A Marcha sobre Roma original foi a manifestação dos fascistas na cidade de Roma em 28 de outubro de 1922. No dia seguinte à marcha, Mussolini foi indicado chefe de governo. Aqui se trata de dar ao presidente já eleito poderes ditatoriais, por meio de uma intervenção militar.

A “Marcha sobre Roma” de Bolsonaro – marcada para 7 de setembro de 2021 – está sendo organizada com uma trapaça. Bolsonaro diz que é pela liberdade. Mas é pela liberdade de acabar com a liberdade.
Do ponto de vista da democracia não tem como essa “Marcha sobre Roma” de Benito Bolsonaro no dia 7 de setembro ser legítima. Mesmo que seja não violenta (o que não é o mesmo que pacífica, como veremos adiante), será um atentado à democracia na medida em que sua pauta central é conferir poderes ditatoriais ao presidente, colocando o governo acima do Congresso e do STF.
Ou seja, o 7 de Setembro de Bolsonaro é uma manifestação que visa conferir liberdade a uma facção para destruir a liberdade. Ora, não pode haver liberdade para acabar com a liberdade.
Não, não é liberdade de expressão. Criticar o comportamento das instituições democráticas e até defender teses contra a democracia e em prol da ditadura é liberdade de expressão. Uma facção fazer agitação e propaganda para incitar as pessoas a destruir as instituições da democracia, não é liberdade de expressão.
Não devemos ficar esperando uma “invasão do Capitólio” pelas tropas bolsonaristas. Com ou sem invasão ou depredação de instituições, a marcha de Bolsonaro já é um atentado à democracia. Se houver pouca gente ou muita gente na rua, tanto faz: continuará sendo um atentado à democracia.
Mesmo se a manifestação de 7 de setembro for a menos violenta do mundo, ela não será pacífica. Guerra não é violência, destruição de inimigos, mas construção de inimigos. E o objetivo da “Marcha sobre Roma” de Bolsonaro é exatamente este: construir inimigos.
Na terceira onda de autocratização que nos assola, a destruição da democracia acontece por erosão. E a erosão sempre começa pela retórica. Retórica é política.
Repetindo. A erosão da democracia no século 21 sempre começa pela retórica. Retórica golpista praticada como agitação e propaganda por uma facção não é liberdade de expressão e sim atentado à democracia, ainda quando não ocorra violência.
Cerca de 70% dos processos de erosão da democracia ocorridos de meados da década de 90 para cá foram sem violência e sem violar abertamente as leis. A violência não é o problema. O problema é o estado de guerra em que degeneram a política. Um ato golpista não violento pode ser muito pior do que um quebra-quebra de protesto.
Não se pode confundir não violenta com pacífica. A manifestação golpista de 7 de setembro pode até ser não violenta. Mas jamais será pacífica. O bolsonarismo vive da guerra. Seu objetivo é instalar um estado de guerra no Brasil, uma guerra civil fria de longa duração.
Qualquer coisa que acontecer no 7 de setembro é meio irrelevante. A coisa já aconteceu. A marcha sobre Roma é a preparação da marcha, e depois da outra marcha… É erosão. Não explosão.
Não devemos nos intimidar com esses tarados bolsonaristas. Mesmo que coloquem muita gente na manifestação chapa-branca de 7 de setembro, isso nada significará. No dia 8 de setembro vamos todos assobiar e andar. Porque sabemos que mais de 60% da nossa população rejeitam o facínora.
Democratas devem encarar o 7 de setembro de Bolsonaro como aqueles desfiles oficiais de ditaduras, seja da ditadura militar brasileira, seja das ditaduras bolivarianas. Manifestação chapa-branca golpista, com muita ou pouca gente, não é expressão popular legítima em democracias.
Todavia, a despeito dos resultados concretos dos continuados ataques de Bolsonaro à democracia, não há desculpa para o que ele vem fazendo. Se o Brasil quiser continuar sendo um país minimamente civilizado não basta mais o impeachment. Bolsonaro tem de ser julgado, condenado e preso em regime fechado.