Tem uma galera que ainda fica falando dos Illuminati, um suposto grupo secreto que teria como objetivo dominar o mundo através da fundação de uma Nova Ordem Mundial.
Curioso que, segundo esses insanos, as ditaduras – e os ditadores, como Putin – não fariam parte dessa articulação em prol da tal nova ordem mundial.
Não consigo deixar de estabelecer um paralelo com os Protocolos dos Sábios de Sião, aquele falso documento que saiu no século 19 denunciando um suposto plano dos judeus e maçons para dominar o mundo. Depois descobriu-se que tudo não passava de uma fraude, urdida pela polícia secreta do Czar (a Okhrana) em 1897.
Parece haver uma cultura autocrática, extremamente resiliente, que se replica há mais de um século nas comunidades de informação, inteligência, segurança e defesa na Rússia. A Okhrana foi substituída, depois da Revolução de Outubro de 1917, pela Tcheka, de Lenin; em 1922 seu nome foi mudado para GPU; em 1923 para OGPU; em 1934 converte-se em GUGB; em 1941 em NKGB; em 1946 em MGB; em 1953 em MVD; em 1954 em KGB (que recrutou Putin) e, depois da queda da União Soviética, em 1991, virou FSB (que teve Putin como seu dirigente máximo, pelo menos ostensivo, de julho de 1998 a agosto de 1999). Por trás de tantas mudanças de nome, preservou-se, entretanto, uma cultura (e o mais engraçado é que eles não se deram o trabalho nem de trocar de prédio: vejam a foto abaixo).
Qual é essa cultura que se replica? Arrisco dizer que é a cultura da ordem pré-estabelecida top down, antes da interação e, portanto, autocrática (quer dizer, a cultura da guerra); ou a cultura patriarcal da não-aceitação da liberdade; ou, ainda, a cultura da inconformidade com o acaso (tudo tem que ser planejado para acontecer conforme o script, o que exige articulação e… inevitavelmente, conspiração, posto que só alguns podem saber, conhecer o plano e dirigir a sua implementação). Trata-se, é óbvio, de um programa antidemocrático, que foi em grande parte responsável pela guerra fria e pela divisão do mundo em blocos em permanente confronto (1945-1991), programa que continua a ser rodado pela FSB após a ascensão de Putin em 1999. Sim, estamos tratando do mesmo coronel KGB-FSB Vladimir Vladimirovitch Putin, o atual presidente da Rússia que tenta reeditar a guerra fria.
Essa cultura foi herdada diretamente de organizações míticas, sacerdotais, hierárquicas e autocráticas da Tradição espiritualista (do chamado ocultismo: onde se reuniram legiões de desenvolvedores da Matrix), mas suas raízes são bem mais antigas e remontam ao patriarcado no seu estado puro (ou que se quer puro: e isso já é um indicador de perversão da humanidade), no modo de vida que surgiu e se conservou em hordas de predadores e senhores a partir do quinto milênio (quem sabe nas margens setentrionais do Mar Cáspio ou nas cidades-Templo sumerianas).
Mas por que as pessoas continuam acreditando nessas coisas? Umberto Eco (2006) deu uma resposta mais ou menos precisa, falando dos Protocolos dos Sábios de Sião: “Não são os Protocolos que geram antissemitismo: é a profunda necessidade das pessoas de isolarem um inimigo, que as leva a acreditar nos Protocolos”. Ora, a operação de criar (separar e isolar) inimigos é, precisamente, a função (ou a sub-rotina do programa autocrático) que chamamos de guerra (em quaisquer de suas formas: quente, fria ou praticada como política na fórmule-inverse Clausewitz-Lenin: como continuação da guerra por outros meios). Isso, entretanto, ao contrário do que pensava Eco, não decorre de uma necessidade das pessoas, mas é uma consequência do modo como as pessoas se organizam (segundo padrões hierárquicos regulados por dinâmicas autocráticas).
