Fabricando o genocídio de Israel
Novembro 2023
É claro que estão morrendo civis e militares inocentes como consequência do ataque terrorista do Hamas contra Israel. Instalou-se uma guerra. Isso acontece em qualquer guerra e não existe guerra humanitária. Não deveria estar morrendo nem um ser humano, mas aí não seria guerra (e por isso a guerra – do ponto de vista da democracia – é condenável como modo de regulação de conflitos). No entanto, não se pode – para fazer uma guerra suja de propaganda – falsificar o número de mortos para acusar um dos lados (no caso, Israel) de estar cometendo genocídio.
Vejamos, em sete pontos, o que está acontecendo.
1 – O Hamas fornece diariamente, sem qualquer comprovação, números fraudulentos de civis palestinos mortos por Israel (sempre com destaque para as criancinhas inocentes – o modo preferido, por Putin e por Lula, de despedaçar corações). A cada dia acrescenta automaticamente mais mil mortos na lista. Não há identificação dos mortos (nomes e sobrenomes, filiação, profissão, endereço residencial). Nas informações plantadas pelo Hamas nunca são incluídos os números de seus combatentes mortos, só de civis inocentes (é como se, nessa guerra, estivessem Israel de um lado e os civis palestinos do outro lado: o Hamas simplesmente sumiu; ou foi sumido). Não há jornalistas independentes em Gaza para confirmar qualquer informação.
2 – O marxista António Guterres, secretário-geral da ONU, repete a informação fraudulenta conferindo-lhe credibilidade e verossimilhança. Nesta semana ele declarou: “Gaza está se tornando um cemitério de crianças. Centenas de meninas e meninos estão sendo mortos ou feridos todos os dias, de acordo com relatos”. “De acordo com relatos”? Relatos de quem? Um secretário-geral da ONU deveria ser mais responsável. Mas vamos em frente.
3 – Agências da ONU, como o UNICEF e a UNRWA (para refugiados palestinos), repetem igualmente a informação fraudulenta.
Manchetes de grandes jornais e portais noticiam: “a ONU informou que ao menos uma criança é morta a cada 10 minutos em Gaza desde o início da guerra entre Israel e Hamas. A cada 10 minutos pelo menos duas crianças também são feridas na região, segundo dados divulgados pela agência da ONU para refugiados palestinos, UNRWA”.
Essa UNRWA – Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente – não é a ONU, é claro. Mas passa por ser a ONU porque é uma das numerosas agências do sistema das Nações Unidas que sustenta uma enorme militância burocrática com autonomia para falar como ONU.
É pior, entretanto. Segundo recente relatório da organização independente UN Watch, o número de funcionários dessa agência (UNRWA) que incitam à violência e ao ódio inclui centenas, senão milhares dos seus 30 mil funcionários!
Entre os “educadores” da UNRWA que usaram os seus canais pessoais nas redes sociais para propagar o ódio e celebrar o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro, estão: o professor da UNRWA em Gaza, Osama Ahmed, que postou “Alá é Grande, Alá é Grande, a realidade supera nossos sonhos mais loucos” enquanto o massacre se desenrolava; o diretor da escola da UNRWA, Iman Hassan, justificou o massacre como “restauração de direitos” e “reparação” das “queixas” palestinas; a diretora do Centro de Treinamento Khan Younis da UNRWA, Rawia Helles, que participa de uma campanha da UNRWA, glorificou um dos terroristas como um “herói”, “invasor” e “príncipe de Khan Younis”; a professora de inglês da UNRWA, Asmaa Raffia Kuheil, postou com entusiasmo “7 de outubro de 2023! Escultura a data!” adicionando um emoji de coração; o administrador escolar da UNRWA, Hmada Ahmed, postou “bem-vindo ao grande outubro”. É uma pequena mostra de como, abusando da ONU, militantes pró-jihadistas estão atuando em Gaza e na Cisjordânia. Tem mais.
