Vamos tecer algumas considerações sobre o golpe de Bolsonaro na cabeça de quem acha que tudo que contraria sua vontade é golpe.
Há um falso argumento, inventado nos porões carluxianos do PT, de que Bolsonaro só dará um golpe se não for eliminado no 1º turno. Diz-se que ele não poderia contestar o resultado para presidente sem deslegitimar a eleição dos parlamentares e governadores eleitos no 1º turno. Ora, por que não?
Se contestasse o resultado do 2º turno ele também deslegitimaria a eleição dos governadores que não venceram no 1º turno. E se ele quisesse (e pudesse) dar um golpe de Estado clássico, poderia tentá-lo no 1º ou 2º turno.
Além disso, se Bolsonaro tiver a chance de disputar um 2º turno, ele disputará. É mais improvável, portanto, que ele dê um golpe se passar para o 2º turno.
O furo maior dessa fake news é que Bolsonaro não dará golpe nenhum – nem no 1º, nem no 2º turno – pois não tem força político-militar para tanto (e, ademais, essa não parece ser sua estratégia: o golpe bolsonarista é uma tática eleitoral; Bolsonaro não dará um golpe porque já deu um golpe quando assumiu o governo eleitoralmente para promover a guerra cultural de sua facção). Se tivesse força político-militar para dar um golpe à moda antiga e quisesse fazê-lo, Bolsonaro já teria dado esse golpe ao perceber que, muito provavelmente, perderá a eleição.
É até possível que esse argumento do PT (replicado pelos que se subordinaram mentalmente à metafísica petista) não seja fake news. Vai ver essa galera petista, que vive no século passado, ainda não entendeu que o populismo-autoritário não dá golpe à moda antiga (com tanques nas ruas) por ter adotado a via eleitoral de erosão da democracia. Olha agora a Meloni, na Itália. Deu golpe?
Sim, a eleição da neofascista (ou pós-fascista) Giorgia Meloni é pedagógica.
RESUMINDO
Para quem chama o impeachment constitucional de Dilma de golpe, tudo que contraria sua vontade é golpe. Para desfazer a confusão, examinemos quatro pontos sobre o tal golpe que Bolsonaro dará se perder o pleito.
1 – Em qualquer caso, Bolsonaro ficará no governo até janeiro de 2023. Se for eleito ou eliminado no primeiro turno ou se passar para o segundo turno em primeiro ou em segundo lugar.
2 – Se Bolsonaro, em caso de derrota, pretende contestar o resultado das urnas, é muito mais provável que tente fazer isso se for eliminado no primeiro turno. Porque aí não haverá mais esperança de ganhar eleitoralmente.
3 – Se Bolsonaro passar para o segundo turno, em primeiro ou em segundo lugar, investirá tudo na campanha para vencer o jogo dentro das regras do jogo durante mais 28 dias.
4 – Se Bolsonaro perder no segundo turno, pode, ainda assim, fazer uma arruaça, mas dificilmente dará um golpe de Estado à moda antiga (com tanques nas ruas), pois não tem força político-militar para tanto. Se tivesse, já teria tentado melar o jogo em vez de continuar jogando pelas regras vigentes.
Desenhando um fluxograma (a partir, puramente, da “lógica” lato sensu):



