à eleição, nem é o governo de todos, ou da maioria), público (que não é sinônimo de estatal), paz (que não deve ser entendida como ausência de conflito), guerra (que não é necessariamente violência), revolução (que não pode ser entendida como tomada de poder do Estado), opinião (que não é saber técnico, científico ou filosófico e não pode ser desvalorizada por estes saberes), mérito (que é uma coisa bem diferente de meritocracia), pobreza (que não significa insuficiência de renda), globalização (que não tem a ver com globalismo), capitalismo (que não é livre-mercado), liberalismo (que não se reduz ao liberalismo-econômico), estatismo (que não se reduz à não intervenção do Estado na economia), humanidade (que não é a coleção dos habitantes do planeta), história (que não é a história da civilização patriarcal), aprender (que não é adquirir mais conhecimento), aprendizagem (que não é ensino ou educação), espiritualidade (que não é o mesmo que religião), laico (que é diferente de ateu) et coetera.

Em breve começaremos a conversar com as obras de cerca de 70 novos pensadores (escolhidos como exemplos de pensadores “fora da caixa”, em todos os campos: da ciência das redes e da democracia, é claro, mas também da psicologia à história, passando pela biologia, pela epistemologia, pela educação, pelas formas não-religiosas de espiritualidade). Não pretendemos analisar as obras completas desses pensadores – o que seria tarefa impossível para uma única e limitada iniciativa – mas apenas tentar entrar em contato com partes de suas contribuições mais sintonizados com a nossa abordagem.

Dentre os teóricos das redes (e da sociedade-em-rede) escolhemos visitar o trabalho de investigadores como Albert Barabasi, Duncan Watts, Fernando Veja-Redondo, Fritjof Capra, Jacob Moreno, Jane Jacobs, Jure Leskovec, Manuel Castells, Manuel Delanda, Nicholas Christakis, Pierre Lèvy e Steven Strogatz, entre outros. Também vale a pena conhecer os antecessores (ou precursores) de um pensamento sobre redes, como – para citar apenas alguns exemplos notáveis – Buckminster Fuller, Francisco Varela, Gregory Bateson, Heinz von Foerster, John von Neumann, Ludwig von Bertalanffy e Norbert Wiener.

Dentre os pensadores da democracia, concluímos que se deve conhecer, entre outros (em ordem alfabética): Alexis de Tocqueville, Amartya Sen, Baruch Spinoza, Claude Lefort, Cornelius Castoriadis, Francis Fukuyama, Hannah Arendt, Henry Thoreau, Humberto Maturana, Isaiah Berlin, Jacques Rancière, Jean-Jacques Rousseau, Johannes Althusius, John Dewey, John Rawls, John Stuart Mill, Karl Popper, Norberto Bobbio, Ralf Dahrendorf, Robert Dahl, Thomas Paine. Mas como a democracia é um processo de desconstituição de autocracia (e aprender democracia é desaprender autocracia), não podem ficar de fora os principais distopistas, como Aldous Huxley, Alexander Soljenítsin (este narrando uma experiência concreta de sofrimento humano em uma distopia real), Arthur Koestler, George Orwell, Jerome Klapka Jerome, Ray Bradbury, William Golding e Yevgeny Zamyatin.

É claro que é bom conhecer, além disso, alguns pensadores disruptivos de outras áreas. Por exemplo, os que escreveram sobre educação – e o tema é particularmente relevante na medida em que se refere à programação de controle para repetir passado – de um ponto de vista heterodoxo, como Carl Roger, Ivan Illich, John Holt e Liev Tolstoi (para não falar de Friedrich Nietzsche). E também algumas mentes inquisitivas em geral, como Alfred North Whitehead, Carl Jung, Carlos Castaneda, Daniel Quinn, Edgar Morin, Hakim Bey, James Hillman, Jiddu Krishnamurti, Lynn Margulis, Marshall McLuhan, Osho, Paul Feyerabend, Ralph Abraham, William Irwin Thompson. Sem esquecer, é claro, dos ficcionistas que, de certa forma, anteciparam futuro, como Bruce Sterling, Frank Herbert, Isaac Asimov, Philip Dick e William Gibson.

