Tudo. Para entender isso, comece pensando o seguinte: se o vice de Dilma fosse José Eduardo Cardozo (ou qualquer outro petista), haveria a proposta de novas eleições? E haveria, neste caso, o falso argumento do golpe? Aliás, quando o PT propôs ou apoiou, a partir de 1990, cerca de 50 pedidos de impeachment (contra todos os presidentes que não eram petistas, até contra o pobre do Itamar), não era golpe?
Parece que golpe é somente se o PT vai perder o poder. A alegação é manjada. É exatamente a mesma usada por Chávez, Maduro e outros neopopulistas contra seus opositores.
A proposta extemporânea de novas eleições, interrompendo os mandatos atuais, além de inconstitucional (pois não se pode alterar a periodicidade eleitoral e a duração dos mandatos) não se pode consumar sem uma ruptura grave do Estado de direito (todos os que têm mandato teriam que concordar e, como eles não concordam, teriam que ser cassados). Isto sim seria um golpe, seria rasgar a Constituição.
Ademais, do ponto de vista político, é apenas uma maneira de salvar Lula da cadeia e voltar ao poder. Lula está levando o PT para fora dos limites do Estado de direito porque sabe que a única saída para escapar da punição pelos seus muitos crimes é uma candidatura e um palanque (como fez em 2006, depois da crise do mensalão). Quando um candidato ou pré-candidato começa a sua campanha, fica tudo mais difícil. E se ele adquire bons índices de popularidade iniciais, a interrupção da sua candidatura soa como golpe: aqui, no Afeganistão e no Japão.
Só se justificaria antecipar eleições e romper a ordem constitucional vigente diante de uma crise institucional em que não houvesse mais governabilidade ou possibilidade de governança. Não é a situação atual do Brasil. Mas é o que o PT está tentando fazer: apostar no caos nas ruas e inviabilizar o governo no parlamento, tudo para forçar a barra.
No meio do caminho também há a oportunista Marina, cujo partido atuou como linha auxiliar do PT e, embora declarando o contrário, combateu o impeachment com mais vigor ainda do que os petistas, imaginando que conseguiria pescar nas águas turvas da crise para herdar os votos de esquerda que eram tradicionalmente do PT.
Portanto, do ponto de vista da democracia, está tudo errado com a proposta de novas eleições, que parece sedutora a muitos em razão do analfabetismo democrático reinante, que faz com que as pessoas confundam democracia com eleições. Os neopopulismos (como o lulopetismo e o nascente projeto marinista) são uma via eleitoral para o poder que quer colocar o critério da eletividade como absoluto, diminuindo a importância dos demais critérios sem os quais um regime democrático não pode ser considerado legítimo (como a liberdade, a publicidade ou transparência, a rotatividade ou alternância, a legalidade e a institucionalidade). É um modo solerte de manipular a opinião pública usando as eleições contra a democracia.
Há, porém, uma maneira de desmascarar essa proposta (resumida no banner abaixo):




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