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Nada de esperar por um líder salvador

Os democratas já podemos nos preparar para uma anti-campanha em 2018. Como não há nenhum “candidato dos sonhos” (e se houvesse, não seria necessariamente bom) no horizonte, o fundamental é não eleger:

1) ninguém do PT ou apoiado pelo PT,

2) Marina Silva (que quer criar o PTdoB se apossando do espólio do PT), a menos que ela seja a única alternativa para barrar a vitória de alguém do PT ou apoiado pelo PT (o que será o pior cenário do universo: um segundo turno PT x Falsa Rede); e, finalmente,

3) os loucos que se dizem direitistas: intervencionistas autocráticos como Bolsonaro ou algum “Trump” brasileiro oportunista, que ainda poderá aparecer (não duvidem: a ocasião produz “maravilhas”).

Afastados esses perigos, o que vier será mais do mesmo. Mais do mesmo, porém, é infinitamente menos pior, para a democracia, do que a eleição de algum dos mencionados nos três itens acima.

Se um corrupto tradicional for a alternativa a um salvador da pátria, a democracia não hesita em ficar com o primeiro.

Se tiver de escolher entre Péricles (que desviou dinheiro público da construção do Partenon, casou com uma puta estrangeira e nomeou um filho para um cargo governamental) e Leônidas (um autocrata espartano, honestíssimo, verdadeiro varão de Plutarco), a democracia ficará (como ficou) com o primeiro.

Enquanto não entendermos isso não entenderemos a política democrática: que não, não é uma utopia; que não, não é reta, justa e perfeita; que não, não é limpa nem quer limpar o mundo dos maus – mas quer apenas garantir que não vivamos sob o jugo de um senhor. Leiam Ésquilo (472 AEC), em Os Persas.

Na verdade, a sociedade será tanto mais democrática quanto menos ficar esperando que um líder, alçado à condição de chefe do Estado, resolva os seus problemas a partir do alto.

Mesmo assim – eis a questão – a continuidade e o fortalecimento da democracia exige que esperemos por 2018. Não esperar que sejamos salvos por um condutor virtuoso. Mas esperar pelo processo democrático e interagir nele, bottom up.

Não há solução boa para a democracia antes de 2018. Por que? Porque antes de 2018 não poderemos escolher nenhum candidato (nem aquele de nossos sonhos – se é que existe algum à esta altura – nem qualquer outro). E simplesmente porque – haja o que houver, salvo a violação da Constituição – a eleição será indireta. E quem votará será a mesma base do governo Temer no Congresso (que era, majoritariamente, a base do PT: os fisiológicos, o centrão, os bandidos comuns que praticam a corrupção para se dar bem na vida e os bandidos políticos que queriam fazer a revolução pela corrupção).

Então é um erro brutal, do ponto de vista da democracia, tentar desestabilizar o governo Temer. Isso só interessa aos autocratas da esquerda ou da direita, aos bandidos e aos que querem faturar ou se destacar eleitoralmente com a confusão.

Na verdade, só falta um ano útil para as próximas eleições, pois 2018 já será inteiramente tomado pela disputa eleitoral. A turma que resolveu inventar o cinema mudo, tira mil propostas da cartola: antecipação das eleições, atribuição de poderes constituintes ao atual congresso (valha-nos deusa Peitho), convocação de uma nova assembléia nacional constituinte, intervenção militar (salvai-nos Zeus Agoraios). E querem fazer tudo isso em um ano (e que se dane a tal “participação democrática”)?

Se eles sabem que nada disso é factível, por que continuam insistindo? Ora, para desestabilizar o governo. Alguns imaginando que vão criar tal confusão que conseguirão escapar da cadeia. Outros imaginando que vão se cacifar para 2018. E têm também os especuladores, que esperam ter algum lucro na bagunça que virá. Para não falar dos mais irritantes:

Os que mais irritam a democracia não são nem os bandidos comuns (que roubam para se dar bem na vida), nem os bandidos políticos (que queriam fazer a revolução pela corrupção e hoje querem apenas escapar da cadeia), mas os tolos honestos que, de repente, viraram ultra-moralistas e dizem não se conformar com tantos bandidos na política (mas que se conformaram docemente, sem dar um pio, durante uma década: sim, pois os corruptos que hoje não lhes descem pela goela são os mesmos que já estavam aí sustentando o governo anterior).

Além de analfabetos democráticos, são, todos, irresponsáveis, na medida em que insistem nessas propostas insanas sem se importar com as consequências.

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