Não podemos aceitar anistia para o caixa 2. Mas isso não transforma tudo na mesma coisa
Anistia para caixa 2 é um escândalo. No entanto… não se pode cair no golpe de que caixa 2 é um crime semelhante ao assalto ao Estado.
Grande parte do assalto petista ao Estado, via empreiteiras, virou caixa 1. Ora, caixa 1, em princípio, não é crime. Todavia, dependendo da origem dos recursos e sua lavagem via doação legal, é muito pior do que o caixa 2 recebido como doação de campanha por um candidato que não foi verificar se o dinheiro que recebeu tinha origem lícita (nenhum candidato faz isso, sobretudo no calor da campanha, diante da falta de recursos). E também é pior do que a do candidato que “não contabilizou” (para lembrar o Delúbio, mas aí já era mentira) uma doação.
E enquanto os moralistas vão caindo no golpe Thomaz Bastos (“tudo não passa de caixa 2 de campanha”, como Lula, instruído por ele, explicou em Paris no final de 2005, no auge do mensalão), não se discute o caixa 3, que é a corrupção para financiar um esquema paralelo de poder, praticada pelo PT para nunca mais sair do governo.
Claro que tudo é crime: mas o crime do Silvinho Mão-Leve, batedor de carteira da esquina, não é o mesmo crime de Charles “Lucky” Luciano, capo da Máfia. E o crime de corrupção de um Cunha não é o mesmo crime do PT (ao que se saiba Cunha não usou os frutos do seu roubo para financiar ditaduras na África e na América Latina e até candidaturas de protoditadores – por exemplo, a de Chávez, na Venezuela, como fez o lulopetismo – violando a democracia em vários países).
A corrupção de um Fidel ou de um Nicolás Maduro e de um Diosdado Cabello, não é a mesma corrupção de um Silvio Berlusconi ou de um José Sócrates: não apenas pelo seu volume e sim pela sua natureza ou propósito. O mesmo vale para a corrupção de um Cunha comparada à corrupção de um Lula ou de um Dirceu. São coisas diferentes: não porque os petistas roubaram mais do que Cunha e sim porque, além de roubarem para enriquecer ou se dar bem na vida, individualmente, os dirigentes petistas roubaram para financiar um esquema de poder cujo objetivo era subverter a democracia.
Sócrates (não o português, mas o ateniense), era – ao que tudo indica – honesto. Foi condenado e executado pela democracia dos antigos gregos. Péricles, possivelmente, não era tão honesto quanto Sócrates e não foi punido. Por que? Sócrates foi condenado por sua associação com pessoas que deram seguidos golpes na democracia e que estabeleceram a ditadura dos 30 e a ditadura dos 400 (e se não fossem neutralizados a tempo, dariam ainda um terceiro golpe, tão ou mais sangrento do que os anteriores).
É preciso entender por que a corrupção de um Péricles, principal protagonista da nascente democracia ateniense, no século 5 AEC, não tem nada a ver com a de um Putin (o assassino da FSB, ex-KGB que agora quer reeditar a guerra fria e a política de blocos). Aliás, a corrupção de Péricles (que chegou a ser acusado várias vezes desse delito) é menos nociva para a humanidade do que a honestidade de um Leônidas de Esparta: pessoalmente, um verdadeiro varão de Plutarco e, no entanto, a autocracia espartana financiou pelo menos um dos dois mencionados golpes de Estado contra a democracia ateniense, nos quais se envolveram os caras da entourage de Sócrates).
Se você não entendeu isso, não entendeu nada da democracia. Seu tema não é política: talvez seja bom procurar uma religião.
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