O aumento circunstancial da popularidade de Bolsonaro (comprado com nosso dinheiro, ainda que aplicado corretamente) não lhe dá aval para continuar atentando contra a vida dos brasileiros, contra a democracia e contra as leis do país.
Populismo implica monoliderança. Um líder com alta gravitatem. É da natureza do populismo que esse líder tenha popularidade alta. Apesar do mensalão e de todos os crimes do PT, Lula alcançou 87% de popularidade em dezembro de 2010. Alguns anos depois acabou preso.
Bolsonaro, até agora, era apenas uma exceção. Sua popularidade pode subir mais ainda. O que não vai lhe garantir vida longa e próspera na política. Nem nos obriga a reverenciá-lo ou deixar de fazer-lhe oposição e resistência, pois é um destruidor do regime democrático, do Estado laico, dos direitos humanos, da saúde pública e do meio ambiente.
Por maior que seja sua popularidade, não poderá deixar de dar explicações sobre a fortuna imobiliária de sua família feita com dinheiro vivo, pelo peculato e lavagem de dinheiro praticados no seu gabinete e nos dos seus filhos (que ele próprio comandava), pelas relações com as milícias, pelo Queiroz e os 89 mil depositados na conta da sua mulher Michelle.
Portanto, nada de arrefecer o ânimo oposicionista. Resistir ao populismo é sempre se contrapor a líderes com alta popularidade (e a de Bolsonaro, por enquanto, é bem mixuruca).
Só a falta de convicção democrática leva algumas pessoas, inclusive jornalistas e analistas políticos, a pisarem no freio – como quem diz: “Opa! Peralá. O homem está sendo aprovado pela população”.
Está? E daí? Erdogan e Orbán também são aprovados por boa parte dos turcos e húngaros. Putin já se reelegeu numerosas vezes, contando com o apoio da maioria dos russos. Trump, a despeito de ter feito tudo que fez, continua contando com o apoio de 40% dos americanos e pode até ser reeleito agora em novembro. Hitler e Mussolini só se mantiveram no poder por contar com o apoio da maioria dos alemães e italianos, que lotavam ruas e praças para vê-los passar. Aquilo é que era popularidade!
Democracia não é majoritarismo. Em algumas circunstâncias ela tem mesmo que ser contra-majoritária. Ou alguém acha que os democratas atenienses, nos primeiras décadas do século 5 a.C., em Atenas, eram majoritários? Não eram. Aliás, nunca foram – nem mesmo no auge do protagonismo de Péricles.
Quem não entende isso, não entende a democracia. Acha que tudo se resume a praticar o calculismo eleitoreiro. Infelizmente.
Por isso, o maior imperativo democrático do período em que vivemos é conectar e multiplicar o número de democratas. Não existe democracia sem democratas. E os democratas que temos são insuficientes, não para serem maioria (o que nunca serão mesmo, embora a maioria possa preferir o regime democrático a qualquer ditadura), mas para cumprirem o seu papel precípuo – muitas vezes contra-majoritário – de ser agentes fermentadores de uma opinião pública democrática.


