Mas tem de ser dito com todas as letras
Do que precisamos é de oposição de verdade, que parta do princípio de que Bolsonaro tem de ser parado (ou obsoletado) antes de 2022. Isso significa, além de oposição, resistência. E resistência é não colaboração.
” – Ah! Mas aí estaremos indo contra o país”.
Nada disso.
O país não é o governo.
Como fazer então?
√ O Congresso assume o protagonismo das reformas (como já fez com a da Previdência e deve continuar fazendo com a Tributária e a Administrativa, além das demais reformas legais para dar continuidade e acelerar as privatizações), propõe uma agenda social e barra, sistematicamente, todas as propostas regressivas do governo (não aprova suas Medidas Provisórias autoritárias, derruba vetos presidenciais idem e retira, dos projetos de lei do Executivo ou de seus agentes e aliados, cláusulas regressivas, como já vem fazendo, por exemplo, com a ampliação do porte de armas e com a excludente de ilicitude ou licença para matar).
√ O judiciário faz a sua parte impedindo retrocessos na democracia, nos direitos humanos, no meio ambiente (invalidando decretos, portarias e outras medidas administrativas que violem as leis, como fez recentemente, por exemplo, com a nomeação do presidente da Fundação Palmares).
√ A imprensa investiga e denuncia os ataques à democracia que partam do governo e dos seus sequazes bolsonaristas (e não esquece de examinar o lixo que está sendo varrido para baixo do tapete: a Val do Açaí, as rachadinhas de Flávio Bolsonaro e seus prodigiosos negócios imobiliários, os funcionários fantasmas que pululam entre os gabinetes da família, as ligações com Queiroz e as milícias, as ameaças ao porteiro, as relações com o caso Marielle etc.).
√ A sociedade resiste por todos os meios, em todas as ocasiões e lugares, impedindo o avanço das ideias e práticas autoritárias.
Pronto.
” – Ah! Mas aí estaremos derrubando um governo democraticamente eleito”.
Nada disso.
Em primeiro lugar, nosso regime é democrático, mas o (chefe do) governo não é. Foi eleito democraticamente, mas não governa democraticamente: usa o governo para autocratizar o regime. Representa uma força política antissistema. E se não conseguiu até agora avançar mais no seu intento, foi porque não pôde, não porque não quis.
Em segundo lugar, não se trata de dar um golpe, derrubar o governo pela força e sim de neutralizar suas propostas antidemocráticas, sempre por meios pacíficos e legais.
Se Bolsonaro não renunciar e quiser continuar assim mesmo, que se torne um chefe desnecessário, obsoleto. Ou que mude de ideia e de comportamento (o que é muito improvável, mas vá-lá). Se cometer crimes de responsabilidade (e, a rigor, já cometeu vários), que sofra processo de impeachment. Tudo absolutamente dentro da lei, sem guerra.
” – Ah! Mas aí é abrir caminho para a volta de Lula e do PT”.
Nada disso.
O PT não quer parar Bolsonaro. Quer mantê-lo no poder de qualquer modo, de preferência esculhambando o país, para que Lula (ou um seu preposto) possa ressurgir em 2022 como o salvador.
A oposição e a resistência de que necessitamos é contra os populismos: seja o populismo-autoritário de extrema-direita bolsonarista, seja o neopopulismo de esquerda lulopetista. Ambos são i-liberais e majoritaristas, quer dizer, usam a democracia contra a democracia.
Para tanto, é preciso construir um centro de gravidade democrático na política que não tenha medo de fazer oposição e de resistir ao presuntivo tirano e ao bolsonarismo. E que não caia na armadilha de se aliar ao lulopetismo para, supostamente, combater um mal maior.
Em suma:
Não colaborar com o governo, não lhe conceder crédito para que ele consiga continuar e se prorrogar no poder.
E não colaborar com o lulopetismo, não lançar nenhuma tábua de salvação que lhe permita sobreviver, voltar ao poder e retomar seu propósito – interrompido pelo impeachment – de conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido para nunca mais sair do governo.


