Alguns colunistas políticos tentam esconder o óbvio. O governo Bolsonaro é um governo de ocupação. Há uma ocupação do governo (por militares, inclusive) para combater os comunistas-corruptos (ou corruptos-comunistas: na narrativa olavista-bolsonarista é tudo a mesma coisa). É claro que essa justificativa não resiste à mínima verificação prática. Quais os cargos públicos que esses comunistas detêm depois do impeachment?
Uma parte desses colunistas viciados em wishful thinking também não acreditava, nos idos de 2003 e 2004, que o governo Lula tinha um projeto criminoso de poder. Estavam eufóricos com o grande líder e os que tínhamos coragem de denunciar que o lulopetismo estava criando uma espécie de Estado paralelo, financiado com recursos ilícitos, éramos meia dúzia (se tanto). Façam uma pesquisa nos grandes jornais da época.
Examinemos um simples indicador. O excesso de militares no governo.
SOBRE O EXCESSO DE MILITARES NO GOVERNO
Critiquei ontem, no meu Facebook, o excesso de militares no governo. Uma pessoa então me interpelou:
“Que preconceito é esse com militares da reserva?”
Respondi:
Nenhum. Não tenho um preconceito. Tenho um conceito. O papel dos militares na política, em democracias, aqui como em qualquer país democrático do mundo, é muito simples: nenhum.
A pessoa replicou:
“Ah! Mas eles estão na reserva”.
Retruquei:
Então deixaram de ser militares? E por que continuam sendo chamados de generais, se sentindo como generais, falando como generais? Passar para a reserva muda de repente a mentalidade e o comportamento de alguém?
CONTAGEM
Vamos fazer uma contagem (provisória):
General Hamilton Mourão, vice-presidente que também assumirá funções de comando-e-controle e monitoramento das ações de governo (tipo assim um meta-ministro):
General Augusto Heleno, ministro da segurança institucional:
General Fernando Azevedo e Silva, ministro da defesa:
General Carlos Alberto Santos Cruz, ministro da secretaria de governo:
Tenente-coronel Marcos Pontes, ministro da ciência e tecnologia (este é o único oficial – da Aeronáutica – que não foi escolhido para ministro por ser militar): sem foto aqui.
General Joaquim Maia Brandão Junior, cotado para ministro da infraestrutura:
Compõem ainda o núcleo técnico que formula diretrizes para o governo:
General Aléssio Ribeiro Souto:
General Oswaldo Ferreira:
Assessores e conselheiros militares de Bolsonaro (alguns informais, outros que até se candidataram a cargos eletivos):
General Sebastião Roberto Peternelli:
General Paulo Chagas:
General Girão Monteiro:
General Mário Araújo:
General Marco Felício:
General Rômulo Bini:
Agora me digam. Em qual democracia do mundo encontramos tantos generais no governo (ou diretamente e ideologicamente ligados ao chefe de governo)?
Podem procurar. Não vão achar.
Façam um levantamento das opiniões, antigas e recentes, desses generais. A maioria justifica a ditadura militar, admira (ou defende) – como fez o próprio capitão Jair Bolsonaro – o coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Os que viveram (ou vivessem) na época não apoiaram (ou apoiariam) a distensão e a abertura promovidas pelo General Ernesto Geisel. Não. Defendiam a linha dura mesmo.
Quanto à alegação bolsonarista de que tudo isso é necessário para combater os comunistas-corruptos (ou corruptos-comunistas) que ocuparam o governo, estamos aguardando as evidências. Quem são esses perigosos comunistas?
Podem procurar. Não vão achar.
É muito duvidoso que uma parte significativa de oficiais da ativa não esteja envolvida nessa, digamos, ocupação militar do governo que, numa democracia, deve sempre ser civil.
P. S. | Depois que publiquei esse artigo, hoje bem cedo, já apareceram mais dois milicos no governo. No início desta tarde (de 27/11/2018) surgiram o general Maynard Marques de Santa Rosa, designado pela equipe de transição para comandar o PPI (Programa de Parceria de Investimentos) e, agora há pouco, o capitão Tarcísio Gomes de Freitas, que acaba de ser indicado para o Ministério da Infraestrutura. Como disse um amigo “é igual Gremlins: só jogar água que sai mais…”