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Não há eleição no Brasil em abril de 2022

O que muita gente de índole democrática e bem intencionada não está vendo – por falta experiência política – é que não há eleição em abril de 2022, só em outubro.

Os democratas, não somos propriamente idiotas. Se precisarmos, aos 45 minutos do segundo tempo, votar em qualquer um para evitar a reeleição de Bolsonaro – se isso realmente estiver em jogo (se a disputa estiver praticamente empatada, tipo Macron x Le Pen) – vá-lá.

Mas no Brasil de abril de 2022 não estamos nos 45 minutos do segundo tempo e o jogo está longe de estar empatado.

Esse tipo de discurso de evitar o “mal maior” agora (em abril, não em outubro) é uma bobagem. Significa, na prática, desistir prematuramente de qualquer alternativa menos i-liberal do que as duas que estão polarizando o cenário pré-eleitoral em abril de 2022.

Significa esquecer que a eleição tem dois turnos. No primeiro turno escolhíamos o candidato de nossa preferência. No segundo turno o candidato menos dessintonizado com nossa preferência. Mas ao que parece acabaram com a eleição em dois turnos no Brasil. Agora temos que abrir mão da nossa preferência 6 meses antes das eleições?

Ora, se for possível a um adversário de Bolsonaro, com chances de derrotá-lo, liquidar a fatura no primeiro turno, então é sinal de que a disputa não está assim tão empatada.

Significa dizer que só se lança candidaturas para ganhar, esquecendo o papel das campanhas eleitorais numa democracia. Sim, as eleições são importantes numa democracia pela interação política que ensejam, não apenas pelo resultado final.

Do contrário nem precisariamos de processo eleitoral. Bastaria contratar um instituto de pesquisa de opinião, ou até mesmo o IBGE e ir recolhendo censitariamente, de casa em casa, a preferência de cada um individualmente e depois somar.

Dar a polarização atual como definitiva significa assumir que a defesa da democracia liberal por parte de uma candidatura não-populista é desnecessária; ou seja, que ela não pode cumprir nenhum papel no nosso processo democrático.

Significa dizer que temos que nos conformar com uma polarização entre dois populismos, abrindo mão de defender uma alternativa não-populista, nem que seja para não deixar morrer aquilo que Larry Diamond chamou de “espírito da democracia”.

Ora, a democracia brasileira precisa de um (ou mais de um ou uma) candidato (ou candidata) não-populista. Mesmo que não tenha chances de ganhar agora. Por quê?

Porque a democracia como valor universal precisa ser defendida por alguém, ainda que para o futuro.

Porque não podemos deixar que a semente da liberdade como sentido da política seja exterminada.

Porque resistimos a ser aprisionados num tenebroso campo iliberal.

Porque não devemos nos render àqueles que defendem suas ditaduras de estimação (digam-se de esquerda ou de direita).

Porque não estamos dispostos a transigir com a volta da guerra fria e da antipolítica do “nós” contra “eles”.

É preciso um grau significativo de inexperiência política e de incompreensão da democracia para pedir que os democratas liberais se suicidem.

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