Para tirar o PT do governo, Marina (se fosse a única ou mesmo a melhor chance) deveria (como o foi no primeiro turno da campanha presidencial de 2014) ser apoiada. Doravante, porém, apoiar Marina será o mesmo que apoiar o PT.
Façam uma pesquisa. Qual a porcentagem dos militantes marinistas (para não falar dos cavalos de troia do PT na Rede Sustentabilidade, como esse Molon) que estavam contra o impeachment (como, aliás, estava, por baixo do pano, a própria Marina)? Podemos apostar que a ampla maioria. Por que? Ora, alguns por ideologia (eles querem ser “de esquerda”) e outros (como esse Luiz Eduardo Soares) por puro oportunismo mesmo (viram uma janela de oportunidade para saltar de uma vez para dentro do Estado, elegendo Marina presidente em eleições convocadas extraordinariamente num momento de crise).
Portanto – a não ser que uma nova configuração particularíssima se constele e o PT reapareça com altas chances de recuperar o governo em 2018 (ou em 2022, se durar até lá) e ela for a única chance de barrar a volta do lulopetismo ao poder – Marina, a partir de hoje, deve ser considerada como mais uma expressão das forças regressivas representadas pelo PT, pelo PCdoB, pelo PSOL, pelo PCB, pelo PCO e por outros grupos menores da coalizão autocrática que vem adotando a orientação de não-reconhecer, deslegitimar, boicotar e sabotar o governo de transição de Michel Temer.
Mesmo que não queira – na medida em que seu projeto é se diferenciar de todos, por meio do discurso marqueteiro, para herdar os votos da esquerda – Marina já está, objetivamente, nesse campo (pois de nada adiantam declarações de intenções e sim o comportamento que seus seguidores tiveram no processo de mobilização popular de 2015 e 2016 que desaguou no impeachment: e tal comportamento, reconheçamos, foi vergonhoso).
Agora ela precisa apenas enganar os eleitores, dar uma de devota para recapturar o voto dos evangélicos, dar uma de progressista para alimentar a esperança dos que se desiludiram com o PT, mas se sentem desconfortáveis com o centrão PMDB-PP-PTB-PSD-PR e assemelhados no comando), dar uma de moderninha para conseguir o apoio dos que ficam horrorizados com o (real) conservadorismo nos costumes dessa base fisiológica do novo governo, enfim… em tudo e por tudo Marina precisa continuar sendo uma boa oportunista se quiser chegar à presidência sem mudar seu modo-de-ver-e-interagir com o mundo (e esse modo continua, fundamentalmente, sendo o modo da esquerda autocrática).
Sim, Marina saiu do PT, mas não é um Gabeira: no máximo poder-se-ia dizer que ela é um Gabeira carregando, mas a barrinha não conseguiu passar dos 20%. Em outras palavras, o background da sua visão de mundo ainda é 80% petista (ou “de esquerda”), embora ela não tenha formação teórica marxista.
No entanto, ela descobriu um caminho (para o seu sucesso individual) capaz de polarizar as atenções dos jovens buscadores de novas utopias e criou uma marca colando os novos conceitos de sustentabilidade (na visão ambientalista) e de rede (algumas ideias mais ou menos vagas sobre a nova sociedade-em-rede, mas nunca chegou a entender realmente as diferenças entre distribuição e descentralização e entre interação e participação e, assim, nunca entendeu realmente as redes).
Estava indo tudo razoavelmente bem quando surgiu a rede Marina na sociedade – o “Movimento Marina Silva Presidente” – em 2010. Mas aí ela decidiu que precisava de um partido só para ela (um partido “para chamar de meu”) e resolveu então estruturar uma organização hierárquica altamente centralizada e batizá-la (marqueteiramente) com o nome de “rede”.
O diferencial desse projeto era a “nova política”. Desgraçadamente, porém, ela só pontificava no cenário político na época das eleições (um evento da velha política) e por meio de uma organização que não era mais uma rede, senão um partido mesmo em moldes tradicionais (uma organização da velha política). Fora dos períodos eleitorais não existia a tal “nova política” e a própria Marina desaparecia, em parte por insegurança, em parte para não se “queimar” ou se comprometer com alguma proposta ou força política.
Ela deveria permanecer destacada, pairando acima da conjuntura, em algum lugar etéreo e não contaminado pela “velha política”, um lugar mais ou menos assim como Pandora (uma das luas de Polifemo, planeta gasoso que orbita o sistema Alpha Centauri, na ficção Avatar de James Cameron) para descer à Terra no momento exato, oportuno e azado para “causar” (de preferência às vésperas de alguma campanha eleitoral).
Não será de estranhar se emergir algum outro projeto (já desvencilhado dos malwares da esquerda) que queira se capacitar para herdar os votos daquela que queria herdar os votos da esquerda (sem deixar de ser esquerda). Pois com essas concepções e com esse comportamento, Marina está também se exilando – como o PT – em algum lugar do passado.
Alpha Centauri está a 41 000 000 000 000 km do Sol, ou seja, a 4 anos-luz da Terra. Pandora e seus habitantes ficarão perdidos no tempo.
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