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Jornalistas e analistas políticos são pessoas crédulas

VIVENDO SÓ PARA CRER

Jornalistas e analistas políticos são pessoas crédulas. Parece que vivem só para crer. Não todos, é claro. Mas boa parte.

Acreditaram que Guedes era liberal também no sentido político do termo (talvez porque nunca tivessem pensado que aderir à crenças do liberalismo-econômico não significa necessariamente ter um comportamento liberal em termos políticos).

Acreditaram que ele, Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, o gênio da economia (sem ter nenhuma obra escrita, apenas com base em pequenos artigos de jornal e palestras para entreter empresários) colocaria o capitão nos eixos.

Acreditaram que Bolsonaro abandonaria o estilo belicoso de campanha e seria desasnado pelo peso do cargo que ocupa.

Acreditaram que os militares – excelentes administradores e verdadeiros varões de Plutarco – domesticariam Bolsonaro e impediriam que ele continuasse falando e fazendo tanta besteira (deixando, por força do constrangimento dos seus colegas de farda, de ser o imbecil que foi durante três décadas de vida parlamentar).

Acreditaram que, com a reforma da Previdência, milhões de investidores voariam a jato para cá e nossa economia deslancharia (e acreditaram que o presidente acreditava nessa reforma e se empenharia na sua aprovação).

Acreditaram que as outras reformas liberalizantes de Guedes modernizariam de vez o nosso capitalismo de compadrio (e alguns acreditaram, inclusive, que nosso déficit seria zerado em um ano).

Acreditaram que em torno dos eleitos pelo PSL o governo formaria uma base majoritária no Congresso e entraríamos num período áureo de estabilidade política.

Acreditaram que Bolsonaro apoiava de fato o combate à corrupção promovido pela Lava Jato.

Acreditaram que a força-tarefa da Lava Jato era uma espécie de liga da justiça, composta por seres arcangélicos que só queriam fazer o bem para a humanidade e acabar com a corrupção endêmica na política que nos vitima há séculos.

Acreditaram que Moro levaria sua cruzada de limpeza ética para o governo e que o Brasil despontaria como o campeão da correção nos costumes políticos. Alguns acreditaram, inclusive – contra toda aritmética – que o dinheiro desviado pela corrupção é que impedia o nosso desenvolvimento (e que agora essa desgraça teria fim).

Acreditaram que o grave problema da segurança pública seria equacionado e resolvido sob a liderança do herói justiceiro de Curitiba (e acreditaram que o Brasil seria governado pela dupla Bolsonaro-Moro e que o segundo era tão super, mas tão super, que jamais seria contrariado pelo primeiro).

Acreditaram que não se deveria resistir a Bolsonaro porque ele foi legitimamente eleito por maioria (e admoestavam os que lembravam que 58 milhões votaram nele, mas 90 milhões não votaram). Acreditaram que era um absurdo sequer falar em fazer resistência ao governo (e que isso não passava de apelação de mau perdedor).

Acreditaram que a legitimidade eleitoral significava legitimidade do governo (uma espécie de cheque em branco, para o capitão fazer o que quisesse).

Acreditaram que se deveria elogiar o fato de que Bolsonaro estava sendo coerente com o que pregou em campanha, não praticando estelionato eleitoral (a despeito dos absurdos e dos ataques à democracia contidos nas suas propostas de campanha).

Acreditaram que se Bolsonaro não mandou um cabo e um soldado fechar o STF e não cassou o Congresso, não há nenhuma ameaça à nossa democracia, já que “as instituições estão funcionando”.

Acreditaram que a retórica de guerra, de ódio, de chefe de facção de Bolsonaro, não faz nenhum mal ao país e à nossa democracia, desde que as medidas concretas do governo (sobretudo as econômicas) continuassem avançando.

Mas o pior de tanta credulidade é que continuam acreditando que tudo será resolvido com o crescimento da economia, que essa fase inicial de aprendizagem acabará e que Bolsonaro se revelará, afinal, um presidente razoável, se não no primeiro, no seu segundo mandato…

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