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Perda Total

As urnas só sacramentaram o que as ruas já haviam feito

O segundo turno eleitoral de 2016 confirmou o primeiro. Revelou, em primeiro lugar, a insatisfação do eleitor com o modo como o sistema representativo está organizado e funciona (que se manifestou pelo crescimento do não-voto: abstenções + brancos + nulos). E, em segundo lugar, a reprovação eleitoral do PT (e da chamada esquerda em geral) e a recusa da imensa maioria da população em aceitar as falsas narrativas do golpe para desqualificar o impeachment de Dilma Rousseff. Neste particular, revelou ainda que a população não aderiu ao Fora Temer, não acha que o governo atual é ilegítimo e nem recusa os partidos do governo e da sua base (PMDB, PSDB, PPS e outros: que foram os grandes beneficiários do pleito). Isso parece colocar um ponto final nas interpretações tendenciosas dos apoiadores do lulopetismo (nos partidos, nas corporações, nas universidades, nas organizações não-governamentais, nos chamados movimentos sociais, nas representações no Brasil de vários organismos internacionais do sistema das UN, em setores dos meios de comunicação, nas grandes bancas de advogados et coetera).

A INSATISFAÇÃO DO ELEITOR COM O SISTEMA  

A abstenção nacional no segundo turno da eleição municipal subiu de 19,12% (em 2012) para 21,6% (em 2016) e o número de brancos e nulos pulou de 9,1% (2012) para 14,3% (2016). Agora em 2016 eram 32,9 milhões de eleitores aptos a votar. Mas 10,7 milhões não votaram em ninguém (abstenções, brancos e nulos). Foram 32,5% de não-voto. É muito! Estas são as médias nacionais. Se excluirmos as regiões norte e nordeste, entretanto, o não-voto (abstenções + brancos + nulos) dispara. Não há outra interpretação honesta para esses dados a não ser a insatisfação do eleitor com o modo como o sistema representativo está organizado e funciona.

eleicoes-brasil-g1-nao-voto

Considerando apenas as abstenções, tivemos neste segundo turno (sem norte e nordeste) e acima da média nacional:

Ribeirão Preto (SP) – 27,62
Petrópolis (RJ) – 27,09
Rio de Janeiro (RJ) – 26,85
São Gonçalo (RJ) – 25,61
Belford Roxo (RJ) – 25,38
Santo André (SP) – 25,36
Porto Alegre (RS) – 25,26
Nova Iguaçu (RJ) – 25,25
Cuiabá (MT) – 25,1
Bauru (SP) – 24,87
Osasco (SP) – 24,78
Vila Velha (ES) – 24,42
São Bernardo (SP) – 24,28
Goiânia (GO) – 24,09
Diadema (SP) – 23,86
Duque de Caxias (RJ) – 23,83
Franca (SP) – 23,52
Anápolis (GO) – 23,38
Suzano (SP) – 23,25
Belo Horizonte (MG) – 22,77
Juiz de Fora (MG) – 22,76
Guarujá (SP) – 22,56
Guarulhos (SP) – 22,52
Serra (ES) – 22,47
Campo Grande (MS) – 22,32
Niterói (RJ) – 22,31
Mauá (SP) – 22,23
Santa Maria (RS) – 22,19
Cariacica (ES) – 22
Volta Redonda (RJ) – 21,96
Sorocaba (SP) – 21,43 (esta abaixo, mas muito perto).