E agora, por que as pessoas acreditam nessa narrativa de uma mega-conspiração dos Illuminati para instaurar uma Nova Ordem Mundial? Ora, pelos mesmos motivos que acreditaram nos Protocolos dos Sábios de Sião. Estruturalmente as narrativas são semelhantes (não se sabe ao certo, mas não é despropositado supor que tenham saído do mesmo lugar). Mentes autoritárias não suportam ficar ao léu, sem uma ordem para lhes proteger ou para enfrentar (na verdade é a mesma coisa, na medida em que esse tipo de ordem é sempre uma ordem da guerra: sim, estamos falando de uma cultura templária). É por isso que é sempre tão aplaudido o dito autoritário de que “nada acontece por acaso”.
E tudo isso explica por que, nas narrativas dessas mentalidades autoritárias, as cerca de 60 ditaduras que ainda remanescem no século 21 (como a de Putin) não façam parte da grande conspiração do mal: só as democracias.
Sim, as teorias conspiratórias, via de regra, têm caráter autocrático. Não é por acaso que elas surjam, em parte, em clusters hierárquicos dos setores estatais de informação, segurança e defesa, tradicionalmente identificados com um pensamento de direita. O mais espantoso é que, de outra parte, elas surgem de meios intelectuais que se reivindicam de esquerda.
SOROS: O NOVO PALPATINE
Como exemplo do primeiro caso, temos a recentemente divulgada conspiração mundial de George Soros, suposto financiador da grande mídia internacional e americana alinhada à candidatura globalista de Hillary Clinton, contra a candidatura do patriota Donald Trump.
Vejam, no primeiro caso (da chamada direita), como se estrutura a narrativa fantasiosa, tomando como exemplo um post do Facebook:
“American Mortadelas
Financiada pelo esquerdopata George Soros, a esquerda norte americana imita o procedimento padrão de seus parceiros sul americanos nos protestos anti Trump.
A grande imprensa mundial, desolada com a derrota de sua candidata, Hillary, acha engraçadinho, as always.
Vai ficando cada vez mais claro, para o mundo, quais eram as forças que se opunham ao agora presidente Donald Trump.
A macaquice made in USA vai além: além de copiar a baixaria e a ausência de conteúdo, replica também a falta de inteligência: como os companheiros, vão dando tiros no próprio pé.
Massa de manobra de um maluco interessado em instaurar o caos, George Soros, vão desfilando e mostrando ao mundo a única coisa que sabem fazer: criar conflito.
Governar, jamais. Sabem que não tem competência pra isso.
Serve, talvez, para mostrar a todos aqueles que odeiam a esquerda mas, em todo o mundo, apoiam incompreensivelmente Hillary Clinton, manipulados pela grande imprensa.
Será que neste movie, people, realmente o vilão é Donald Trump?
We will see”.
O mais incrível é que essa narrativa é padrão. Está sendo replicada, praticamente da mesma forma, pelos que se opuseram corretamente ao PT, mas agora se comportam exatamente como o PT se comportava. Criando e replicando uma narrativa falsa. E inventando uma espécie de conspiração que estaria sendo urdida por George Soros.
O post acima termina com um link de um site pirado, chamado Amigo de Israel, onde se encontra, entre outros, o seguinte artigo conspiratório sem pé nem cabeça (em marrom, para não confundir com o texto):
Esquerdopata Soros financia os protestos anti-Trump
Oliveira da Figueira, Amigo de Israel, Segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Donald Trump prometeu e cumpre: ainda não tomou posse já está a empregar mais pessoas – e por salários mais altos!
Hoje voltamos a falar-vos de George Soros – Bilionário e Esquerdopata
“Quantos americanos sabem quem é George Soros? Um homem pérfido que entregou centenas de judeus aos nazis para serem exterminados, na Segunda Guerra Mundial. Ele financia grupos que são responsáveis pela queda das nossas cidades”. Jon Voight, norte-americano e judeu.
