Toda hora aparece alguém me perguntando como me defino politicamente.
1 – Se eu disser que sou liberal, os basbaques desentenderão que sou neoliberal ou seguidor de alguma doutrina do liberalismo-econômico.
2 – Se eu disser que não sou de esquerda, os cretinos que acham que o mundo se divide em esquerda x direita, dirão que isso é uma prova de que sou de direita.
3 – Se eu disser que sou apenas um democrata, muitos não compreenderão e perguntarão por que então não concordo com Chávez, Lula, Cristina, Correa, Evo, Funes, Lugo e Obrador – que também seriam democratas (e alguns desses são mesmo: democratas apenas eleitorais, não-liberais).
4 – Nas circunstâncias atuais, para me diferenciar dos populistas-autoritários (como Trump, Orbán, Erdogan, Salvini, Le Pen e Bolsonaro) e dos neopopulistas (já mencionados acima) digo que sou um democrata não-populista, mas os que não sabem o que são os novos populismos do século 21 também ficarão sem entender.
5 – Então é necessário fazer uma longa explicação, começando dos primórdios da democracia. Vamos lá. Eu prefiro a cultura dos jônios do que a dos dórios (o tribalismo patriarcalista). Eu me alinho a Clístenes, Efialtes, Péricles e aos sofistas como Protágoras e não a Platão e ao seu Sócrates.
6 – Sou mais Althusius do que Bodin, mais Spinoza do que Hobbes, mais Paine do que Burke.
7 – Admiro os inventores do liberalismo político moderno como Locke, Montesquieu, Rousseau, Constant, Tocqueville e Mill – ainda que ache que eles não entenderam completamente o conceito originário de liberdade dos democratas atenienses.
8 – Fico com Dewey, Popper e Arendt em vez dos historicistas e economicistas (marxistas).
9 – Sigo, no fundamental, grande parte do que disseram sobre a democracia Berlin, Havel, Lefort, Bobbio, Castoriadis, Rawls, Dahrendorf, Sen, Dahl, Rancière.
10 – Na atualidade, acompanho com atenção, entre outros, o que escrevem Diamond, Snyder, Runciman, Mounk, Foa, Kyle, Lührmann, Tannenberg, Teorell, Coppedge e Lindberg.
11 – Meu pensamento se desdobra a partir de Maturana, com as derivas possibilitadas pelas descobertas da nova ciência das redes. Mas é meu próprio pensamento, que vem sendo expresso e continuamente modificado em livros e textos publicados nos últimos 40 anos.
12 – Talvez (só talvez) uma síntese do que penso apareça no meu novo livro, intitulado Como as democracias nascem (que será lançado em breve):


