Sabemos que as pessoas, em geral, não acreditam muito em boletins meteorológicos (ou seja, nas previsões possíveis fornecidas pela análise de dados científicos). Só se apavoram com a tempestade quando os móveis começam a boiar dentro da sala e os carros são arrastados pela enxurrada.
Mesmo assim, seguem aqui algumas considerações baseadas em análise política.
Pelo fato de Jair Bolsonaro e seus filhos serem bolsonaristas, as pessoas têm dificuldade de separar o governo Bolsonaro (instituição) do bolsonarismo (força política).
O governo (agora tutelado por militares que não querem entrar na aventura da guerra olavista) tende a se comportar e a se adequar ao establishment, mas o bolsonarismo tende a escalar seus ataques abertos às instituições do Estado de direito e à democracia.
O governo quer governar dentro dos marcos do regime. A força política bolsonarista quer derrubar o regime.
Basta ler os posts de Olavo e acompanhar as hashtags bolsonaristas, diariamente no topo dos TT do Twitter, para comprovar isso. A democracia brasileira está, neste momento, sob ataque de uma força maligna, perigosa, regressiva e muito agressiva.
Atenção pollyannas! Não são apenas meia dúzia de jovens desmiolados fazendo espuma no WhatsApp e manipulando as mídias sociais. O ataque é real. E só poderia ser desprezado se parte do governo e da família do presidente e de várias milícias (legais e ilegais) não estivesse alinhado com ele. Acordem! Antes que seja tarde.
Olhem o que os bolsonaristas e lavajatistas estão combinando no WhatsApp para replicar no Twitter. A hashtag #STMintervençãonoSTF está agora no topo dos TT. Isso é um ataque frontal às instituições do Estado de direito e ao regime democrático. Não pode ser tolerado, mesmo porque não é espontâneo. Pessoas ligadas a Bolsonaro centralizam esse tipo de manipulação das mídias sociais.
A Folha de São Paulo reproduz hoje alguns desses ataques solertes bolsonaristas contra a institucionalidade democrática. Num deles se diz:
“OAB e Judiciário estão aparelhados com essa máfia comunista e o narcotráfico de toda a América Latina”.
E mais:
“O STF só pode ser derrubado com uma ação efetiva e massiva do povo.”
Insinuar que o Supremo Tribunal Federal é uma instituição golpista financiada com dinheiro do narcotráfico e aparelhada pelos comunistas ultrapassa os limites da liberdade de expressão. É crime. Pregar a sua derrubada, idem. Chamá-lo de organização criminosa, idem-idem. Os responsáveis por isso devem ser investigados e processados na forma da lei.
Pedir intervenção militar na principal instituição do judiciário, estando já no governo, só pode significar uma coisa: um movimento em direção à mudança de regime. Não sabemos se isso é combinado com Jair Bolsonaro, mas sabemos que é uma iniciativa bolsonarista.
Ainda que Bolsonaro tenha sido legitimamente eleito, a força política bolsonarista-olavista é ilegítima na medida em que ataca as instituições da democracia visando operar uma mudança de regime. Repita-se: é uma força tenebrosa, regressiva e muito agressiva, que deve ser contida pelo Estado democrático de direito.
Embora Bolsonaro tenha sido legitimamente eleito, a extrema-direita olavista e bolsonarista não é um player democrático válido. Preparem-se para o pior. Esse malucos não queriam trocar de governo e sim usar o governo para forçar uma mudança de regime (rumo a uma autocracia eleitoral).
Vejam na sequência os tuítes de hoje (14/03/2019) de Olavo. E por que falo tanto em Olavo? Porque o bolsonarismo, no que tem de substância, é olavismo (atenção: não estou falando dos eleitores normais de Bolsonaro, que votaram nele porque não queriam a volta do PT ao governo, porque estavam alarmados com a insegurança pública ou porque estavam revoltados com a corrupção na política).
O que esse malfeitor ideológico está dizendo?
Ele está dizendo, nos dois primeiros tuítes (reproduzidos acima), que os comunistas devem ser “destruídos por completo”. No sentido militar mesmo: Saul era um chefe militar. O diabo é que comunistas, para ele – e para o bolsonarismo, inclusive para o bolsonarismo dos Bolsonaro, como Eduardo – são todos os que não são bolsonaristas. Assim, todos os profissionais de imprensa (100%, como ele diz) se enquadram nessa categoria.
Ele quer guerra contra o “inimigo interno”. Guerra sem quartel. Guerra de extermínio.
Nos dois tuítes seguintes, Olavo apela para a polícia política (para os serviços de inteligência militar), incitando as forças armadas a tomar providências contra “o inimigo” (e Jair Bolsonaro já deixou claro que enquadra a mídia não alinhada como “o inimigo”).
O que se pode dizer mais? É duro de entender essa miopia dos analistas políticos para o perigo iminente.
Entende-se que as pessoas queiram botar panos quentes, atribuir tudo isso à maluquice do “Rasputin da Virgínia” ou a adolescentes transviados. É um engano. É um erro grave. Esses caras estão desferindo um ataque ao coração da nossa democracia. E mesmo que não consigam levar adiante o seu intento lograrão, no mínimo, desorganizar e paralisar a administração pública (como já estão fazendo no MEC), colocar em risco a política externa brasileira (como continuam tentando no Itamaraty) e, nos entrechoques de opinião que se instalam, pela média, tornar a nossa democracia menos liberal e, quem sabe, rebaixá-la para a categoria de uma autocracia eleitoral (na qual regimes como os que vigem na Hungria de Viktor Orbán e na Polônia de Kaczyński já estão a um passo de entrar, para não falar da Itália de Salvini e das Filipinas de Duterte).