4 – Organizações humanitárias como Human Rights Watch, Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, também repetem a informação fraudulenta. Assim como nas mencionadas agências locais da ONU, parte dos militantes alocados nessas organizações atua em estreita colaboração com o Hamas. Ou são pelo menos complacentes com o desvio e o roubo de água, alimentos, medicamentos e combustíveis, que são retirados dos hospitais e das escolas para abastecer os túneis onde se localizam os bunkers dos terroristas.
5 – Esse processo de “lavagem” das informações fraudulentas (fake news) meio que autoriza a imprensa internacional a repetir os números fornecidos por um suposto “Ministério da Sáude” de Gaza, na maior parte dos casos sem esclarecer que a informação é inconfiável porque proveniente da organização terrorista Hamas.
6 – Chefes de governo e altos funcionários de ditaduras e de governos populistas (de direita ou de esquerda) mundo afora repetem os mesmos números, acrescentando que eles provam o genocídio praticado pelo Estado terrorista de Israel. O que prova, na verdade, outra coisa: que essa guerra do Hamas é uma guerra do eixo autocrático – Rússia, Irã (Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Hutis), Síria e mais de uma dezena de ditaduras do Oriente Médio, passando pela China e Coreia do Norte, para não falar da África e da América Latina – contra as democracias liberais (no momento atacando a Ucrânia e Israel, mas tudo indica que não vão parar por aí).
7 – Militantes de esquerda e de direita em muitos países (inclusive em grandes democracias, como Alemanha, Canadá, Estados Unidos e Austrália), incendeiam então as mídias sociais convocando manifestações de apoio ao povo palestino (onde aparecem bandeiras do Hamas e até do Talibã) e contra Israel (algumas explicitamente antissemitas). Ensandecidos, gritam nas ruas: “From the river to the sea Palestine will be free”. Ou seja, estão propondo nada menos do que a exterminação de Israel. E aí pedem diariamente um cessar-fogo para paralisar a reação de Israel ao terrorismo. Enquanto se esquecem, não raro, de pedir a libertação dos reféns.
Conclusão alarmante. É muito perigoso – não só para a democracia, mas para a humanidade – o que vem acontecendo. Está ficando cada vez mais clara uma aliança tácita (e às vezes explícita, como no caso do Hamas) entre o terrorismo e as grandes autocracias do planeta, com a leniência ou a conivência, frequentemente até com o apoio, de governos populistas, como – para citar apenas alguns exemplos do díspare espectro ideológico – os da Turquia, da Bolívia, da Colômbia e, infelizmente, do Brasil.
Lula fez uma escolha ilegítima
Novembro 2023
Pesquisa do instituto Real Time Big Data, feita em 16-17/11/2023, mostra que 77% dos brasileiros discordam das falas do presidente Lula comparando Israel ao grupo terrorista Hamas. Mesmo assim, ele insiste nos desatinos. Já começou seu terceiro mandato falando com uma arrogância de quem venceu com mais de 80% dos votos (e não apenas por menos de 2%). E continua falando como se fosse aprovado por 80% dos brasileiros (e não por menos da metade – como mostra outra pesquisa, a da Atlas Intel, deste mês de novembro).
A fala de Lula chamando Israel de terrorista foi a gota d’água. Selou o seu destino aos olhos das nações civilizadas do planeta. Ele fez uma escolha: ficar do lado do eixo autocrático contra as democracias liberais.
Não, não é só a vacilação em relação ao Hamas e a posição hostil a Israel que demonstram a escolha feita por Lula.
É isso o que mostra a posição insustentável do governo brasileiro sobre à invasão da Ucrânia pela ditadura de Putin.
É isso o que sinalizam seus modos espevitados para parecer chegado ao ditador chinês Xi Jinping e a aproximação entre seu partido e o Partido Comunista da China.
É isso o que atesta seu namoro (que não é de hoje) com a teocracia iraniana.
É isso o que revela sua defesa da ditadura cubana e das ditaduras venezuelana, nicaraguense e angolana.
É isso que mostra sua saliência para articular um BRICS coalhado de autocracias e se passar por grande líder do aglomerado ideológico chamado Sul Global (no qual se inclui a China, conquanto no hemisfério norte, mas do qual estão excluídas, só porque são democracias liberais, Austrália e Nova Zelândia, situadas ao sul do hemisfério sul).
