No dia 5 de setembro de 2016 publiquei em Dagobah o artigo Sucesso tático absoluto. Segue agora a complementação.
O tudo ou nada que o PT vem abraçando após o impeachment vai levar o partido a uma espécie inédita de clandestinidade na democracia.
Nada indica que o PT tomará o poder por processos extra-constitucionais ou extra-eleitorais. Embora os bolivarianistas estejam investindo na desestabilização do governo, não há fórmula constitucional viável para removê-lo antes do prazo. As eleições serão apenas em 2018 e nenhuma bagunça generalizada poderá forçar a sua antecipação, de vez que isso – além de ser inconstitucional – contraria os interesses do velho sistema político que ainda remanesce.
Como disse hoje em um artigo:
“Só se justificaria antecipar eleições e romper a ordem constitucional vigente diante de uma crise institucional em que não houvesse mais governabilidade ou possibilidade de governança. Não é a situação atual do Brasil. Mas é o que o PT está tentando fazer: apostar no caos nas ruas e inviabilizar o governo no parlamento, tudo para forçar a barra.
Ademais, do ponto de vista político, é apenas uma maneira de salvar Lula da cadeia e voltar ao poder. Lula está levando o PT para fora dos limites do Estado de direito porque sabe que a única saída para escapar da punição pelos seus muitos crimes é uma candidatura e um palanque (como fez em 2006, depois da crise do mensalão). Quando um candidato ou pré-candidato começa a sua campanha, fica tudo mais difícil. E se ele adquire bons índices de popularidade iniciais, a interrupção da sua candidatura soa como golpe: aqui, no Afeganistão e no Japão”.
Será que ainda restou no PT alguém com juízo e inteligência política suficiente para perceber que sem se desvencilhar de Lula (o único interessado em imolar o PT para se salvar) a sigla está fadada a extinção?
Lula é objeto hoje de seis inquéritos e uma acusação em andamento:
O primeiro inquérito apura a compra e a reforma do sítio em Atibaia.
O segundo inquérito trata do triplex no Guarujá.
O terceiro inquérito investiga repasses das empreiteiras por meio da empresa de palestras de Lula.
O quarto inquérito é aquele que aponta Lula como mandante do suborno a Nestor Cerveró.
O quinto apura a tentativa de Dilma Rousseff de obstruir a Lava Jato acolhendo Lula na Casa Civil (o grampo foi anulado, mas o inquérito continua).
O sexto acusa Lula de ser o chefe do quadrilhão.
E Lula foi agora acusado de se apropriar de bens públicos e escondê-los num cofre do Banco do Brasil em nome da mulher e do filho.
Mantido o Estado de direito, é impossível escapar de tantos crimes e Lula sabe disso. Por isso está apostando no caos, para forçar uma ruptura.
Todavia, confrontar assim a legalidade só daria certo se o PT tivesse forças suficientes para tomar o poder por meios extra-constitucionais. Do contrário, mais cedo ou mais tarde, as instituições reagirão.
As instituições não são capazes de suportar mais de dois anos de caos provocado por minorias nas ruas e de inviabilização do funcionamento parlamentar por uma minoria de representantes.
Independentemente de quem as pilote, as instituições do Estado acabam se impondo pela força, sempre que necessário. Gostemos dele ou não, o Estado é (milenarmente) resiliente. A diretiva do PT de investir no confronto – sem condições objetivas de inverter a correlação de forças – é meio suicida.
E mesmo que o PT conseguisse desestabilizar o governo Temer, ao que tudo indica seria muito difícil conquistar eleitoralmente a presidência da República e uma sólida maioria parlamentar para governar em seguida. O mais provável é que com essa estratégia temerária, o PT consiga apenas se colocar numa situação inédita de clandestinidade social em plena vigência do regime democrático.
Com esse erro estratégico o PT está preparando o caminho para a sua própria extinção.



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