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A tática do “golpe”

Faz parte do repertório tático de grupos antidemocráticos – e não é de hoje – acusar os inimigos de crimes que já cometeram, estão cometendo ou pretendem cometer. É uma forma de prevenção contra reações desfavoráveis.

No caso presente da conjuntura brasileira vem sendo usada e abusada, pelo PT e pelo governo, a tática do “golpe”. Você repete exaustivamente que há um (falso) golpe em curso para neutralizar a reação a um (verdadeiro) golpe que pretende cometer. É uma maneira de confundir e tentar manipular a opinião pública. Ou, ao menos, manter coesa uma militância para futuros embates.

Quando essa tática é aplicada é sinal de que o ator político já partiu para o vale-tudo e está disposto a melar o jogo democrático institucional. A tentativa de golpe de ontem acabou frustrada. Vai entrar no folclore político tupiniquim como “Operação Tabajara” ou “A Patuscada Maranhense”. Durou cerca de 300 minutos. Até que Renan Calheiros, presidente do Senado, não tomou conhecimento da medida de Waldir Maranhão. No entanto, as tentativas de melar o jogo continuam.

Neste exato momento o PT faz um chamamento nacional ao fechamento de rodovias e ocupação de prédios. Diz-se que vai voltar a ocupar, como fez ontem, o Palácio do Planalto e o Senado (com o fito de impedir a votação do impeachment).

Já não é mais um caso de jogo político democrático. Virou um caso de segurança – ou de saúde – pública. Milícias do PT interditaram hoje cedo (ver foto) a importante avenida 23 de Maio, em São Paulo, com madeiras e pneus queimados. Também fecharam várias artérias do complexo Marginal Tietê-Pinheiros. Outras rodovias, de norte a sul do país, estão sendo igualmente obstruídas. É muito fácil fazer isso. Basta pagar 20 milicianos e comprar meia dúzia de pneus velhos. Falsos movimentos sociais, que atuam como correias de transmissão do PT (como o MST e o MTST e entidades pelegas, como a CUT e a UNE), oferecem a mão de obra e o apoio logístico.

Esse tipo de manifestação não tem nada a ver com o metabolismo democrático da sociedade. Pelo contrário, é uma ação de grupos autocráticos que ameaçam a democracia. E é, a rigor, um atentado à chamada paz social.

A agitação programada, supostamente contra o “golpe” (que não existe), não deixa de ser também um (verdadeiro) golpe contra a democracia e à vida normal das pessoas. O propósito é criar um clima de convulsão social ou de aparência de caos para mandar um recado às instituições democráticas. O recado é simples: se vocês nos tirarem do poder, vamos incendiar o país, o Brasil ficará ingovernável e a economia será arruinada. É uma chantagem contra a democracia. Se nada disso der certo – como provavelmente não dará – o saldo é manter as milícias e a militância mobilizada para a guerra civil fria que o PT pretende instalar no pais com o objetivo de voltar ao governo ao final dos 180 dias de afastamento de Dilma ou, quem sabe, em 2018.

Mas o PT ainda não deu de barato que sairá constitucionalmente do governo após a votação do Senado que ocorrerá amanhã, 11 de maio de 2016. Ainda guarda uma última e desesperada esperança de contar com seu aliado na presidência do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski (o advogado de restaurantes de São Bernardo que foi guindado por Lula ao STF). Na suprema corte tentará contar com o apoio também de Roberto Barroso, Rosa Weber e Marco Aurélio Mello (entre outros). Para quê? Ora, para reverter a decisão do Senado Federal, imiscuindo-se no mérito do julgamento e reformando-o ou aproveitando-se de qualquer chicana regimental para anular a votação.

Lewandowski vem anunciando que o STF pode se pronunciar sobre o mérito do impeachment, contra o que reza a Constituição Federal. Ontem mesmo fez uma declaração solerte sobre isso:

Vai ser examinada oportunamente a questão para saber se o STF pode ou não ingressar em juízo de natureza política, se vai conhecer ou não esse questionamento. Mas isto é um tema a ser futuramente examinado pelos 11 ministros do Supremo (…). Até porque não há uma decisão política sobre o mérito do impeachment. Por enquanto, o Brasil está aguardando uma decisão do Senado. Pode ser que o Supremo venha ou não a ser instado a se pronunciar sobre essa questão. Que aí terá que decidir inicialmente se a decisão é exclusivamente política ou se comporta algum tipo de abordagem de ponto de vista jurídico passível de ser examinada pelo Supremo Tribunal Federal.

É um escândalo que um presidente da suprema corte de justiça dê uma declaração como esta. A hipótese que ele aventa seria um (verdadeiro) golpe na democracia brasileira. Mas ele, como se sabe, é um agente do governo e está apenas cumprindo o seu papel.

Quem acompanha a atuação dos parlamentares governistas (em especial do PT e do PCdoB), fica, entretanto, com a pulga atrás da orelha. Por que Dilma precisa de mais tempo antes de cair? Dilapidar o Tesouro? Ocultar provas? Esperar um milagre? Investir no caos? Terminar a preparação de uma nova chicana? Tudo isso alimenta a suspeita de que pode haver alguma coisa horrível (ainda que ridícula, como a “patuscada maranhense”) sendo articulada. Um novo golpe?

Sim, o PT não sairá do governo tranquilamente, em obediência às regras da democracia. É improvável que tenha condições de cumprir sua promessa de “incendiar o país” (vai apenas perturbar nossa vida). Também é improvável que consiga reverter, como se diz, “no tapetão” (do STF) as decisões do Senado Federal (mas vai tentar tudo, até depois do último minuto, como assistimos ontem com a “patuscada maranhense” patrocinada por Dilma – sim, ela sabia, tanto que telefonou para Renan minutos antes da sua decisão, não sendo entretanto atendida por ele – e por seu advogado José Eduardo Cardoso com a ajuda de Flávio Dino (governador do Maranhão, do PCdoB) e do “cavalo” Waldir Maranhão. Este último, tão envergonhado ficou após a frustrada e ridícula tentativa, que anulou seu próprio ato no início desta madrugada.

Podemos nos preparar para novas e desagradáveis surpresas. Os fatos estão mostrando que tirar o PT do governo é uma espécie de exorcismo. A entidade obsessora se agarra ao que puder e solta gritos horríveis para não sair do corpo que não lhe pertence.

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