Não parece ser verdade que isso se deveu a problemas de registro eleitoral (pessoas que faleceram, que mudaram de cidade, que não se recadastraram etc.) ou que tenha ocorrido em virtude de simples desinteresse eventual ou viagens de lazer: do contrário Caxias do Sul, Joinville, Manaus e Olinda não teriam ficado abaixo da metade da média. Vejam as cidades abaixo da média nacional na lista abaixo:

Contagem (MG) – 20,81
Jaboatão (PE) – 20,4
Canoas (RS) – 20,37
Jundiaí (SP) – 20,17
Curitiba (PR) – 20,12
Caucaia (CE) – 20,07
Maceió (AL) – 20,06
Maringá (PR) – 19,61
Montes Claros (MG) – 19,4
Aracaju (SE) – 18,95
Fortaleza (CE) – 18,6
Florianópolis (SC) – 16,18
São Luís (MA) – 16,1
Vitória (ES) – 13,29
Recife (PE) – 13,16
Ponta Grossa (PR) – 12,13
Blumenau (SC) – 11,61
Caruaru (PE) – 10,99
Caxias do Sul (RS) – 10,73
Joinville (SC) – 10,52
Manaus (AM) – 9,5
Olinda (PE) – 8,05

É conclusivo. A abstenção foi, em grande parte (sobretudo nos centros mais politizados), protesto. Assim como – mais inequivocamente ainda – os votos brancos e nulos.

A REPROVAÇÃO ELEITORAL DO PT

O segundo turno lacrou o que o primeiro já havia anunciado. O gráfico abaixo (da Folha de São Paulo) mostra perfeitamente o desastre eleitoral do PT em 2016:

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Diante dos números e de sua evolução, não há muito o que discutir. O PT teve perda total no segundo turno. Concorreu em 7 cidades: Anápolis, Recife, Santa Maria, Santo André, Juiz de Fora, Mauá e Vitória da Conquista. Perdeu em todas. Perdeu até em cidades em que o prefeito petista, ainda no cargo, apoiou candidato de outro partido (como em Canoas). Com a queda de Santo André e Mauá, o PT perdeu todo o cinturão vermelho com que pretendia cercar a capital de São Paulo.

Não sobrou nada. Nem mesmo a brava Santa Maria dos gaúchos e o baluarte baiano de Vitória da Conquista. É claro que, simbolicamente, já havia escorrido pelos dedos no primeiro turno o berço do lulismo: São Bernardo do Campo (e essa deve ter sido a razão pela qual Lula não apareceu para votar na sua seção eleitoral no segundo turno, numa demonstração horrorosa de falta de espírito cívico e democrático). Como que expelido do corpo nacional, empurrado pelos eleitores para as fronteiras do território brasileiro, o PT se transformou num partido acreano (de capitais e cidades grandes só ficou com uma: Rio Branco, onde ainda vige o coronelismo dos Viana). E araraquarense (enquanto Edinho estiver solto, pelo menos). L’armata di Lullaleone: Lula agora vai comandar os exércitos do Reino Unido de Rio Branco e Araraquara.

Isso não pode ser um acidente. Não pode ser explicado por uma má fase. E não aconteceu somente com o PT e sim com todos os partidos mais assanhados, ditos de esquerda, que votaram contra o impeachment e adotaram a falsa narrativa do golpe e o Fora Temer. Escapou apenas, em um ou outro lugar, o PDT (que, convenhamos, não é bem esquerda: na verdade, não é nada). O PSOL, considerado por alguns como o sucedâneo do PT, perdeu em todas as cidades que disputou. E a Rede da Marina, que queria ser a herdeira do PT, só ganhou em Macapá em virtude de uma troca de legenda do candidato e de uma situação local particularíssima.

Não, não foi a direita que fez isso, como querem que a gente acredite os universitários de Caxambu (onde ocorre anualmente o tradicional encontro da alfândega ideológica chamada ANPOCS – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais). Onde está Wally? Não se encontra. O PT sumiu do mapa. Não foram os coxinhas, as elites, os conservadores, os tucanos ou Geraldo Alckmin que fizeram isso (embora estes últimos tenham se beneficiado da bancarrota petista). Foram as pessoas que compareceram às urnas sob a influência social das pessoas que foram às ruas em 15 de março, 12 de abril, 16 de agosto de 2015 e 13 de março de 2016. As urnas só sacramentaram o que as ruas já haviam feito.

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O PT está sendo dizimado, mas…

Txau, queridxs