Acordei e fui logo dando de cara com esse depoimento de uma amiga no grupo público do Facebook também chamado DAGOBAH:
Alice Zein Galvão de França: “Está demais, estou muito preocupada, meus filhos (ensino médio) contam em casa os depoimentos da maioria de seus professores, que acabam falando… “olha gente, é uma opinião pessoal, heim?” e mandam ver na defesa do governo petista. E olha que é uma escola bem tradicional, de Maristas… Estou para reclamar… Parece que tem só um professor, que rapidamente mostrou aversão à Dilma, com um expressão facial de nojo, acho que era de Português… Disseram as crianças que foi o único que conseguiu se controlar.”
Fiquei preocupado porque eu também tenho uma filha de 15 anos no Marista.
Mas não é só lá. Exatamente o mesmo comportamento está sendo reproduzido em milhares de escolas em todo o país, para não falar das universidades, onde gente como Renato Janine (ex-ministro da Educação de Dilma Rousseff) ensina aos alunos como fazer a luta sórdida nas mídias sociais, por exemplo, instrumentalizando o episódio do Jucá para mostrar que o impeachment foi um golpe.
Ontem O Antagonista publicou (ver imagem abaixo) detalhes de uma prova de português que os candidatos a um cargo no Ministério Público Federal fizeram no último fim de semana:
.
As questões de ortografia e gramática continham frases como:
— “O analfabetismo político é um mal cada vez mais comum em quem assiste ao Jornal Nacional”.
— “Os golpistas ficaram prostrados com a reação que se viu nas ruas em defesa da democracia”.
— “O juiz infringiu a legislação ao divulgar o conteúdo das interceptações telefônicas”.
— “Segundo renomados juristas, a presunção de inocência, apesar de configurar direito constitucional, vem sendo ignorada pela Operação Lava Jato”.
O PT não aparelhou apenas o Estado. Em três décadas se enraizou também profundamente nas instituições da sociedade, sobretudo nas universidades que formatam a mente dos professores das escolas.
As universidades – nas áreas de humanas, mas não só – viraram fábricas de narrativas legitimatórias de projetos antidemocráticos.
Lá ainda se justifica ditaduras como a dos irmãos Castro, em Cuba, alegando que se trata de um país em guerra contra o imperialismo norte-americano.
Lá os professores defendem o chavismo e até o bolivarianismo de um maluco, como Maduro, que acarretou uma epidemia de sarna na Venezuela (por falta de produtos de higiene e limpeza).
Lá se olha com simpatia o governo de assassinos da FSB (ex-KGB) chefiado por Putin e se diz que a Praça Maidan foi parte do golpe perpetrado por fascistas e nazistas contra um presidente legitimamente eleito.
Lá se insinua que a “revolução dos guarda-chuvas”, protagonizada no segundo semestre de 2014 por milhões de jovens em Hong Kong contra a dominação da ditadura chinesa, foi articulada pela CIA.
Lá se diz que as maiores manifestações políticas da história do Brasil – que constelaram milhões nas ruas de todo o país, notadamente o 15 de março, o 12 de abril e o 16 de agosto de 2015 e o 13 de março de 2016 – foram feitas por fascistas e coxinhas, financiadas pelas elites (ou até pelo imperialismo norte-americano).
Lá – para resumir – se infecta os alunos com um programa malicioso: o duplipensar orwelliano. Querem uma prova? Aqui vai: antes (quando Dilma estava no governo) a Lava Jato era parte do golpe; agora (que ela foi afastada) os que queriam parar a Lava Jato faziam parte do golpe. Entenderam? Não há como entender sem rodar o programa do duplipensamento.
Vamos levar de uma a duas gerações para consertar isso e mesmo assim desde que haja uma grande fermentação democrática na sociedade e vários movimentos de alfabetização democrática. Porque, basicamente, as universidades se transformaram em madrassas: centros difusores de um pensamento autocrático (baseado na premissa de que a luta de classes é o motor da história) e de práticas antidemocráticas (baseadas na perversão da política como guerra).
P. S. – Meu trabalho na última década tem sido – juntamente com alguns amigos e amigas – o de desenvolver um pensamento democrático adequado à emergente sociedade-em-rede e o de ensaiar algumas práticas democráticas mais interativas do que participativas. Este site de inteligência democrática – https://dagobah.com.br – está tentando reunir várias iniciativas nesse sentido, que começaram com o livro Alfabetização Democrática (2007), passaram pelos programas de aprendizagem (que continuam sendo ofertados) Democracia e Redes Sociais e Reconhecimento de Padrões Autocráticos (intitulado, na sua primeira oferta, como 100 Dias de Verão e agora gratuito) e pelo livro A Terceira Invenção da Democracia (As novas democracias na sociedade-em-rede). Mas sei que tudo isso é pouco, muito pouco. É necessário – e urgente – colocar a democracia na ordem do dia.
Deixe seu comentário