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Bolsonaro é minoria e o bolsonarismo organizado é uma ínfima minoria

O vídeo de ontem (16/09/2019) de Olavo de Carvalho, chamado Desenhando a explicação: que é militância?, é esclarecedor. Ele só confirma (mesmo que diga discordar da iniciativa de Allan dos Santos de cadastrar militantes) o que escrevi ontem no artigo A convocação olavista para a formação de um partido revolucionário bolsonarista. No vídeo linkado acima, o dementador Olavo, guru da família governante, deixa claro o que entende por militância, que é o que eu também entendo e qualquer pessoa informada entende. O militante não é o seguidor, o fiel, não é a massa, o gado, e sim o ativista organizado, que se reúne – diz ele – pelo menos uma vez por semana, que luta diuturnamente para concretizar seu objetivo (no caso do chamamento de Olavo, para apoiar incondicionalmente o führer Jair Messias Bolsonaro). Fazendo o quê ele não diz, porque não pode. Mas um conjunto de militantes que se reúne regularmente para analisar a conjuntura e traçar táticas compõe uma organização política. É o óbvio. Olavo quer fundar uma organização política revolucionária (para trás), quer dizer, reacionária. Ele é louco, perdeu tudo, pode-se dizer, mas não perdeu a razão. Sabe que estrovengas como o PSL não existem.

Ora, Olavo faz esse chamamento por que? Porque sabe que o bolsonarismo organizado – referindo-se aos quadros militantes – é uma ínfima minoria. E sabe também (embora não revele) que Bolsonaro é minoria na sociedade brasileira.

Bolsonaro vive falando das maiorias porque é majoritarista, quer dizer, antidemocrata.

A maior prova da repulsa de Bolsonaro pela democracia é ele ficar repetindo que as leis têm que ser feitas para a maioria. Ele não aceita que a democracia não seja o regime da maioria e sim o das múltiplas minorias, que devem ser legalmente protegidas da ditadura da maioria. Sim, o nome disso é majoritarismo, próprio dos populistas, que são hoje, no Brasil e no mundo, os principais adversários da democracia. E o irônico é que ele, Bolsonaro, é minoria.

Sim, a maior fraude cometida por Bolsonaro é dizer que fala em nome da maioria. Não fala nem para a maioria dos seus eleitores (que somam apenas 39% do eleitorado). Atualmente ele tenta falar para os que continuam apoiando incondicionalmente o seu governo (que perfazem, na média, 25 milhões num país de mais de 200 milhões).

Vejamos.

1 – A maioria dos brasileiros não votou em Bolsonaro. Sim, cerca de 58 milhões votaram nele, mas 90 milhões não votaram (por qualquer motivo, não importa). Foi uma maioria eleitoral (de menos de 40% dos eleitores) conformada, porém, segundo as regras vigentes e, assim, sua eleição foi legítima. Mas do fato de sua eleição ter sido legítima não se pode derivar que seu governo seja legítimo. A um governante, não basta ter sido eleito por maioria: é necessário também que ele governe democraticamente. Maduro e Erdogan também foram eleitos legitimamente. Lula e Dilma também forem eleitos por maioria.

2 – Entre 20 a 30 milhões (na média 25%, como foi dito) de eleitores (ou de brasileiros adultos) continuam apoiando incondicionalmente Bolsonaro. Em sua maioria pelo espírito do torcedor que tende a remanescer em um ambiente polarizado, quer dizer, para não dar o braço a torcer. Em menor parte, ainda por medo da volta do PT. Em número significativo, porque concordam com sua agenda dita conservadora (na verdade, reacionária) nos costumes (é o caso, por exemplo, dos evangélicos). Isso significa que 120 a 130 milhões de eleitores (ou de brasileiros adultos) não apoiam incondicionalmente Bolsonaro e não chegam nem a 60 milhões os que apoiam pontualmente a maioria de suas dez principais propostas anunciadas, aliás, em campanha: portanto, trata-se de um governo minoritário na sociedade.

3 – Mas, atenção! Somente 20% desses apoiadores incondicionais de Bolsonaro podem ser considerados eleitores capturados pelo bolsonarismo (0,4 em cada 10 eleitores, ou seja, 5 a 6 milhões de pessoas) que se transformaram em fiéis seguidores ou fanáticos.

4 – Todavia, em termos de quadros militantes efetivos, com atividade constante, diuturna e articulada, que vai além da mera replicação de diretivas do alto, os bolsonaristas não ultrapassam, talvez, 50 mil pessoas. E nem tão organizadas assim, como quer Olavo, de vez que o meio organizativo utilizado foram as mídias sociais e o canal de agitação e propaganda se deu a partir do fluxo descendente em árvore possibilitado pelo WhatsApp.

5 – Os hubs da rede descentralizada (quer dizer, mais centralizada do que distribuída) bolsonarista – que emitem diariamente diretivas para os quadros militantes efetivos de acordo com a vontade da famiglia Bolsonaro e de seus gurus (Olavo e Bannon) – são, entretanto, muito menos numerosos, não chegando a ultrapassar 100 pessoas (das quais conhecemos os nomes e sobrenomes). Olavo e Bannon são ideólogos. Esses 100 que cumprem o papel de multicentros irradiadores (incluindo Bolsonaro & Sons) são os dirigentes políticos.

Segundo todas as indicações disponíveis (inclusive a última pesquisa Datafolha sobre o assunto) essas são as contas mais plausíveis. As pessoas estranham porque levantamentos feitos por institutos de pesquisa de opinião confundem ideólogos com dirigentes, dirigentes com militantes, militantes com apoiadores e simpatizantes e apoiadores e simpatizantes com eleitores potenciais. Isso é um erro. Não haverá eleição presidencial no curto prazo. Não adianta especular com intenções de voto projetadas no futuro para aquilatar o número dos efetivos atuais.

O número de ideólogos e dirigentes não vai aumentar e isso não tem a menor importância. Agora, do que se trata é de impedir que o número de militantes aumente e, consequentemente, que o número de eleitores capturados (o gado arrebanhado) cresça além de um patamar aceitável, ultrapassando 1 fiel para cada 10 brasileiros. Se isso acontecer, a democracia terá dificuldade de metabolizar essa força política antissistema de extrema-direita designada genericamente pelo termo ‘bolsonarismo’.

A convocação olavista para a formação de um partido revolucionário bolsonarista

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