Os chefes de governos dos países onde vigoram direitos políticos e liberdades civis, por ora, podem não dizer nada por razões diplomáticas, mas estão vendo tudo com clareza e entenderam o recado de que não podem contar com Lula para defender a ordem democrática internacional do ataque sórdido, em múltiplas frentes, ora desfechado pelas autocracias e pelo terrorismo, contra as democracias liberais.
E nós, brasileiros e brasileiras, mesmo os que votaram nele, Lula, por razões, digamos, de saúde pública, para impedir a continuidade no governo da entidade do baixo astral chamada Jair Bolsonaro, não fizemos majoritariamente a mesma escolha de Lula e consideramos ilegítimo que ele a faça em nosso nome. O fato de Lula ter sido eleito não lhe dá o direito de fazer escolhas que violam o espírito e a letra da nossa Constituição.
Sim, a Constituição Federal de 1988 toma partido: o partido da democracia. Afirma que não há democracia sem veneração à soberania, à cidadania, à dignidade da pessoa humana e ao pluralismo político. Estabelece como direitos fundamentais, entre outros, a liberdade de expressão e a liberdade religiosa. Afirma ainda que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto. Tudo isso não existe nos aliados preferenciais do atual governo brasileiro, como a Rússia, a China, o Irã e nem na maioria dos outros países do BRICS e nas ditaduras da América Latina e da África. Mais de 70% dos BRICS são ditaduras (autocracias fechadas e eleitorais). E vai piorar com a possível troca de Argentina por Paquistão e a entrada, se depender de Lula, da Venezuela.
Lula foi eleito legitimamente, mas não será mais um presidente legítimo perante nossa Constituição democrática na medida em que continuar se alinhando às maiores autocracias do planeta contra as democracias liberais.
Como Lula não vai parar de tentar alinhar o Brasil ao eixo autocrático, na verdade, já era. Sim, porque Lula não é alguém com problemas cognitivos. Não é um líder do século passado que não conseguiu se aggiornar. Não é alguém que bebe e perde a noção, comete deslizes e se atrapalha. Não! Lula está perfeitamente consciente do seu papel de ser um agente do eixo autocrático em ascensão no século 21 contra as democracias liberais.
Claro que, instados a explicar esse caminho insano que estão percorrendo, os altos funcionários do governo vão negar tudo. Mas basta esquecer essas declarações oficiais, feitas só para enganar os trouxas e ver como se comportam os militantes governistas (lulopetistas) nas mídias sociais. Eles abandonaram completamente o referencial da democracia. Têm orgasmos ao exaltar o poder das ditaduras. Elogiam Rússia, China e, inclusive, o Irã e atacam sem parar as democracias liberais chamando-as de imperialistas e colonialistas.
É mais grave do que se pensa. Já estamos no dark side of the force. Quem não se importa com isso não está mais no campo da democracia.
A farsa dos números de mortos em Gaza
Dezembro 2023
Quer saber os números da guerra em Gaza? É só perguntar ao Lula, que divulga os números fakes fornecidos pelo Hamas. No dia 1 de dezembro de 2023 ele cravou, com a desenvoltura de um porta-voz (do Hamas):
“16 mil mortos, 6.500 crianças, 35 mil pessoas feridas, 7 mil desaparecidos, 40 mil casas destruídas, hospitais destruídos”.
No mesmo dia 1 de dezembro o maior portal de notícias brasileiro publicou o seguinte:
“As autoridades de saúde palestinas consideradas confiáveis pelas Nações Unidas dizem que mais de 15.000 habitantes de Gaza foram mortos”.
“Nações Unidas”? Toda vez que você, caro leitor, for atingido por uma notícia sobre Gaza que começa assim: “Segundo a ONU…” pode saber que há grande chance de ser uma informação fraudulenta. Não há ONU sediada em Gaza. Há agências associadas ao terrorismo, como a UNRWA. É assim que o Hamas está ganhando sua guerra suja de propaganda contra Israel.
O centro da guerra suja é a falsificação do número de mortos por Israel em Gaza. Por isso este artigo foi escrito.
