Com a “ajuda dos universitários” a militância do PT repete e repete e repete. A prova de que o PT é democrático é que durante 13 anos no governo o partido nunca tentou dar um golpe.
Ora, essa é uma resposta para uma pergunta que ninguém fez. É claro que o PT não quis dar um golpe. Essa não é sua estratégia. Seu objetivo não é dar golpes de Estado e sim conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido.
Sim, a grande mudança social que o PT almeja parte do Estado. O PT é estatista. Acha que o Estado, quando nas “mãos certas”, é o grande agente transformador da sociedade e a ele compete educar as massas para produzir uma nova realidade.
É por isso que o PT almeja vencer eleições sucessivamente para se delongar no governo, para impedir que a democracia eleitoral ascenda à condição de democracia liberal.
Sim, o PT é neopopulista. Acha que a política deve ser concebida e praticada como uma luta “nós” contra “eles”. Nós, o “verdadeiro povo” (quer dizer, os que seguem as diretivas de suas lideranças), contra eles, as “elites” (aquelas que, como diz Lula, nos governam “desde Cabral”).
Isso, é claro, é uma posição i-liberal. Ao contrário dos democratas liberais, que têm uma visão negativa do poder político e para os quais democracia não é propriamente sobre governo e sim sobre controlar o governo, o PT tem uma visão excessivamente positiva do poder político. Acha que é pelo exercício do poder de Estado que todos os seus sonhos poderão se realizar.
Mas o PT defende a democracia eleitoral e, portanto, dar golpes não passa pela cabeça de suas direções e principais lideranças.
O que o PT faz é usar a democracia eleitoral contra a democracia liberal. Para tanto, ele precisa enfrear o processo de democratização, até que da democracia se esvaia o conteúdo liberal que a define. Daí a necessidade de ficar no governo por vários mandatos sucessivos.
E daí porque o PT não aceite bem o princípio democrático da rotatividade (só se a alternância for entre pessoas diferentes do mesmo partido: o seu).
As eleições, para o PT, não são um meio de manter a estabilidade de um regime em que diferentes forças políticas se revezam no governo, como ocorre normalmente nas democracias liberais, e sim um modo de chegar ao governo e nele se manter. Para, algum dia, alterar a correlação de forças a tal ponto que o poder possa ser empalmado pelo partido, não de chofre, não de uma vez como num golpe e sim homeopaticamente.
O PT ama de paixão as eleições porque escolheu a via eleitoral como o modo para chegar ao comando do Estado. Por isso o PT não é golpista. Mas como qualquer populismo, uma vez chegando ao governo, o PT dificilmente sairá dele pela via eleitoral. Não saiu em 2016. Se Lula voltar ao governo em 2023, dificilmente o PT abandonará o governo em 2026. Não porque dará um golpe e sim porque dominará os mecanismos que permitem a mudança como parte da dinâmica que é própria das democracias liberais.
Para dominar esses mecanismos é preciso conquistar maioria nas principais instituições e hegemonia sobre a sociedade. Tudo no PT se resume nessa palavra: hegemonia. O que leva a um desvio perigoso: o hegemonismo, que é uma forma de majoritarismo – caraterística distintiva que faz de todos os populismos adversários da democracia liberal.
Para muitos, está bem fácil agora tapar o nariz e votar no PT para remover Bolsonaro. O que não será tão fácil é, depois, tirar o PT do governo.