George Soros, o demagogo esquerdista mais destrutivo do país e um dos homens mais ricos do mundo, está a usar os seus biliões para impor uma agenda radical aos Estados Unidos. O esquerdopata, anti-semita, inimigo dos Estados Unidos, de Israel e do Mundo Livre em geral, tentou sabotar estas eleições – falaremos disso em post específico.
Stefan Molyneux – uma das mentes mais brilhantes e dos homens mais corajosos do nosso tempo – apresentou PROVAS do financiamento de Soros aos “protestos pacíficos”.
Soros doa biliões para causas radicais de esquerda, incluindo o Black Lives Matter, as eleições de Barack Obama / Hillary Clinton, a eliminação da soberania americana, o extremismo ambiental, a manipulação monetária em vários países, os defensores de alienígenas ilegais como os La Raza, activistas pró-muçulmanos tais como os Southern Poverty Law Center, e sites de extrema esquerda, incluindo MoveOn.org, Media Matters e Center for American Progress.
Soros foi o principal financiador da Primavera Árabe.
Mais recentemente, Soros prometeu 500 milhões de dólares para acelerar a invasão da Europa e da América com milhões de invasores muçulmanos, estupradores e potenciais jihadistas.
QUANDO A LIBERDADE POLÍTICA DOS CIDADÃOS É AMEAÇADA PELOS CHAMADOS “PACÍFICOS PROTESTATÁRIOS”, JÁ NÃO SE TRATA DE PROTESTOS, TRATA-SE DE TERRORISMO DOMÉSTICO.
Depois de assumir o cargo, Donald Trump deve cancelar a cidadania americana de George Soros e deportá-lo para onde ele nasceu – Hungria – onde será entregue aos Russos, que ofereceram uma grande recompensa financeira pela sua captura – morto ou vivo.
Post redigido com dados do completíssimo site BARE NAKED ISLAM
[…] Sem mais comentários.
A CONSPIRAÇÃO PARA TOMAR O NOSSO PRÉ-SAL
E como exemplo do segundo caso temos a narrativa fantasiosa do filme Snowden de Oliver Stone, segundo a qual, de acordo com outro post do Facebook,
“o objetivo da Lava Jato não era tirar a esquerda do poder, mas derrubar o projeto dos BRICS de criar uma moeda paralela ao dólar e quebrar o emergente capitalismo brasileiro. Segundo o filme a missão foi cumprida. As empreiteiras brasileiras não ganham mais obras das empreiteiras americanas mundo afora, a autonomia do petróleo foi corrompida e o Brasil perde essa mania de exportar avião. Com a economia e as instituições em frangalhos, o país já não é ameaça econômica ao Tio Sam”.
Esse tipo de narrativa também é replicada ad nauseam por militantes de esquerda nas mídias sociais.
A necessidade de criar um inimigo universal, uma espécie de Emmanuel Goldstein do romance distópico 1984 de George Orwell (1949) – seja George Soros, transformado em imperador Palpatine, seja Hillary Clinton e Bill, convertidos de uma hora para outra em gênios do mal financiados pelos xeiques sauditas do petróleo (e por Soros), seja o próprio Tio Sam e a CIA, que estariam por trás do judiciário conservador brasileiro que persegue Lula para tomar o nosso pré-sal – é um dos principais indicadores de autocracia (presente tanto à esquerda, quanto à direita).
Mas há isomorfismos em todas essas narrativas conspiratórias. Examinando-as com lupa percebe-se a mesma assinatura do campo presente nos Protocolos dos Sábios de Sião. Não é necessário, porém, lançar mão de outra teoria conspiratória para desvendar as teorias conspiratórias examinadas aqui, atribuídas à direita ou à esquerda, revelando um elo que seria óbvio em todas elas: o coronel KGB Vladimir Putin. Não! É um padrão que se replica. É uma cultura que se reproduz. A cultura mítica, sacerdotal, hierárquica e autocrática da tradição patriarcal, que não suporta a democracia.
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