Este artigo está sendo publicado propositadamente 5 horas antes do início da apuração dos votos de 2016 no Brasil
Não há como negar que as eleições, do modo como estão organizadas, não são mais um método muito confiável de verificação da vontade política coletiva. E não em razão das fraudes a que estão expostas, mas de todo tipo de manipulação da opinião pública a que elas são vulneráveis, inclusive pelos institutos de pesquisa, que são autorizados pelas leis a fazer profecias auto-realizáveis na reta final das campanhas. Se um instituto de pesquisa diz, às vésperas do pleito (e não podendo ser contraditado antes da votação), que um candidato tem chances de vencer ou passar para o segundo turno, isso alimenta artificialmente o voto útil e fornece uma espécie de anabolizante para a militância cair em campo na boca de urna. É doping.
DOPING ELEITORAL
Examinemos o caso do Instituto Dafolha, da Folha de São Paulo. O objetivo do Datafolha é que Dória quase seja eleito no primeiro turno com votos de Russomano e Marta? Não sabemos, mas parece… Haddad, o campeão da rejeição, passaria para o segundo turno sem votos próprios absolutos suficientes, por força da deliquescência das outras candidaturas.
Estranha disparidade entre os números do Ibope e do Datafolha em São Paulo. Se tivesse ocorrendo uma virada de Haddad ele deveria estar crescendo mais. O que o Datafolha apurou (ou fez, vai saber) foi inflar Dória e derrubar os demais candidatos. Vejam:
Doria (PSDB): 35% (Ibope); 44% (Datafolha) | Diferença de 9 pontos para mais.
Russomanno (PRB): 23% (Ibope); 16% (Datafolha) | Diferença de 7 pontos para menos.
Marta (PMDB): 19% (Ibope); 14% (Datafolha) | Diferença de 5 pontos para menos.
Haddad (PT): 15% (Ibope); 16% (Datafolha) | Diferença normal, de apenas um ponto.
O Datafolha pode estar certo? No limite, pode, apesar do seu péssimo histórico de falsificar números, sistematicamente, nos levantamentos de participantes pró e contra o impeachment, sobretudo na Avenida Paulista. De qualquer modo, como última pesquisa, para levantar a militância petista, prestou um bom serviço à Haddad (que já estava praticamente morto).
Sempre pode haver uma virada de última hora, mas vejam bem: segundo o Datafolha essa virada não houve até a hora da coleta dos números da última pesquisa, pois ele continuava com 16%. Não estamos acusando o Datafolha de fraude, por enquanto. Estamos dizendo que, objetivamente, os resultados do Datafolha ajudam o PT a tentar uma virada over night.
UM CADÁVER QUE QUER SE ADIAR
Para que serve esse investimento no overnight eleitoral? Ora, serve aos objetivos do PT. O objetivo central do PT neste momento é levar Haddad para o segundo turno. Com isso, o partido ganha um mês. Um mês de anabolizante para a militância: o muque da campanha. Um mês de palanque para Lula, tornando-o menos vulnerável à prisão (do contrário, vão dizer que o judiciário interferiu na disputa, para impedir o PT de vencer na capital de São Paulo). Um mês para transformar tudo em guerra, que é o ambiente onde os petistas podem procriar. Sabendo que tudo estará perdido no final, resta ao PT empurrar o final para frente, na esperança de que ele não chegue. É um cadáver que quer se adiar.
O DECLÍNIO ELEITORAL DO PT E O ACIRRAMENTO DA GUERRA FRIA
Mas seja qual for o resultado em São Paulo, infelizmente, para o PT, não há saída. E infelizmente, para nós, não haverá paz.
Os maiores municípios do país, com mais de 200 mil habitantes, não chegam a 100 (são apenas 92, onde haverá segundo turno nas eleições de 2016). Os municípios médios com mais de 100 mil habitantes e menos de 200 mil são pouco mais de 200 (cerca de 2012). Nestes últimos, a eleição será definida amanhã (2 de outubro de 2016). Examinando quem foi para o segundo turno, nos municípios grandes e quem foi eleito nos municípios médios, já se poderá ter um quadro do declínio do bloco político autocrático de esquerda que adere à via neopopulista para atacar e enfrear a democracia brasileira por meio das eleições.
O declínio desse bloco autocrático pode ser avaliado pelo número de municípios que deixou de conquistar ou pela redução da população que será governada por ele, comparando-se o ano de 2013 com o de 2017. Mas apenas em parte. O lulopetismo (a forma brasileira do neopopulismo, prima-irmã do chavismo e dos demais bolivarianismos e do kirchnerismo) ainda não morreu. O PT, seus satélites e aliados subordinados, estão enraizados na sociedade brasileira com condições de travar uma guerra civil fria de longa duração. A ameaça à democracia continuará enquanto esse bloco estiver homiziado para fazer uma espécie de jihad cultural ofensiva nos seguintes bunkers:
1) partidos estatistas (PT, PCdoB, PSOL, REDE, PSTU, PCO, PCB, PDT etc.);
2) rede suja de veículos a serviço da guerra de propaganda e contra-informação (movida pelos partidos estatistas);
3) parte da grande mídia (criptopetistas e criptolulistas infiltrados na imprensa, rádio e TV);
4) universidades e escolas (aqui se concentra o maior contingente);
5) centrais, sindicatos, associações profissionais e assemelhadas (que atuaram de forma pelega na última década);
6) meios artísticos e culturais;
7) “movimentos sociais” que atuam como correias de transmissão de partidos estatistas (MST, MTST, UNE etc.);
8) organizações não-governamentais (que atuaram como organizações neo-governamentais na última década);
9) governos federal e instituições sob sua influência: empresas estatais, agências reguladoras etc. (com o impeachment, começou a desinfestação, mas os aparelhadores infiltrados que ainda restam são milhares) e governos estaduais e municipais (comandados pelo bloco da esquerda autocrática);
10) organismos internacionais do sistema das UN no Brasil e organizações regionais (como OEA e todas que terminam com as letras SUR);
11) empresas operadoras do esquema criminoso de poder (como as empreiteiras Odebrecht e OAS, que estão sendo desbaratadas pela operação Lava Jato).
As eleições de hoje (02/10/2016) afetarão mais diretamente os governos municipais (que são apenas um dos bunkers listados acima). Decisivas mesmo serão as eleições de 2018 porquanto o projeto neopopulista passa necessariamente pela eleição de um presidente (para dar um “curto circuito” nas instituições do Estado democrático de direito, eliminando as mediações, deprimindo o sistema imunológico da democracia e neutralizando os mecanismos de checks and balances para poder conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido com o fito de nunca mais sair do governo). Sem um líder com potencial para vencer eleições presidenciais o projeto fica desabilitado.
Por isso a guerra fria movida pelo bloco estatista terá seu período de máximo acirramento nos próximos dois anos. Não, infelizmente, não haverá paz.
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