Por que o PT não vai partir para a luta armada? Para responder a pergunta, em primeiro lugar, é preciso conhecer o PT.
Para conhecer o PT basta examinar os nomes dos ministros que Lula e Dilma nomearam para a Casa Civil: Dirceu, Dilma, Erenice, Palocci, Gleisi, Mercadante, Wagner, Lula (obstruído pela justiça), Eva Chiavon (interina). Não escapa ninguém. Um está preso. Todos os demais são investigados pela Lava Jato. A interina é agente de uma organização política autocrática e clandestina, organizada por camadas (como uma cebola) que se disfarça dentro de um “movimento social”: o MST (que atua, na prática, como uma correia-de-transmissão do partido).
Pode-se também fazer uma lista de presidentes e tesoureiros do partido. Dois presidentes foram condenados e presos (Dirceu e Genoíno). Dois tesoureiros também foram condenados e presos (Delúbio e Vaccari). Vários outros dirigentes petistas – como Berzoini e Edinho – foram, estão sendo ou em breve serão investigados, condenados e presos.
Acrescente-se que dois ex-dirigentes petistas da Câmara dos Deputados – um presidente e um vice-presidente – foram condenados e presos (João Paulo Cunha e André Vargas).
Como será que os militantes petistas justificam isso? Preferem não pensar no assunto? Alegam que tudo não passa de perseguição dos conservadores e coxinhas? Respondem – como se isso fosse resposta – que “o outro lado” também é cheio de corruptos?
Como será que os professores universitários – cujo papel não é mais investigar cientificamente e sim construir narrativas ideológicas favoráveis ao PT – explicam esse, digamos, fenômeno inusitado? Os setores conservadores da nação, que antes atuaram via os militares golpistas de 1964, agora atuam através dos judiciário (esta, por exemplo, era a narrativa do último presidente do IPEA de Dilma, um delinquente político chamado Jessé)?
Quer dizer então que todas as evidências são falsas? Foi tudo forjado? Se sim, se o controle dos conservadores, da direita, das elites, dos coxinhas, dos agentes da CIA e do imperialismo norte-americano – enfim, de toda a turma do mal – chegou a este ponto, não basta denunciar o afastamento constitucional de Dilma como um golpe contra a democracia. Não! Nestas circunstância, não há nada a fazer senão partir para a luta armada contra o Estado (porque um Estado que permite isso não é mais um Estado democrático de direito), confere?
Mas é claro que o PT não fará isso. Primeiro porque não tem força suficiente e nem apoio da população (cerca de 80% dos brasileiros rejeitam o partido e a presidente afastada). Segundo porque não tem contingentes treinados para tanto: a maior parte de seus seguidores, ideológicos ou beneficiários, nunca chegou perto de um bacamarte. Terceiro porque a via neopopulista que o PT escolheu para autocratizar a democracia é eleitoral, ou melhor, eleitoreira (consiste em usar as eleições contra a democracia, eleger presidentes e, a partir do governo, aparelhar o Estado, praticar no atacado a corrupção sistêmica e centralizada para financiar um esquema criminoso que tem como objetivo tomar progressivamente o poder para nunca mais sair do governo).
Para conhecer o PT é preciso perceber que mesmo tendo sua presidente, Dilma Rousseff, afastada da presidência da República, o partido continua sendo uma força autocrática estatista, politicamente organizada segundo padrões hierárquicos (centralizados), socialmente enraizada, com narrativa ideológica estruturada, com projeto de poder estrategicamente formulado, com militância mobilizada e preparada para perverter a política como guerra (ainda que fria, ou seja, a perversão da política como continuação da guerra por outros meios: a famosa fórmule-inverse de Clausewitz-Lenin) e vai prosseguir tentando percorrer a via neopopulista de usar taticamente as eleições contra a democracia, para voltar ao governo e retê-lo em suas mãos por tempo suficiente para conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado controlado pelo partido. Este é projeto. E ele não morreu.
Mas como não pode partir para a luta armada, o PT está então tentando instaurar no país uma guerra civil fria de longa duração (essa duração corresponde ao tempo necessário para tomar o poder, estando ou não no governo, de preferência estando). E é precisamente isto que estão fazendo os militantes aglomerados nos focos de resistência autocrática montados pelo PT. Quais são esses focos?
No plano externo, as ditaduras russa, cubana e venezuelana, outros regimes bolivarianos (Bolívia, Equador, Nicarágua, El Salvador) e órgãos regionais chavistas que terminam com as letras ‘sur’, bem como a chamada esquerda universitária, jornalística, intelectual… enfim, os órfãos da utopia estatista (na cabeça dos quais o muro de Berlim ainda não caiu, ou não deveria ter caído) espalhados pelo mundo.
No plano interno:
[] a rede suja de veículos ditos alternativos a serviço do PT, financiados com dinheiro público,
[] os militantes ainda infiltrados em cargos de confiança (ou que foram efetivados por concurso) no Estado (em todos os níveis), os governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores do PT e de partidos estatistas aliados (PCdoB, PSOL etc.),
[] os professores universitários marxistas, sobretudo das áreas de humanas e seus alunos (bem como um conjunto de funcionários, dirigentes e reitores sabujos de universidades públicas),
[] o sindicalismo pelego (centrais, sindicatos, associações profissionais e outros órgãos de classe),
[] os “movimentos sociais” que atuam como correias de transmissão dos partidos estatistas (como MST, MTST, UNE),
[] as ONGs que passaram a atuar na última década como organizações neo-governamentais, financiadas com recursos públicos,
[] os criptopetistas infiltrados no jornalismo dos grandes meios de comunicação,
[] os setores artísticos e culturais “progressistas” que lucram com renúncia fiscal,
[] os escritórios de advocacia que atuam na linha do falecido Consiglieri Thomaz Bastos.
Todo esse contingente somado não alcança 10% da população brasileira, mas seus agentes fazem barulho porque adotaram e estão praticando o jihadismo cultural ofensivo. É o sucedâneo da luta armada para os que querem enfrear a democracia.
O objetivo imediato dessa guerra civil fria é criar um caos no país tornando imperiosa – inevitável mesmo a quebra dos ritos constitucionais (que estão sendo rigorosamente seguidos até agora) – a convocação de eleições extraordinárias o quanto antes (ainda neste ano de 2016, se possível). Por dois motivos.
O primeiro motivo é que o Chefe não quer ser preso. A candidatura de Lula é a única chance de ele – como capo já reconhecido do esquema criminoso de poder – escapar da cadeia. É também a saída para vários outros dirigentes partidários que estão sendo investigados. Pois cassar (ou prender) candidatos soará claramente como golpe, no país e no exterior.
O segundo motivo é que o PT avalia, corretamente, que mesmo que Dilma volte à presidência, não é possível mais tocar o governo com cerca de 130 deputados na Câmara. Com uma minoria tão expressiva no parlamento, seria preciso adotar soluções de força para permanecer governando: mas o PT não tem força própria (e quem tem – como as FFAA – não está disposto a apoiar sua aventura anticonstitucional e antidemocrática).
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