Se alguém fizer uma pesquisa no universo dos fanáticos de Olavo de Carvalho, encontrará:
a) um número significativo de jovens de classe média (média e baixa), entre 20 e 35 anos,
b) gente que, por algum motivo, teve poucas oportunidades de experimentar o debate democrático, nunca exerceu a política anteriormente (e que não deve ter participado nem mesmo de movimentos estudantis),
c) pessoas, em número também significativo, de formação familiar religiosa, filhos de pais católicos autoritários (e com passagem por escolas católicas),
d) uma quantidade ponderável de pessoas que cultuam a autoridade e a força (alguns inclusive fazendo carreira policial), admiram as armas e o emprego da violência “justa”,
e) um número não desprezível de indivíduos com pouco trato intelectual e possuídos por algum tipo de moralismo (de quem quer limpar o mundo, purificar a sociedade, separar os bons dos maus),
f) uma quantidade não irrelevante de homofóbicos e machistas (extremamente preocupados em afirmar a própria masculinidade).
Essas características tornam esse público presas fáceis daquele que o Reinaldo Azevedo chamou, com alguma razão, de “Vampiro da Virgínia”.
Como não tiveram a experiência do contraditório, essas pessoas assimilam acriticamente tudo que lhe ensinaram, não em virtude de uma análise racional das matérias letivas e sim por reverência à autoridade professoral que lhes acolheu num tipo de seita e os transformou em receptáculos diletos de uma suposta sabedoria que julgam universal, eterna, insuperável: daí o mantra “Olavo tem razão”.
Ora, isso parece ser mesmo uma espécie de “pedofilia ideológica”, como definiu Paulo Mendes, muito melhor do que eu faria, no mural do Mario Salimon no Facebook:
“Olavo de Carvalho é um pedófilo ideológico”.
Um estudo etnográfico dos clusters que aglomeram o aluno-seguidor médio dos cursos do Olavo de Carvalho revelará muita coisa sobre esse público jovem e inexperiente que foi capturado para ser vampirizado pelo velho narcisista que precisa se alimentar de legiões de seguidores, talvez para compensar a falta de importância com que é tratado pela academia. A academia, no caso, está errada, mas ele, Olavo, não deveria se importar com isso não fosse tão platônico: uma mente acadêmica rejeitada pela academia sofre de uma espécie de síndrome de abandono e, por conseguinte, passa a adotar um comportamento irascível, adversarial e belicoso, detratando todos que não lhe prestam reverência ou algum tipo de vassalagem intelectual.
Nas conversações (na verdade, altercações) em que os fanáticos olavistas se envolvem sempre encontraremos, para além dos xingamentos (envolvendo via-de-regra conotação sexual, posto que o sexo é o “nervo exposto” dos autocratas religiosos como Olavo de Carvalho), julgamentos do tipo:
“Quem é você para criticar o professor Olavo?”
“Você tem que se esforçar muito para chegar a ser 5% do que é Olavo”
“Você não consegue ser superior intelectualmente ao Olavo”
“Olavo é capaz de destruir você em 5 minutos de debate”.
É impossível deixar de ver que isso – achar que as pessoas têm ser superiores intelectualmente, têm que sobrepor, quando não destruir, as outras – revela um tipo de mentalidade hierárquico-autocrática.
Um estudo etnográfico dessa base de sequazes de Olavo de Carvalho é necessário e talvez possa ser feito até mesmo no Facebook (começando pelos cerca de 100 grupos listados aqui), por meio de um contato mais prolongado do pesquisador com a cultura desses grupos olavistas para descobrir como eles organizam seu sistema de significados e significantes culturais.
Tal esforço pode ser muito útil (juntamente com estudos análogos com os bolsonaristas, os monarquistas tipo tefepistas, os nacionalistas militaristas e os antiglobalistas ou localistas conservadores não-cosmopolitas) para decifrar o fenômeno do crescimento da chamada nova direita após uma década de governo do PT. E pode fornecer alertas importantes para os possíveis perigos que a democracia brasileira enfrentará daqui para frente.
Ainda que o aiatolavorianismo – a seita dos fanáticos seguidores do aiatolá Olavo de Carvalho, uma espécie de bolivarianismo com o sinal trocado – venha desmoralizando rapidamente as iniciativas mais sérias, tão sinceras quanto ingênuas, de constituir uma direita para combater a esquerda.


