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Módulos sociais de sobrevivência

O artigo Em que mundos queremos viver termina propondo que se pense em novos mundos bebês.

Para começar a pensar sobre isso – aproveitando a oportunidade da pandemia em curso – talvez se possa refletir sobre o que chamamos de “módulos sociais de sobrevivência”.

A expressão “módulos sociais de sobrevivência” significa, simplesmente, garantir a sobrevivência por meio da convivência.

Explicando melhor.

Por que é importante para a humanidade preservar nesta crise os núcleos de vida e convivência social? Partamos do que dizia Maturana: um sistema que não preserva a vida de seus componentes não é um sistema social.

1 – Um módulo social de sobrevivência não pode ser apenas individual ou familiar. Não é para isolar do mundo um núcleo monogâmico que privatize capital social: a energia endógena desse núcleo é, na maior parte dos casos, insuficiente para garantir a sobrevivência de seus membros.

2 – Ele deve ser configurado em rede distribuída, conformando um espaço comum que preserve um mínimo de convivência (mesmo que virtual) criativa. E deve estar aberto à interação de outras pessoas: se “água nova” não estiver permanentemente entrando, teremos menos fluxo e menos fluxo é menos “convida”, não um rio sempre a correr e sim lagoas ou represas onde a água estagnada pode apodrecer.

3 – Ele deve estar muito conectado por dentro e para fora, do contrário se isolará e não ficará a par das notícias, das orientações sanitárias, dos programas de apoio governamentais ou não, e das inovações que estão surgindo para enfrentar a crise (inclusive as econômicas, de subsistência e mercantis).

4 – Os itens absolutamente indispensáveis à sobrevivência (stricto sensu) neste período (de pandemia) são:

    • Ar
    • Água potável (e corrente)
    • Teto (e, no caso da presença de pessoas pertencentes a grupos de maior risco, cômodo separado com banheiro)
    • Comida
    • Remédios (e acesso à médicos e hospitais, se necessário)
    • Energia para cozinhar, aquecer água etc.
    • Sabão (ou detergente)
    • Álcool gel
    • Água Sanitária

5 – Os itens necessários indispensáveis à manutenção da convivência são:

    • Uma rede de pessoas sintônicas, simpáticas e sinérgicas
    • Conexão à internet
    • Smartphone e/ou computador
    • Energia elétrica

6 – Podemos ter vários tipos de módulos sociais de sobrevivência. Por exemplo, onde há terra para colher, caçar ou plantar (com água disponível) e onde não há; em uma rede em que existem pessoas com conhecimentos técnicos (para identificar comestíveis, para plantar etc.) ou não; em uma rede em que existem pessoas com algum dinheiro (ou outros recursos) para contribuir para um fundo comum ou não; em uma rede onde existam mais jovens do que idosos (e idosos com comorbidades) ou não. A ajuda governamental não basta e nem todos podem ter acesso a ela. É necessária a ajuda-mútua (social).

7 – Cabe agora desenvolver esses pontos, listando as experiências de sobrevivência e convivência que estão acontecendo no mundo. É o que alguns grupos estão fazendo, em várias partes do mundo.

Comunidades interativas são mais inteligentes do que populações desconectadas conduzidas por um poder central (por mais sábio e dedicado ao bem-comum que seja ou pretenda ser). E são mais capazes de conservar sua adaptação, quer dizer, de mudar tempestivamente com a mudança das circunstâncias; em outras palavras, são mais sustentáveis.

Em que mundos queremos viver?

Uma visão “ecosófica” da pandemia