Estamos preparando agora uma coleção de escritos escolhidos desses autores que será editada – como livros em papel – e distribuída mensalmente apenas no âmbito de uma espécie de clube do livro dos novos pensadores, com uma introdução-resenha evidenciando sempre as conexões desses escritos com a abordagem adotada. Esses livros começarão a ser publicados nos próximos três meses. Talvez nos próximos sete anos a primeira parte da coleção esteja completa.

É isso. A aventura dos Novos Pensadores não tem dia para terminar. É uma atividade permanente. E todos os interessados estão convidados a embarcar.

As inscrições para o programa vão ser fechadas no próximo 28 de fevereiro e só reabrem em maio de 2018. Se você quiser se inscrever clique aqui.

INFORMAÇÕES DA EQUIPE DO PROGRAMA

Temos um resumo para lhe ajudar a entrar na turma de fevereiro do programa Novos Pensadores.

Por que as pessoas estão fazendo o programa Novos Pensadores?

1 – Para refrescar suas ideias com visões inovadoras, totalmente fora da caixa.

2 – Porque conhecem a experiência de Augusto de Franco, com uma vida dedicada ao estudo de desenvolvimento local, capital social, democracia e redes sociais.

3 – Para conhecer outras pessoas que sintonizam com estas mesmas ideias e interagir com elas.

4 – Para ter a oportunidade de empreender projetos com outras pessoas a partir dos conceitos apresentados pelo programa.

5 – Para conhecer diversos pensadores que inovaram em suas respectivas áreas, e dar continuidade ao seu pensamento na nova sociedade-em-rede que se prefigura.

6 – Para poder interagir ao vivo e diretamente com Augusto de Franco sobre os mais diversos temas abordados pelo programa.

7 – Porque apoiam iniciativas que são capazes de nos humanizar.

8 – Para ter insights capazes de gerar novos modos-de-agir no que diz respeito à nossa convivência, à política, à aprendizagem, ao empreendedorismo e à espiritualidade.

9 – Para conhecer, estudar e se aprofundar em todo arcabouço intelectual e filosófico que ampara o programa Novos Pensadores.

10 – Para começar a fazer a diferença diante desta cultura patriarcal que se reproduz há quase seis milênios e ser também um Novo Pensador!

Quer saber quanto custa? Temos dois planos, o semestral, que custa R$ 360, e o plano anual, com o valor de R$ 690. Vamos falar do plano anual.

1 – Ao adquirir o plano anual do Novos Pensadores você ganha o curso de introdução à democracia chamado SEM DOUTRINA, que possui o valor de R$ 297,00, sem custo!

2 – Você pode parcelar o plano anual em até 12x, ficando apenas R$ 67,37 por mês (um pouco mais de 2 reais por dia).

3 – Ao entrar, você terá acesso a uma área de membros dos Novos Pensadores, onde ficam gravados todos os webinars que ocorrem ao vivo para assistir novamente quando puder, quantas vezes quiser.

4 – Cada webinar possui uma área de interação para troca de ideias e perguntas.

5 – Cada webinar possui um material de apoio (textos, livros, filmes, questões etc) disponibilizados gratuitamente para você aprofundar o tema.

6 – Você fará parte de um grupo secreto no Facebook exclusivo dos Novos Pensadores.

7 – O programa ocorre toda segunda, às 20h00. Você terá poderá assistir e terá acesso portanto a 52 webinars ao vivo com Augusto de Franco, além de todos os outros webinars já realizados antes da sua inscrição.

Deixe uma resposta

Loading…

Deixe seu comentário

Uma teonomia totalitária fundamentalista cristã-militar

The historical turn in democratization studies