Os bancários entram hoje no 15º dia de greve. Não são os grandes correntistas que sofrem com isso. São os aposentados, os que não podem movimentar suas contas pela internet, os que não sabem usar cartões de débito para sacar dinheiro nos caixas eletrônicos.
A CUT – aparelho do PT que inspira esse tipo de coisa desumana – não está nem aí. A ordem é desestabilizar o governo Temer para criar uma confusão e, no meio da confusão, tentar livrar Lula da cadeia.
O evento é relevante em razão do seguinte. O fator mais importante da conjuntura neste período é o julgamento, a condenação e a prisão (ou fuga) de Lula. Enquanto ele continuar impune e chefiando a organização criminosa, ela não será desbaratada (o que só se consumará, a rigor, ou com a cassação do registro do PT ou com uma reforma cabal do partido que seja capaz de afastar a elite autocrática e corrupta que o comanda: mas esta segunda hipótese é remotíssima). Se ele, Lula, conseguir retardar os julgamentos até poder se candidatar para as eleições de 2018 – e subir no palanque – a transição democrática pós-PT será interrompida. Haverá uma reagrupação de forças, uma possível ofensiva brutal contra o Estado democrático de direito e suas instituições, com sérios riscos para a democracia.
Os trabalhadores bancários, pode-se apostar, não têm esse propósito. Estão apenas querendo recompor seus salários, corroídos pela inflação e pela crise. Agem, como qualquer categoria, corporativamente (ou seja, os outros que se danem, cada qual cuide do seu interesse). Pegos pelo seu interesse, servem, entretanto, como massa de manobra partidária.
Do banditismo sindical ao partidário
O corporativismo sindical – assim como todo corporativismo – conspira contra o público. Ele está baseado na ideia de que “os outros que se danem”. Isso não é expresso assim, mas por meio da crença de que cada categoria deve cuidar dos seus próprios interesses (que são privados, a despeito de serem coletivos).
Mas a sociedade não é constituída pela soma de categorias profissionais. E o público não se forma a partir da sobreposição de interesses particulares a um interesse comum, nem pela luta entre interesses privados colidentes: aliás, esta é uma ideia que vai contra o sentido do que chamamos de commons (e cria obstáculos ao processo de sua formação).
Colocar os interesses particulares de um grupo acima (ou contra) os interesses comuns (conquanto difusos) da sociedade é antidemocrático. É, a rigor, uma privatização do público.
A origem dessa perversão é a mesma do banditismo (naquela acepção social do termo que foi tratada por Hobsbawm, em 1968, em Rebeldes Primitivos). Em alguns casos, porém – de algumas categorias profissionais que fazem greves em conluio com os patrões, para se apropriar de parte da receita pública composta pelas contribuições compulsórias de todos nós, via impostos) – esse banditismo social pode virar banditismo criminal mesmo.
Em qualquer caso, o sindicalismo é uma forma de banditismo que pode ser aproveitada por outro tipo de organização política privada que chamamos de partido. Os partidos também são bandos, embora situados em outra posição no espectro da privataria aceita pelo velho sistema político enquanto aceitem as regras da democracia. Mas se uma organização política privada (um partido) usa o sindicalismo como parte de uma estratégia para enfrear a democracia, obstruir o funcionamento das instituições e privatizar a esfera pública, então isso não poderia ser aceito pelo Estado democrático de direito.
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