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Bolsonaro é inaceitável

Diz-se que Bolsonaro é legítimo porque foi eleito legitimamente. Entretanto, para ser legítimo em uma democracia não basta a um presidente ter sido eleito legitimamente. É necessário também que ele governe democraticamente. Chávez e Maduro foram eleitos e reeleitos na Venezuela. O mesmo ocorreu com Erdogan na Turquia. E com Orbán na Hungria. Todos estes foram eleitos por maioria. Nem por isso são governantes legítimos do ponto de vista da democracia.

Diz-se, ainda, que Bolsonaro governa democraticamente porque não rasgou a Constituição e não destruiu as principais instituições do Estado de direito. Mas, em termos substantivos, isso não é bem verdade. Ele é sua família estão diariamente incentivando seus milicianos a atacar o Congresso, o STF e a imprensa livre. E, como presidente, ele mesmo, Jair Bolsonaro, está tomando medidas concretas contra a independência da Receita Federal, do Coaf, da Polícia Federal, da PGR, do Ibama, do Inpe, do ICMBio, da Ancine, das Universidades etc.

Ademais, Bolsonaro prejudica os interesses nacionais e internacionais do Brasil para emplacar a sua visão ideológica particular. E com isso está esculhambando nossa política externa.

O mais grave, porém, é que Bolsonaro está corroendo as bases sociais da democracia ao atuar como um chefe de facção que investe na divisão e na guerra entre os brasileiros. Na medida que se comporta assim, do ponto de vista substantivo da democracia, não é legítimo.

Do fato de não haver, neste momento, condições políticas para o impeachment (pois que, do ponto de vista legal, a rigor, já há motivos), não decorre que os democratas devam aceitar Bolsonaro e tentar conviver com ele ou, pior, se adaptar a ele. Ele é inaceitável.

Ao contrário do que anunciavam as pollyannas, Bolsonaro não foi e não será controlado, domesticado ou desasnado por ninguém: nem pelos militares, nem por Paulo Guedes e seus economistas que servem ao empresariado, nem pelo peso do cargo que ocupa. Ele continua imaginando que pode governar o Brasil como administrava o seu gabinete parlamentar e os dos seus filhos. Foi no que deu colocar na presidência da República o chefete de um muquifo no bas-fond.

Por certo, enquanto não houver condições políticas para depô-lo legalmente, vamos ter de coexistir com ele, porém fazendo-lhe oposição contundente e resistindo diariamente às suas investidas autoritárias. E os que aderiram ao governo com boas intenções, assim como os que resolveram apoiá-lo com medo de sofrer retaliações, devem rapidamente se distanciar desse sujeito tóxico. Sim, ele é tóxico.

Já está passando da hora das pessoas de índole democrática que embarcaram no governo, seja porque acreditaram que poderiam fazer um bom trabalho (até independentemente das loucuras do capitão), seja porque vislumbraram que assim teriam mais chances de sucesso eleitoral em suas empreitadas futuras, se desvencilharem de Bolsonaro.

Quem tem um mínimo de apreço pela democracia não pode permanecer junto com esse comandante baixo-nível de uma cáfila caracterizada pelo familismo amoral (que, por uma conjunção particularíssima de fatores, chegou à presidência da República).

Ministros, funcionários com cargos de confiança em todos os escalões (inclusive militares), governadores, prefeitos e aliados táticos nos parlamentos, empresários com algum juízo, intelectuais (em especial jornalistas e analistas políticos) que ainda tentam salvar o capitão dele mesmo (esperando uma mudança de comportamento que não virá), devem começar a configurar espaços próprios de maior autonomia para sua atuação e a preparar um lugar mais digno na história, salvando enquanto é tempo suas biografias.

Até porque não há a menor chance dessa aventura dar certo num país democrático do tamanho do Brasil. Olhem a evolução das pesquisas. Pesquisa CNT / MDA, divulgada no último 26 de agosto, revelou que a reprovação ao desempenho pessoal de Bolsonaro saltou de 28,2% em fevereiro para 53,7% em agosto de 2019. Está subindo mais rápido do que a reprovação popular de Dilma. Alguém ainda acha que vai acontecer um milagre que reverterá a situação?

Quem não começar a se desvencilhar agora de Bolsonaro, quando o barco afundar, dificilmente escapará do naufrágio.

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