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A Via Democrática

Em vez de condenar a invasão de Putin e as atrocidades que ele vem cometendo contra a população civil ucraniana, Lula criticou anteontem (05/04/2022) as sanções econômicas à ditadura russa, dizendo que “o bloqueio é uma arma de guerra tão poderosa quanto a bomba atômica”. Parecia até o Putin falando.

Segundo Lula, quem bloqueou, quem usou a arma de guerra, quem soltou a “bomba atômica”? Bem… foram as democracias liberais. Basta comparar os dois mapas abaixo:

Ao não condenar a invasão da Ucrânia e os massacres cometidos contra civis pelo ditador Putin, Lula está se prejudicando eleitoralmente (porque afasta as pessoas ditas “de centro” que ele quer capturar). A pergunta que fica é: por que ele faz isso? Quem conseguir responder começará a desvendar o caráter i-liberal do PT.

Ademais, a comparação das sanções à ditadura russa com uma bomba atômica (como fez Lula anteontem), no momento em que Putin chantageia as nações democráticas dizendo que pode usar armas nucleares é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Quem quer ser chefe de Estado nunca poderia fazer isso.

Pois é… Nos aproximamos do pleito de 2022 no Brasil. A posição dos democratas liberais é muito simples. Quem apoia Putin (ou não o condena explicitamente), não deve contar com os democratas liberais. Quem apoia Díaz-Canel, Maduro, Ortega, João Lourenço, Evo, Correa e Funes, não deve contar com os democratas liberais. Assim como, quem apoia Orbán, Erdogan, Duda, Modi, Trump, Le Pen e Salvini não deve contar com os democratas liberais.

Será que contra um negacionista da pandemia e das vacinas, só tem um jeito: votar num negacionista do mensalão, do petrolão, do aparelhamento do Estado, das ditaduras cubana, angolana, venezuelana, nicaraguense e, agora, russa?

Ah! Mas se não fizermos isso, Bolsonaro vai vencer. Vai mesmo?

Os lulopetistas e a turma de miole mole que se deixa emprenhar pelo ouvido por eles, querem que a gente vote em Lula agora. As eleições são em outubro, mas eles querem que a gente tome uma decisão agora, em abril. Querem que a gente apague do calendário os meses de maio, junho, julho, agosto e setembro. Porque se não, alegam, Bolsonaro vai vencer.

Ora, o problema não é votar em Lula no último minuto se isso for necessário para evitar a vitória de Bolsonaro. Claro que um democrata eleitoral populista (como Lula) é menos pior que um autocrata eleitoral populista (como Bolsonaro) – ainda que ambos sejam i-liberais.

O problema é votar em Lula agora, quando não há eleição. É querer reduzir a diversidade de futuros possíveis, enquadrando-os numa polarização estiolante entre dois populismos.

“Votar” em Lula em abril significa salgar a terra para que nela não germine nenhuma semente liberal. Não se pode esquecer que, para os populistas, os democratas liberais são o inimigo principal. Sim, os inimigos principais escolhidos pelos populistas, de direita ou de esquerda, não são os ditadores. Não são os genocidas. Não são os oligarcas. Os inimigos principais dos populistas, de direita ou de esquerda, são os democratas liberais.

E eles – Lula e o PT – não estão pedindo apenas o voto dos democratas liberais em 2022. Estão querendo que eles se suicidem, renunciem à própria existência, preemptivamente. Que abandonem tudo, todas as vias não-populistas possíveis, para aderir ao lulopetismo, com seis meses de antecedência. Aí não dá. Podemos até votar, nos 45 minutos do segundo tempo para, como se diz, evitar um “mal maior” – se isso for realmente decisivo. Mas apoiar, nunca.

Por isso, é absolutamente necessário que haja uma Via Democrática (não-populista) disputando o pleito de 2022. Com um ou vários candidatos. Mesmo com poucas chances de vencer. Democratas não vencem sempre. Quem costuma vencer sempre é gente como Putin, Orbán, Erdogan, Maduro, Ortega – que são autocratas.

Democratas liberais costumam ser minoria e, mesmo assim, seu papel de fermento para a formação de uma opinião pública democrática é essencial para a continuidade do processo de democratização.

Quem não entendeu isso, não entendeu a democracia.

A tara realista é uma tara estatista

Por que João Dória tem só 2%?