Augusto de Franco
“Ah! Mas o impeachment não passaria hoje na Câmara”. Verdade. Mas isso significa apenas que devemos intensificar hoje a campanha pelo impeachment. Não é mais uma questão de ‘se’ vamos fazer e sim de ‘quando’ vamos fazer.
Como disse Humberto Maturana, em entrevista para o site Emol (27/04/2020), “para definir para onde estamos indo, precisamos começar agora… O futuro não está lá: está aqui e aparecerá de uma maneira ou de outra, dependendo de como eu me conduzo”.
O IMPEACHMENT HOJE É A CAMPANHA PELO IMPEACHMENT
Portanto, é bobagem dizer que agora não há condições para o impeachment de Bolsonaro. Ora, claro que não há mesmo. O impeachment é instrumento jurídico e político. Do ponto de vista político funciona como uma campanha, que cresce à medida que avança. Qual o candidato que, no início da campanha, já tem todos os votos para vencer o pleito?
Bolsonaro ainda tem – no início de maio de 2020 – 1/3 dos votos na Câmara para barrar o impeachment. Certo! Mas por causa disso ele deve continuar no governo até 2022? É como se esse 1/3 ou pouco mais fosse eterno, quando se sabe que não é. Depende de muitos fatores: do descontentamento popular, passando pela perda de base congressual, pela convicção do mundo jurídico, pelas opiniões dominantes nos meios de comunicação, até à deterioração das situações econômica, institucional e social.
Ah! Mas agora o povo não pode sair nas ruas em razão da pandemia. De fato, agora não pode. Mas quem disse que não poderá nunca? Ou quem disse que a sociedade brasileira não pode inventar novas formas criativas de manifestar seu descontentamento? Num país imaginário, em que as pessoas não tivessem pernas (e cadeiras de rodas), nunca poderia haver impeachment?
A primeira pergunta que se deve fazer é a seguinte. Bolsonaro cometeu crimes comuns e de responsabilidade que justificam um impeachment? Sim ou não? Se sim, a questão não é se deve sofrer impeachment e sim quando. Se agora não há condições, isso não significa que não haverá no futuro. E esse futuro dependerá do que fizermos hoje. Do ponto de vista político, portanto, o impeachment é a campanha pelo impeachment.
Muitos dos que repetem que não há condições para o impeachment agora, gostariam que não houvesse nunca. Na verdade, o que eles não querem é a campanha pelo impeachment.
Sim, muitas pessoas dos meios políticos e jornalísticos consideram o impeachment como hard ball – medida extrema que, ao fim e ao cabo, prejudicaria a democracia. Ainda não entenderam o básico. Embora não possa haver solução sem política, nem saída fora da democracia, o problema que nos assola hoje não é mais uma questão apenas de política. Temos um psicopata e genocida na presidência. Esse tipo de acidente, embora raro, pode acontecer nas democracias. E tem de ser corrigido.
Dizer que hoje não há condições para o impeachment é uma maneira de ser contra o impeachment. Por outros motivos.
