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O fim melancólico do PSDB

O PSDB se revela e o que surge é o que sempre foi. Uma frente de personalidades que concorrem à eleições como quem faz um concurso para conseguir um emprego público.

Fernando Henrique foi um ponto fora da curva: foi ele que ganhou duas eleições presidenciais, não o PSDB.

Tendo pouca intimidade com a inteligência democrática, os tucanos, em geral, nunca perceberam que o PT lhes fez de escada e pediu seu socorro em momentos críticos (como em 2005) para depois apunhala-los pela costas definindo-os como neoliberais e inimigos principais do povo.

Nunca chegaram a compreender por que o populismo latino-americano de esquerda do século 21 é um adversário da democracia liberal.

Agora, num gesto ridículo “contra o fascismo”, velhos caciques tucanos fazem de conta que a eleição não tem dois turnos e resolvem apoiar Lula já no primeiro turno, mesmo tendo candidato (bom ou ruim, não vem ao caso aqui), escolhido em prévias.

Aloysio Nunes, por exemplo, disse anteontem ao Estadão:

“O segundo turno já começou e eu não só voto no Lula como vou fazer campanha para ele no primeiro turno… Não existe essa terceira via; só existem duas: a da democracia e do fascismo. Se quisermos salvar o Brasil da tragédia de Bolsonaro, teremos de discutir o que vamos fazer juntos”.

Tal declaração seria um escândalo em qualquer agremiação política séria. Se ele tivesse dito: ‘num segundo turno disputado entre Lula e Bolsonaro, votarei em Lula para impedir a vitória de Bolsonaro’, seria aceitável. Mas, não. Ele quer se render antes da partida começar com base num argumento falso. E quer arrastar outros tucanos-raiz, como José Aníbal, Arthur Virgílio e até Fernando Henrique, para aderir à campanha de Lula como se a eleição tivesse de ser decidida no primeiro turno.

Sim, um argumento falso. Essa conversa petista de abolir na prática a eleição em dois turnos não se sustenta. Se Bolsonaro quiser – e puder (o que é pra lá de duvidoso, pois lhe falta força político-militar para tanto) – dar um golpe, não reconhecendo o resultado das urnas e conclamando sua facção a reagir, ele pode fazer isso mesmo que Lula vença no primeiro turno. O verdadeiro objetivo da manobra é impedir que uma força democrática, não-populista, cresça e apareça. Essa força poderia até ser composta pelo PSDB, se o partido existisse para além das personalidades que o usam.

Os tucanos fazem, mais uma vez, o jogo de Lula, a quem sempre consideraram da família (tipo assim um primo rebelde, para ser admirado in pectore, à distância).

Isso é a falência de qualquer partido que se queira nomear como tal.

Isso é a falência de qualquer social-democracia (que, na versão brasileira, sempre foi mais uma estatal-democracia – pois o que importava mesmo era o emprego público).

Isso e a falência de qualquer movimento que tenha como referência o liberalismo político. Ou será que o PSDB nunca teve tal referência? Ou será que sempre confundiu liberalismo político com liberalismo econômico (ou neoliberalismo)?

Ou será que a criação do PSDB foi apenas um álibi para não entrar num partido de macacão (porque não pegava bem a intelectuais que se achavam tão refinados se misturarem com aquela turba iletrada dos primórdios sindicais), quando o que queria de fato, mas não tinha coragem para assumir, era ser de “esquerda pra valer”?

Teria sido mil vezes melhor que o PSDB tivesse se dissolvido por decisão pactuada de suas direções, diante da evidência de que sua proposta esgotou-se. Deveria, quem sabe, ter feito um spin off, compondo-se com outros setores políticos para inaugurar uma nova formação política democrática liberal no Brasil do século 21, antes de se liquefazer e apodrecer em praça pública.

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