Examinem os princípios D8 e D9 do modo de regulação autocrático que estão na listagem apresentada na página explicativa sobre a Inteligência Democrática:
“D8 – O julgamento de que a oposição não é legítima e de que os que se opõem aos chefes do Estado ou aos seus representantes ou delegados são traidores ou sabotadores.
D9 – A caracterização (e inculpação) de quem desobedece, diverge, desvia ou destoa como traidor.”
É inacreditável como os petistas são capazes de dar tanta bandeira.
Um dos padrões autocráticos mais reveladores – reconhecido facilmente nos dias que correm no Brasil – é a acusação de que Temer é traidor. Que conceito! Traidor! É um construct autocrático, aplicado a todos que não obedecem. Se quem diverge é “traidor”, toda oposição, em princípio, é ilegítima.
É assim que o PT vai se revelando nas declarações de seus militantes: “Temer é traidor!” Isso nada tem a ver com sua integridade moral. É traidor porque divergiu, dissentiu, desobedeceu. Cunha é bandido (e provavelmente o é), mas só está sendo tratado como tal porque desobedeceu. De Renan nada se fala, enquanto estiver obedecendo.
O conceito de traição está ligado à guerra. É um conceito da guerra, válido igualmente para a perversão da política como arte da guerra, ou como continuação da guerra por outros meios (na fórmule-inverse de Clausewitz-Lenin). Na guerra (assim como na autocracia, que é um modo guerreiro de regulação de conflitos) quem desobedece aos comandantes é traidor.
Na Coréia do Norte (apoiada pelo principal aliado do PT, o PCdoB), todos os expurgos de quem diverge ou desobedece são justificados com base no conceito de traição. O mesmo valia para o stalinismo, o maoismo, o polpotismo. E ainda vale para o castrismo.
Traição é, originariamente, um conceito de gangue. Obedece primeiramente a uma lógica de quadrilha. Quem não está conosco é – consciente ou inconscientemente – um agente do inimigo. Trair a nossa causa coloca objetivamente em risco nossa força de combate. Ora, guerra é guerra. Como estamos (permanentemente) em guerra (já que a luta de classes é uma guerra), os traidores devem ser denunciados, punidos e eliminados.
Como pessoas inteligentes, em pleno dealbar do terceiro milênio, podem assumir essas perversões?



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