Ninguém sabe o número de civis palestinos mortos por Israel na Faixa de Gaza. Ninguém sabe o número de combatentes do Hamas mortos na guerra (pois essa informação jamais é divulgada). Para todos os efeitos práticos, o Hamas é civil. Logo, todo jihadista que morre é um civil genocidado por Israel.
Vejam a informação da inteligência artificial do Google (em 06/12/2023 às 16h00):
“De acordo com o Hamas, o número de mortos na Faixa de Gaza chegou a 16.248. O número de feridos é de 43.616 e 7.600 pessoas estão desaparecidas. Os mortos incluem 7.112 crianças e 4.885 mulheres”.
De onde sairam esses números de mais de 16 mil mortos (dos quais mais de 7 mil crianças) por Israel? De uma única fonte: a organização terrorista Hamas. Há verificação independente? Não! Mas todo dia eles são repetidos pela ONU (leia-se UNRWA, UNICEF, UNOCHA e pelo Secretário-Geral que contraiu a doença senil da esquerda lamentativa), por organizações humanitárias (como a Cruz Vermelha) e por outros órgãos internacionais (como a Human Rights Watch), pelo Vaticano, por Lula e pela imprensa.
Temos nome, sobrenome, filiação, profissão, endereço ou alguma outra identificação desses mortos? Não! Sabemos onde estão sepultados os corpos ou restos mortais dos que não estão desaparecidos? Não! E a cada dia o Hamas aduz automaticamente mais uma quantidade administrada politicamente de mortos na sua lista macabra.
Onde fica essa central de apuração de mortos do Hamas? Quantas pessoas trabalham na contabilidade dos mortos? Existe um software para a totalização ou a lista é escrita à mão (e a quantas mãos) em papel de padaria mesmo?
Jornalistas que – alegando falta de verificação independente – colocam em dúvida as informações de Israel sobre o uso de hospitais, mesquitas, escolas, jardins de infância e parques infantis pelos jihadistas do Hamas, não colocam em dúvida os números de mortos fornecidos unicamente pelo Hamas.
Recentemente, Aizenberg (@Aizenberg55 no X) – membro do conselho do @HonestReporting – fez uma uma análise minuciosa dos números de vítimas de Gaza relatados pelo OCHA da ONU (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários) com base nos números diários do “Ministério da Saúde” do Hamas. Ela prova que esses número são falsificados: mulheres e crianças estão extremamente inflacionadas.
Ele, Aizenberg, escreveu o seguinte (em 04/12/2023, no X):
“É imediatamente óbvio que o Hamas não relata NENHUMA morte de combatentes e os números, surpreendentemente, parecem indicar que as bombas e balas das FDI atingiram desproporcionalmente mulheres, crianças e idosos. As IDF NÃO conseguem atingir muitos homens em idade de lutar. Mas os números são falsos.
Isso se torna aparente pela primeira vez no relatório de 19 de outubro de 2023, onde o Hamas relata 3.785 mortes contra 3.478 no dia anterior ou +307. Mas as crianças mortas magicamente passam de 853 para 1.524 ou +671.
Em 18 de outubro, as mortes relatadas eram de 25% de crianças, mas no dia seguinte salta para 40%! Nenhuma explicação é dada. Não há ajuste em datas posteriores. A contagem contínua prossegue de 1.524 até hoje (04/12). Nenhum questionamento, nenhum ceticismo por parte da ONU, das ONGs ou da mídia sobre como o número de mortes de crianças aumenta repentinamente.
Mas há mais falsificações em datas posteriores. Em 26 de outubro o Hamas relatou 7.028 mortes contra 6.547 do dia anterior ou +481. Notavelmente, mulheres e crianças mortas aumentaram em +626 naquele mesmo dia! Aparentemente, nenhum homem morreu naquele dia. Mais uma vez, não há qualquer sinal de vergonha ou ceticismo por parte da ONU em publicar estes números do Hamas.
Mas tem mais números fabricados pelo Hamas: em 29 de outubro +302 novas mortes foram relatadas, mas de alguma forma compostas por +199 mulheres e +129 crianças, o que representa +328 ou 26 a mais do que o total de mortes! Os homens voltaram à vida? Mas claro, vamos confiar nessas estatísticas.
