in

O isolamento social dos bolsonaristas: cortar todas as conexões com os agentes da morte

“Mais de 1,5 milhões de pessoas devem morrer em acidentes de trânsito em 2020 no mundo. O coronavírus só matou 240 mil pessoas em 5 meses. Não sei por que tanto estardalhaço”. 

“No mundo todo, até agora, o coronavírus só matou 31 pessoas por milhão. É muito pouco. Somente o cigarro mata cerca de 8 milhões de pessoas por ano (33 vezes mais). Para quê tanto carnaval?”

“Considerando que as perdas humanas são tão baixas, não é melhor enfrentar o problema sem destruir a economia do país?”

Argumentos baseados em estatísticas de mortes como estas são usados diariamente por agentes da morte. Vocês sabem quem são.

Mas há algo que o mundo político ainda não entendeu. Que não estamos diante apenas de adversários da democracia e sim de agentes da morte. Eles são uma extrema minoria. O problema é que – aproveitando uma falha genética da democracia – ocuparam o vértice do poder de Estado em alguns países (como, entre outros, a Hungria, a Polônia, os Estados Unidos e o Brasil).

A falha genética em questão é que a democracia não tem proteção eficaz contra o uso da democracia (notadamente das eleições) contra a democracia (assim como nunca teve proteção eficaz contra o discurso inverídico). E que ela ainda não aprendeu a se defender de ataques de enxame desferidos a partir das mídias sociais manipuladas para falsificar a opinião pública (e mudar a própria natureza do debate democrático, inviabilizando qualquer razão comunicativa).

Então a democracia está sendo obrigada agora a voltar ao primeiro dos seus princípios:

1) Não atentar contra a vida.

2) Não restringir liberdades.

3) Não infligir voluntariamente sofrimentos aos semelhantes.

Estes são os princípios éticos sobre os quais se assenta a democracia (mesmo quando os democratas não tenham consciência disso, pois o que vale aqui é o comportamento). Os democratas sempre estiveram envolvidos com a defesa do segundo princípio (que é uma espécie de ponte entre a ética e a política, posto que bom, para a democracia, é tudo que nos faz mais livres). Agora – diante do surgimento de agentes da morte – os democratas têm que voltar ao primeiro princípio.

Para defender o segundo princípio não cabe uma aliança com os neopopulistas de esquerda (como os lulopetistas) – posto que são também adversários da democracia. Mas, diante do surgimento de agentes da morte, até eles cabem numa grande frente em defesa da vida.

São ameaças diferentes. Ambos usam a democracia contra a democracia. Mas cada qual de seu modo e com seus propósitos particulares.

Os lulopetistas ameaçaram a democracia quando tentaram conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido para nunca mais sair do governo.

Os bolsonaristas, porém, além disso, ameaçam a vida. Não querem apenas ficar no governo. Querem alterar o regime político, decaindo de uma democracia eleitoral para uma autocracia eleitoral. Mais – e pior – do que isso: querem alterar os padrões de convivência social fazendo o mundo retrogradar alguns séculos. Querem estabelecer a morte como princípio: degradação ambiental, armas, Estado policial, majoritarismo, preconceitos contra as minorias e redução de seus direitos, restrições das liberdades civis e agitação de toda a lama da cultura patriarcal que estava depositada no fundo do poço para turvar a água, espalhando inimizade no mundo e substituindo a cooperação pela guerra permanente. São, portanto, agentes da morte (morte da biosfera, da vida humana e dos padrões cooperativos de convivência social).

Em relação aos primeiros recomenda-se o isolamento político. Em relação aos segundos o isolamento tem de ser também social. É necessário cortar todas as conexões com os agentes da morte.

O impeachment hoje é a campanha pelo impeachment

Hora de nossas “polis paralelas”: uma ideia fascinante