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A situação do PT: uma síntese

O projeto do PT – no mundo real (atual) – não funciona com o partido fora do governo. O PT não pode fugir para trás, se refugiar naquele passado em que fazia sua intifada entrincheirado nas corporações. Aquele mundo dos anos 90 está indisponível no momento.
 
Agora o PT está diante de uma bifurcação:
 
1) ou vira uma espécie de Irmandade Muçulmana pós 30 de junho de 2013 (quando a maior manifestação social já vista em toda história humana ocupou as cidades do Egito exigindo a queda do jihadista eleito Morsi) e corre o risco de ter seu registro partidário cassado pela justiça; ou
 
2) grita e esperneia durante um ou dois meses e depois se acomoda ao mundo real, começa a pensar para valer nas próximas eleições (de 2016 e 2018) e a articular alianças para não se isolar e desaparecer lentamente.
 
Entre os dois caminhos, talvez o PT – com a derrocada (que afigura-se inevitável) de Lula e a prisão (praticamente perpétua) de Dirceu, seus principais chefes – acabe virando uma espécie de partido de quadros, pequeno, coeso e oportunista como o PCdoB: máxima intransigência estratégica (no discurso, para não perder militância e base social) aliada à máxima flexibilidade tática (na prática, para não perder alguns postos no Estado e, inclusive, alguns recursos para manter seus dirigentes, de vez que sua sobrevivência, no mundo real, passou a ser um problema premente).
 
Ponto.
 

Há quem defenda o primeiro caminho. Ele pode ser ilustrado pelo post de uma delinquente política chamada Renata Corrêa, no Facebook, em 17 de maio às 10:21:

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Vejo muitos amigos falando em desobediência civil e que esse seria o caminho para se opor ao governo ilegítimo que se instalou.

A questão é que ninguém está dizendo exatamente o que seria desobediência civil.

Tenho ido a muitas manifestações e sinto um total desacordo com a base que chega e com o clima das lideranças. Na base, as pessoas estão estarrecidas, chocadas, prontas para o embate. As lideranças muitas vezes tentam emplacar uma narrativa otimista de “vamos nos mobilizar, estamos na rua, não passarão” com clima festivo, show, música.

A questão é que estão passando. É hora de alinharmos esses sentimentos e começarmos a pensar e a responder de forma adequada aos ataques que sofremos.

A ordem que foi estabelecida não é legítima então nós não temos a menor obrigação de compactuar com ela.

Sim, vocês sabem do que eu estou falando.

É ocupar os espaços golpistas. É fazer barreiras e impedir que o presidente ilegítimo da EBC tome posse e sente naquela cadeira. É INVADIR o ministério da Saúde. É ocupar a Câmara. É fazer bloqueio. É fazer greve. É ir para o CONFRONTO.

Nesse climinha paz e amor vão sapatear dezoito meses sobre nossas cabeças e quando a gente acordar desse sambinha triste adeus sus, adeus pre sal, adeus agências reguladoras, adeus comunicação livre e independente. Adeus CLT olá regulação da terceirização.

E depois dessas ações estabelecidas, quero ver desfazer. Quero ver recuperar os direitos das minorias. É hora de ir pra cima, sem dó nem piedade.

Este é o caminho que levará, mais cedo ou mais tarde, à cassação do registro partidário do PT. Mas parece que Lula, percebendo que não há mais saída (de vez que, para ele, não se trata mais apenas de política e sim de encontrar uma expressão para sua sociopatia) anda namorando com o perigo, como mostra este vídeo.

A maioria dos detentores de mandato e cargos de direção no Estado (em todos os níveis), bem como os que almejam se candidatar nas eleições de 2016 e 2018, não são tão incendiários assim como a militante Raquel. Querem fazer carreira política e sabem que o caminho do confronto – impossível de levar à vitória contra o Estado brasileiro – não é muito promissor. Mesmo porque, tirando a militância (que é ínfima numericamente a esta altura), a maioria esmagadora da população quer – como as ruas disseram em 15 de março, em 12 de abril e em 16 de agosto de 2015 e em 13 de março de 2016 – o impeachment de Dilma, a prisão de Lula e a extinção do PT. Não são os beneficiários do Bolsa Família que vão praticar a desobediência civil, no caso, antidemocrática.
 
Seja qual for o ramo da bifurcação tomado pelo PT, o terceiro caminho é meio inevitável. A menos que haja uma verdadeira reinvenção do partido, com uma revolta das bases e dos quadros intermediários e a remoção da atual direção lulista, o PT não conseguirá se repaginar como “bom moço”, reaparecendo limpinho como um player válido da democracia. E mesmo assim, depois de tanta corrupção – na verdade, do maior esquema de corrupção já visto na história -, a imagem dos ratos, sujos e agressivos, não será apagada facilmente do imaginário das pessoas. Não deixa de ser irônico – para aqueles que queriam ser a nova força política dos trabalhadores, capaz de redimir os pobres explorados, oprimidos e dominados desde Cabral – sucumbir a este destino PCdoB e ir parar no Parque dos Dinossauros.

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