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Errando sem parar

O governo Michel Temer começou a errar. E agora erra sem parar. Um errador serial. A tarefa de Temer era difícil, por certo, mas não impossível. Fazer a transição democrática pós-PT. Bastaria, em linhas gerais, não tentar barrar a Lava Jato e manter as coisas sob algum controle.

Temer, entretanto, fez a única coisa que não poderia fazer: deixou os corruptos da sua base fisiológica (que era a mesma base do governo do PT, acrescida de uns gatos pingados da antiga “oposição”) agirem corporativamente, tanto para escapar da lei, quanto para atacar a Lava Jato.

Há um caso simbólico. A transformação de Geddel em inimputável sob a alegação da sua utilidade para o governo. É escandaloso. A cidadania se revolta, mas o governo – apoiado em sua maioria congressual – faz ouvidos moucos. Que se dane o povo. Com esse comportamento reprovável, o palácio acha que pode seguir em frente. Não pode, como verá em breve. Neste caso já conseguiu o que parecia impossível. Colocou no mesmo campo o PT e as ruas que pediram o fim do PT. E agora corre o sério risco de ressuscitar o PT e se suicidar.

De transição democrática mesmo, não temos nada. O mínimo que se esperaria de um governo de transição pós-PT seria um relatório dos malfeitos petistas na última década. Onde está este relatório? Quem está fazendo o levantamento? Ninguém sabe. Ninguém viu.

Agora Renan Calheiros – que divide o comando da República com Temer (que tomou como refém) – fez aprovar no Senado regime de urgência para punir abuso de autoridade. Há quem diga que o texto do projeto de lei é bom. Mas não importa o que diz o texto. Aprovar com urgência uma lei (seja qual for) para punir abuso de autoridade é – neste exato momento – um ataque político à Lava Jato. Querem aprovar uma lei contra o abuso de autoridade de juízes e procuradores? Ótimo! Comecem a discutir esse projeto com a sociedade, como foi feito com as 10 medidas contra a corrupção. Pedir regime de urgência para aprovar um projeto de lei que ficou mofando na gaveta tantos anos – ainda que fosse o projeto mais justo e perfeito do mundo – é, claramente, uma manobra de luta política para refrear o ímpeto investigativo da força tarefa. Colunistas políticos conservadores e legalistas – como Reinaldo – se assanharam para justificar o projeto. Não por acaso esses também estão em campanha contra a Lava Jato.

É um desafio para a análise política desvendar os motivos de tantos e seguidos erros. Alguns poderão dizer que isso se deve à impotência de um governo que não foi eleito para conter o corporativismo do velho sistema político. Em parte, parece verdade. Mas se Temer quisesse mesmo entrar para a história como alguém que cumpriu um papel relevante, não poderia ter ficado surdo para a voz das ruas. Pois se não fossem as ruas ele jamais estaria sentado na cadeira presidencial, ainda que a sociedade não o tenha escolhido para nada (sua posse ocorreu estritamente em razão do que reza a Constituição).

O governo Temer poderia ser medíocre. Ninguém iria lhe cobrar não ter feito, em dois anos, a reforma da humanidade. Mas não poderia ser um governo fraco, com um presidente refém de bandidos com mandato.

Já se ouve de uma parte dos defensores do impeachment o grito “Fora Temer”. Melhor seria focalizar em Renan, o principal agente do retrocesso no momento. Mas essas coisas não são muito racionais. O “Fora Temer” corre o risco de pegar, tendo como seus principais protagonistas os autores originais do lema: os petistas que foram defenestrados do governo pelas ruas de 2015 e 2016 e escorraçados das instituições há poucos meses pelas urnas.

E agora? Os que pediam o fim do PT vão ser colocados na embaraçosa situação de ter de marchar ombro a ombro com o PT nas manifestações de rua e disputar com uma esquerda que enveredou para o crime a hegemonia sobre a justa movimentação social em defesa da Lava Jato e contra a manutenção de um sistema político que apodreceu?

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