Dilma insiste na tese do golpe parlamentar.
Seria golpe porque, segundo ela, não há crime.
Mas quem julga se há ou não há crime são as instituições, não ela, não a pessoa que cometeu os delitos. E as instituições, cumprindo rigorosamente o seu papel constitucional, avaliam que há, sim, crime, do contrário ela não estaria sendo processada e não estaria na condição de ré.
Mas Dilma parte da premissa de que é ela – a ré e o seu partido e os seus aliados – que devem dizer se há ou não há crime, não as instituições do Estado democrático de direito. Assim, qualquer resultado que não lhe seja favorável, será golpe. Porque quem cometeu o crime de responsabilidade já se absolveu antes do julgamento das instituições.
Se fosse como ela quer, de nada serviriam as instituições. Ou seja, as instituições, segundo ela, não podem dizer que há crime, só podem dizer que não há. Se disserem que há é golpe.
Francamente, só uma pessoa irresponsável como Dilma poderia ser tão sórdida a ponto de desempenhar tal papel. Qualquer pessoa com um mínimo de juízo teria vergonha de se comportar assim.
Sim, ela é sórdida. No seu discurso no Senado não teve vergonha de apelar geral: disse que foi torturada, que teve câncer, que sofre preconceito por ser mulher e que está sofrendo um golpe.
Sim, ela é sórdida. Atribui mentirosamente ao governo Temer, como resumiu o Reinaldo Azevedo, “a intenção de cortar programas sociais, de cassar benefícios das mulheres e dos negros, de cortar recursos para a saúde e as crianças, de vitimar os mais velhos, ceifando-lhes a aposentadoria, de querer punir o Nordeste, de não ter compromisso com o salário mínimo, de conspirar contra o pré-sal. No auge da mistificação, chega mesmo a atribuir a seus adversários um conluio contra a estabilidade fiscal — justo ela, que destruiu as contas públicas”. Ela sabe que tudo isso é mentira, mas repete – sordidamente – mesmo assim.
Sim, ela é sórdida. Tem a coragem de dizer – ao mesmo tempo (quer dizer, duplipensando) – que a crise que nos assola é internacional e foi provocada pela oposição, que não aceitou a derrota eleitoral.
Sim, ela é sórdida. Alega que o impeachment não surgiu dos gigantescos protestos de 15 de março, 12 de abril, 16 de agosto de 2015 e de 13 de março de 2016 – as maiores manifestações políticas de toda a história do Brasil – e sim de uma armação de Eduardo Cunha. Construir Cunha como inimigo universal, como uma espécie de Emmanuel Goldstein (para lembrar o 1984 de George Orwell), para inculpar-lhe de todos os males que nos assolam, não passa de uma falsificação sórdida.
Sim, ela é sórdida. Para ganhar votos dos que queriam pescar nas águas turvas da crise (como a oportunista Marina), diz que fará um plebiscito para convocar eleições extraordinárias (contra o que diz a Constituição). Mas se ela quer antecipar eleições, é sinal de que não quer governar até o fim do mandato, certo? Então para que quer voltar ao governo? Na verdade, ela não quer nada disso. É apenas mais uma sordidez.
Sim, ela é sórdida. E continua repetindo, ad nauseam, a cantilena de que foi eleita com 54 milhões de votos, sem mencionar que foram apurados em 2014 cerca de 112 milhões votos. O que são 54 milhões de eleitores de Dilma diante dos 58 milhões que não votaram em Dilma? Além do mais, se Dilma teve 54.501.118 votos, Aécio teve 51.041.155. Ou seja, foi uma votação muito dividida, em que ela ganhou – nas regras absurdas, mas aceitas, do winner takes all – por apenas 3,28%. Isso que dizer que pouco mais de 3% lhe dão, por assim dizer, o direito de se comportar como dona de todos os votos (inclusive da maioria dos votos, que não obteve)?
Pois é. Infelizmente, para ela, esses 3,28% de vantagem obtida em 2014, não poderão salvá-la das investigações que virão logo após o impeachment. O que ela dirá se descobrirem que foi eleita e reeleita com dinheiro do crime?



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