Quem impede a formação de uma oposição democrática no Brasil?
Sabemos que nenhum regime chegou a ser uma democracia liberal (ou plena) na ausência de oposição democrática. Pois bem. Quem são os principais atores políticos que impedem o surgimento de uma oposição democrática no Brasil?
Não são os bolsonaristas, posto que já são uma oposição antidemocrática. Não são os lulopetistas, quer dizer, os populistas (não-liberais) que, como situação, são uma das razões para a existência de uma oposição democrática. Quem seriam então?
São os que querem salvar Lula e o PT de si mesmos para o governo dar certo. São esses que dificultam o surgimento de uma oposição democrática, muito mais do que a luta dos militantes explícitos do lulopetismo e do bolsonarismo.
São os passapanistas, que tentam justificar ou amenizar tudo de errado que Lula, o PT e o governo fazem. Esses herbívoros (que se revelaram piores do que os carnívoros) criaram um Lula imaginário, um PT imaginário e uma frente ampla imaginária. A partir dessa realidade paralela os passapanistas inauguraram um novo tipo de luta, a “luta externa” para salvar o PT de si mesmo. Aí defendem Haddad contra Gleisi e Mercadante achando que, com isso, vão chegar a algum lugar. Não viram que existe um Lula real no comando.
É possível fazer uma lista, com cerca de 30 influencers, analistas e jornalistas políticos, que hoje estão dedicados a isso (a lista foi feita, mas não vamos publicá-la aqui integralmente em homenagem aos bons modos jornalísticos e políticos). Curiosamente, a não ser com uma ou outra exceção, essa lista não é composta por militantes petistas (ou criptopetistas), por trânsfugas (como Reinaldo Azevedo) ou por malfeitores digitais (como André Janones). São pessoas inteligentes, conhecidas, algumas muito preparadas, com obras publicadas, presença constante há décadas nos principais meios televisivos e na imprensa profissional ou nos canais do Youtube.
O que eles fazem é repetir que o governo Lula tem de dar certo de qualquer maneira, do contrário Bolsonaro (ou um bolsonarista) volta. Mas isso, se vale para hoje, deve valer também para amanhã. A tradução política possível dessa sentença é que devemos agora começar a campanha eleitoral de Lula 2026 (ou de um seu preposto). Por quê? Ora, porque, do contrário, Bolsonaro (ou um seu preposto) pode voltar.
Isso é uma forma de matar no embrião qualquer oposição democrática. Não adianta articular uma alternativa de centro ou de centro-direita que seja liberal (quer dizer, para todos os efeitos práticos, não-populista). Eles avaliam que não há condições reais de uma alternativa desse tipo crescer, posto que Lula já tem 30% e Bolsonaro 20% dos votos e que os demais votos cairão nos seus colos por gravidade.
Pior, eles avaliam que fazer isso – articular uma oposição democrática – vai roubar votos que cairiam no colo Lula em 2026 (como cairam em 2022) e, assim, dará vitória a Bolsonaro. Por isso assumiram a missão de matar no embrião qualquer oposição democrática.
E duro ter de dizer isso porque alguns deles têm (ou acham que têm) convicções democráticas liberais. Mas os passapanistas (os que querem salvar Lula e o PT de si mesmos) são hoje o principal obstáculo à articulação de uma oposição democrática no Brasil. Estão prestando um baita desserviço ao país.
Eles meteram na cabeça o seguinte. Se o governo Lula não der certo, Bolsonaro volta. Então vão fazer qualquer coisa para o governo Lula “dar certo”. Vão repetir ad nauseam que uma oposição democrática não tem chance de se articular e não tem voto para chegar a um segundo turno.
Pela sua “lógica”, entretanto, todos nós – independentemente do que Lula e o PT fizerem, até se aliar ao bloco das ditaduras russa, chinesa, iraniana etc. – somos obrigados a fazer campanha pela reeleição de Lula. Do contrário Bolsonaro (ou outro bolsonarista) pode voltar.