Mais mentiras diárias. Em 31 de outubro, 8.525 mortes foram relatadas contra 8.309 no dia anterior ou +216. As novas mortes de mulheres e crianças foram +210. O que significa que APENAS SEIS homens de qualquer idade foram mortos naquele dia! Isso representa 2,8% das fatalidades daquele dia!
Tem mais ainda. Em 7 de novembro, o Hamas relatou 10.328 mortes no total contra 10.022 do dia anterior ou +306. Novas mortes de mulheres e crianças +302. O que significa que APENAS QUATRO homens de qualquer idade foram mortos naquele dia! Isso representa 1,3% das mortes daquele dia. É nisso que as ONGs e a ONU confiam”.
Populistas – agora travestidos de campeões humanitários – fazem a festa com os números de criancinhas inocentes mortas. Lula chegou a dizer, em 5 de dezembro, em viagem à Alemanha:
“Não há por que haver essa guerra. Nunca vi uma guerra com uma preferência da morte sobre crianças, mulheres… Mulheres, inclusive, antecipando o parto, fazendo cesariana para não ver seus filhos morrerem”.
Isso tudo está sendo engendrado em Gaza. Mas Gaza não é bem o que a gente pensa. Não é somente uma prisão a ceu aberto de palestinos expulsos de suas terras ou um conjunto de campos de refugiados. É uma base experimental, uma espécie de laboratório e incubadora, para a preparação e eclosão de uma ofensiva do jihadismo ofensivo islâmico e das maiores autocracias do planeta (com destaque para Rússia, Irã e Síria), com o apoio de governos populistas (de esquerda e de direita), contra as democracias liberais no plano global.
Além dos recursos incalculáveis do narcotráfico e do tráfico de armas, bilhões de dólares são transferidos, há mais de uma década, por ditaduras, mas também por democracias (sob as rubricas de ajuda humanitária e para o desenvolvimento), para financiar milhares (sim, não são dezenas, nem centenas e sim milhares) de militantes, islâmicos e não-islâmicos, palestinos e não-palestinos, muitos deles revolucionários de esquerda, originários de dezenas de países de todos os continentes, homiziados em entidades humanitárias e agências do sistema das Nações Unidas que atuam naquele território em conluio com organizações terroristas como Hamas, Jihad Islâmica e Hezbollah.
A guerra do Hamas, incubada em Gaza, não é somente contra Israel. É uma guerra do eixo autocrático – que agora tenta salvar o Hamas da extinção (o cessar-fogo tem esse objetivo) – contra as democracias liberais. Israel é o alvo do momento, juntamente com a Ucrânia: depois virão outros, como Taiwan. E aí… nem adiantará mais fugir para as montanhas.
Por que não temos uma oposição democrática no Brasil
Dezembro 2023
Governo existe em qualquer regime, mas não há democracia sem oposição democrática. Um dos indicadores para medir a qualidade da democracia é avaliar o quanto o governo reconhece e valoriza o papel de uma oposição democrática.
No entanto, não temos hoje no Brasil uma oposição democrática, nem um governo que reconheça a sua necessidade e a valorize como parte fundamental da governabilidade democrática. As razões não são difíceis de detectar.
Os bolsonaristas não podem fazer uma oposição democrática ao governo Lula. Em primeiro lugar, porque… não são democratas! Basta ver como admiram Trump, Orbán e, se cavar mais dois dedinhos, até o Putin – que são, todos, populistas-autoritários, iliberais. Em segundo lugar porque não fazem propriamente política (mas antipolítica): acham que estão numa guerra religiosa (defendendo deus, pátria, família patriarcal e hierarquia social contra a dissolução dos costumes tradicionais que estaria sendo promovida pelos comunistas por meio da defesa do aborto, da ideologia de gênero, da doutrinação das crianças nas escolas, do desarmamento da população etc.).
Os pouquíssimos democratas liberais (quer dizer, não-populistas) que se abstiveram, anularam o voto ou votaram em Lula nas eleições de 2022 (unicamente para impedir a reeleição de Bolsonaro) ou foram cooptados pelo governo (como a inconsistente Tebet) ou não conseguiram articular uma força política expressiva para se opor ao neopopulismo de esquerda que está avançando no controle das instituições (nas empresas estatais, nos órgãos de controle, nas cortes superiores de justiça e, inclusive, em grande parte imprensa profissional – pela primeira vez incorporada como peça orgânica do sistema de governança oficial). Além disso, os democratas não estão conseguindo denunciar o alinhamento do país ao eixo autocrático que ora ataca as democracias liberais (sim, contra o espírito e a letra da nossa Constituição, que toma partido da democracia, o governo está escolhendo o lado antidemocrático da segunda grande guerra fria que já começou). Neste momento, o eixo autocrático – Rússia, Irã, Síria e outras tiranias do Oriente Medio, com o apoio da China e de governos populistas da Europa, América Latina e África (reunidos no BRICS ou no Sul Global) – está na ofensiva e o governo brasileiro embarca alegremente nessa aventura insana que ameaça destruir a ordem liberal no plano global.
No plano interno, não há mais um centro de gravidade democrático em torno do qual a política institucional possa gravitar, nem uma movimentação social que sustente uma alternativa democrático-liberal. Hoje a democracia está dependendo de um “centrão” fisiológico que se aluga ao governo em troca de verbas e cargos. Mas, por incrível que pareça, se não fosse esse chamado “centrão” – que precisa da democracia para sobreviver (pois sua profissão é viver dela) -, nosso regime entraria em transição autocratizante muito mais rapidamente (com o governo “passando a boiada” no parlamento).
Não adianta torcer pela volta do bolsonarismo ao governo em 2026 num golpe de sorte eleitoral. Trocaremos, novamente, um populismo por outro – ambos não-liberais. Esta situação não terá solução enquanto houver um deficit tão acentuado de agentes democráticos na sociedade brasileira. Isso significa que, no curto prazo, não há solução. Mas significa também que os democratas sabem o que precisa ser feito, ainda que numa perspectiva de longo prazo.
Não existe democracia sem democratas. É uma questão de sobrevivência para os democratas – e para a própria democracia – expandir a aprendizagem da democracia em todos os lugares onde seja possível fazer isso. O objetivo é multiplicar o número de agentes democráticos que sejam capazes de reconhecer e refutar os populismos que hoje são os principais adversários da democracia, no mundo e no Brasil.
É preciso dizer, ao contrário do que muitos pensam, que populismo não é característica psicológico-política de um líder. Populismo é um comportamento político que consubstancia forças políticas concretas (organizações, partidos e movimentos que arregimentam seguidores). Por isso, não adianta dizer: “Bolsonaro é populista, mas Tarcísio não é” ou “Lula é populista, mas Haddad não é”. Bolsonarismo e lulopetismo, com ou sem Bolsonaro e Lula, são forças políticas populistas. Enquanto essas forças, no governo ou fora dele, estiverem polarizando o cenário político nacional, não haverá lugar para o florescimento de uma oposição democrática.
Quem investiga redes e democracia entende que os democratas são netweavers. A eles acabe articular e animar o processo interativo de formação de uma opinião pública democrática. Esse papel não é cumprido por maiorias, mas por minorias de agentes democráticos. Por certo, os agentes democráticos ativos nunca foram e jamais serão maioria. Os democratas não são a massa, mas o fermento na massa. Todavia, uma quantidade tão pouca de fermento, não pode fermentar nada. Essa é a nossa situação atual.
Sob a terceira onda de autocratização que nos assola neste século e num novo estado de guerra fria já instalado, o desafio parece insuperável. Talvez seja mesmo, no curto e médio prazos. Entretanto é própria dos democratas a teimosia de remar contra a corrente. A democracia original dos atenienses nasceu como que numa ilha, cercada de autocracias por todos os lados. E mesmo assim eles desafiaram o que parecia ser uma ordem natural ou sobrenatural.
Voltamos ao início. Cabe-nos, agora, fazer a mesma coisa.